Quando o assunto é cultura, a maioria das(os) candidatas(os) à Prefeitura de Aracaju apresentou propostas mais elaboradas para o meio musical. Ao abordar várias alternativas que visam fortalecer os músicos locais, os candidatos parecem esquecer ou desconhecer a diversidade de arte e cultura que existe no município.
Em Aracaju há uma diversidade de artistas, seja no teatro, na literatura, nas artes visuais ou segmento audiovisual, como também uma gama de agentes culturais relacionados a áreas que envolvem saberes tradicionais, como a gastronomia, as culturas afro-brasileiras e outras manifestações tradicionais, como o folclore.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), Sergipe foi o estado brasileiro que teve o maior aumento na porcentagem de trabalhadores na economia criativa em 2023, alcançando um crescimento de 28% na mão de obra do setor.
Entretanto, Sergipe e a capital não têm tratado nada bem a cultura e sua diversidade. A Mangue Jornalismo, por exemplo, já revelou que Sergipe é o 3º estado nordestino que menos investiu em cultura. O descaso com os museus é um indicativo da falta de política cultural no Estado. Em Aracaju, os problemas são graves, principalmente em relação à transparência e participação. Os graves problemas da Lei Paulo Gustavo são prova disso, a exemplo de uma das reportagens da Mangue: Governo orientou pareceristas da Lei Paulo Gustavo a ignorarem itens obrigatórios nos projetos. Edital mal escrito e má gestão afetam LPG em Sergipe.
Em quase todos os planos de governo das(os) candidatas(os) à Prefeitura de Aracaju existe uma frequência alta de propostas que visam aumentar o número de espaços culturais na cidade, e até mesmo trazer mudanças para projetos atuais, como é o caso do Forró Caju. Mas esses espaços culturais possuem destaque maior para as artes musicais, em especial o forró.
Yandra (União Brasil) promete criar a “Cidade do Forró” no Centro e na Orla de Atalaia, uma estrutura permanente que tem o intuito de se tornar um calendário anual para apresentações culturais. Ela mantém um plano que tem o maior foco em estimular os artistas a exporem as suas artes.
Luiz Roberto (PDT) mostra em seu plano que o fomento à cultura aracajuana se dará através de órgãos e projetos, seja criando ou reformulando os já existentes, sem muita novidade.
Zé Paulo (Novo) promete integrar os setores públicos e privados para fomentar a cultura, além de estimular que fazedores de cultura consigam levantar as suas próprias fontes de renda, com uma ajuda temporária do governo municipal.
A Delegada Danielle (MDB) pretende trabalhar a preservação e divulgação da cultura e criar ações para que artistas e empreendedores na economia criativa possam crescer. No entanto, não apresenta como isso será feito.
As candidatas Niully Campos (PSOL) e Emília Corrêa (PL), afirmaram que pretendem reestruturar a Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) para torná-la um agente principal no fomento da cultura.
Niully Campos diz que irá “reformular e profissionalizar a Funcaju como órgão da futura Secretaria de Cultura”. Já Emília Corrêa promete levar a Funcaju para o Centro da cidade, o papel da entidade na cultura local e desenvolver projetos culturais que farão os artistas circularem pela cidade.
Candisse Carvalho (PT) garante que vai “efetivar o sistema de cultura de Aracaju, melhorando o Plano Municipal de Cultura e aplicando as leis culturais vigentes” e que vai reformular “o Conselho Municipal de Cultura com o compromisso na democratização da composição, garantindo aos fazedores de cultura o poder real sobre as diretrizes do setor”.
A preservação da cultura em uma sociedade representa o cuidado em manter viva a história de seu povo. “É importante que os líderes políticos compreendam a importância de um museu ou de um centro cultural, de uma biblioteca, de um arquivo, para salvaguardar a memória daquela comunidade, porque a memória é esse elemento que nos ensina, através do passado, e projeta mudanças para o futuro”, afirmou a professora Ana Karina Calmon para a Mangue Jornalismo.
A Mangue Jornalismo analisou e resumiu as propostas para a cultura apresentadas nos planos de governo dos candidatos e candidatas. A íntegra dos documentos está disponível no site do TRE/SE.
CANDISSE CARVALHO (PT)
Seu plano de governo afirma que a cultura é uma ferramenta essencial para o conhecimento, a identidade, a formação pessoal e o desenvolvimento econômico das cidades. E dá destaque para a falta de valorização da cultura em Aracaju com dados de investimentos em projetos locais e órgãos municipais.
Para mudar essa situação, Candisse traz como proposta a adequação do Sistema Municipal de Cultura, o lançamento de editais culturais e a profissionalização de agentes da cultura. Em seu plano também estão incluídos projetos que visam organizar festejos juninos do município, organizar o “Carnaval da Cidade”, focado nos bairros e no apoio aos blocos, bandas, fanfarras e artistas locais, como promover festivais de música, dança, teatro, hip hop, grafite e capoeira.
Candisse mostra em seu plano algumas propostas que são direcionadas para bairros periféricos, como promover políticas públicas que financiem atividades culturais nessas regiões, com a inclusão de grupos sem personalidade jurídica. Além de incluir organizações das periferias nas decisões políticas, pois segundo a candidata “a escuta garante o exercício da cidadania”.
No âmbito da literatura, Candisse propõe a reforma das bibliotecas públicas municipais, como também o projeto “Troca e Feira de Livros e Artes Itinerante”, que tem o objetivo de ser realizada em parceria com as escolas e comunidades uma vez por mês em cada bairro.
DELEGADA DANIELLE (MDB)
Em seu plano de governo, Danielle afirma que os artistas não devem receber incentivo apenas em festas juninas, e sim o ano todo, para isso pretende criar espaços de apresentações em algumas praças da cidade.
Danielle também levanta a preocupação pela falta de incentivo para os artistas, como também o descaso com o patrimônio histórico. A candidata afirma que pretende focar na preservação e divulgação da cultura aracajuana por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
Especialmente para o Bairro Industrial, a candidata traça um plano de criação de um espaço cultural em que os artistas poderão expor as suas artes. Para que todas as ideias sejam feitas, a Delegada Danielle apresenta, em três tópicos curtos e breves, os projetos: “Centro Aju Cultural”, “Aqui Tem Cultura” e “Museu Interativo do Forró”.
EMÍLIA CORRÊA (PL)
A maioria das propostas da candidata Emília Corrêa é direcionada para o meio musical. Planos como competições musicais por meio do projeto FESTAJU, o resgate de bloquinhos carnavalescos, a criação permanente de um Arraiá na Orla de Aracaju, parecem bem mais estruturados que os projetos que olham para outras áreas culturais.
Emília Corrêa também traz propostas de fomentar atividades culturais nas escolas, como capoeira, hip hop, maracatu e samba de coco, além de implementar uma política cultural de valorização da cidade nas escolas da rede pública e particular.
Para implantar oficinas de leitura, escrita e contação de histórias, Emília diz que irá fazer parcerias com entidades públicas e privadas. Além disso, em seu plano de governo consta apenas uma proposta de lançamento de editais, que serão direcionados para a produção de filmes.
LUIZ ROBERTO (PDT)
O plano de governo do candidato Luiz Roberto traz 27 propostas para a cultura de Aracaju. As suas propostas vão de fomento a oficinas e projetos artísticos, até o levantamento de discussões sobre a cultura de grupos minoritários em diversos ambientes da cidade.
Luiz Roberto não apresenta propostas de mudanças para os projetos já existentes, apenas de mantê-los e fortalecê-los, como é o caso do Projeto Verão e a Rua do São João. O candidato diz que usará a Escola Valdice Teles para ampliar as atividades artísticas para crianças e idosos e expandir a política de audiovisual com apoio a produção e realização dentro de suas atividades.
O candidato diz que irá fazer um mapeamento das manifestações culturais do município para incluí-las em programas de incentivo. Já no item 26, Luiz Roberto afirma que implantará editais dirigidos às principais cadeias produtivas da cultura, mas não aborda quais são.
NIULLY CAMPOS (PSOL)
A candidata apresenta o seu plano com a ideia de que a arte e a cultura precisam ocupar espaços na cidade. Niully destaca a falta de apoio do poder público em artistas locais, principalmente os da periferia.
A primeira proposta de Niully Campos é de reformular e estruturar os órgãos de cultura, regulamentando orçamentos, implementando projetos de lei e até mesmo um aumento do número de editais.
As outras propostas são de levar a cultura para diversos espaços de Aracaju por meio de “barracões culturais”, no qual serão estimuladas a música, o teatro e as artes plásticas. Niully também traz uma proposta de discutir o patrimônio histórico da cidade, e atrelado a isso está a reformulação de políticas públicas voltadas para religiões de matrizes africanas, quilombos e povos indígenas.
YANDRA (União Brasil)
O projeto de maior amplitude no plano de governo de Yandra Moura é a criação da “Cidade do Forró”, cujo objetivo é estabelecer um calendário permanente de apresentações culturais, dando destaque a quadrilhas juninas e trios pé de serra, prevendo, com isso, um desenvolvimento cultural, turístico e econômico para Aracaju.
Com o Fundo Municipal de Cultura, Yandra diz que irá oferecer subsídios e financiamentos para projetos artísticos e culturais. Além disso, a candidata traz propostas para a educação e formação cultural que serão aplicadas em escolas, oficinas, e a transformação da antiga penitenciária de Aracaju em um centro cultural.
A candidata Yandra afirma que irá desenvolver roteiros turísticos que integrem atrações culturais e históricas de Aracaju. Somando a isso, Yandra traz uma proposta de criar parcerias com hotéis e agências de viagens para promover pacotes turísticos focados na cultura local. Yandra pretende levar atividades culturais para os bairros mais distantes do Centro.
ZÉ PAULO (Novo)
O plano de governo de Zé Paulo se estrutura em propostas que serão realizadas por meio de iniciativas público-privadas. Dessa forma, o candidato diz que irá privilegiar os investimentos dessas parcerias para reforçar bibliotecas, museus, galerias, arquivos e teatros. “Promover parcerias com as instituições mais enraizadas culturalmente, como são os casos das organizações religiosas, associações artísticas e grupos culturais”.
Outra proposta do candidato é o apoio financeiro a expressões culturais tradicionais por tempo determinado, visando o estímulo à criação de mecanismos de autossustentabilidade e autonomia. Zé Paulo também afirma que promoverá a instalação de Centros Culturais nos bairros de Aracaju, mas que terão estrutura simples, agradável e ampla.
Zé Paulo traz muitas propostas para o meio musical sergipano, como fomentar a criação de uma identidade musical, restabelecer os corais nas escolas e até instalar uma rádio FM Aracaju, que será dedicada aos artistas locais.
TRANSPARÊNCIA: A cobertura das eleições em 2024 está sendo realizada pelo consórcio formado pela Mangue Jornalismo, Ladata (Liga acadêmica de ciência de dados da UFS) e o Observa! (Observatório de Fake News do Centro de Excelência Atheneu Sergipense).
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