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Classificado na Lei Paulo Gustavo, Banese patrocinou eventos privados e negou recurso ao FASC. As estranhas movimentações no Banco do Estado de Sergipe

ANA PAULA ROCHA, da Mangue Jornalismo
@anapaula._.rocha

Após dois adiamentos, a Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap-SE) divulgou na última sexta-feira (12) o resultado preliminar da Lei Paulo Gustavo, também conhecida como LPG, que destina recursos federais ao setor cultural em todo o país.

Dentre os contemplados, um nome chamou muito a atenção: Banese. O Banco do Estado de Sergipe, uma das poucas instituições estaduais do tipo no Brasil, foi classificado, por meio do seu instituto, na categoria que concede recursos para reforma ou manutenção de salas de cinema.


Único proponente contemplado na categoria

Com o título “Manutenção da Sala Cândido Faria”, o projeto da instituição bancária cujo acionário majoritário é o Governo do Estado de Sergipe (91% das ações, como informado no site oficial) foi o único classificado dentre os quatro proponentes inscritos para as três vagas abertas pelo edital na categoria “2.3 Reforma de Salas de Cinema”. O valor a ser repassado é de pouco mais de R$ 204 mil.

Juntamente com o Governo do Estado de Sergipe, o Instituto Banese – parte do Grupo Banese – é um dos mantenedores do Museu da Gente Sergipana, onde está localizada a sala Cândido Faria.

Curiosamente não falta dinheiro no Banese, muito pelo contrário. O banco estadual sergipano apresentou balancetes positivos ao longo de 2023, mas contraditoriamente – apesar de ter sido classificado numa lei de incentivo à cultura – não patrocinou a edição do ano passado do Festival de Artes de São Cristóvão (FASC), ocorrida entre 01 e 03 de dezembro.

Além do banco ter sido classificado na LPG e não ter patrocinado o FASC 2023, o Banese tem concedido recursos para eventos privados.

Em resposta ao questionamento da Mangue Jornalismo sobre por que o Banese recorreu à LPG, a assessoria do banco disse que “a manutenção do Museu da Gente Sergipana não se dá exclusivamente com recursos destinados pelo Banese, mas conta com outras fontes de recursos, a exemplo de empresas patrocinadoras via Lei de Incentivo à Cultura, conforme acontece em diversos equipamentos museais e culturais no Brasil também administrados por instituições bancárias”.

A assessoria do Banese deixou claro que “não existe nenhum óbice legal que impossibilite a instituição de participar de editais”.

Banese recorreu à LPG para reforma de sala de cinema no museu (Foto Arquivo)


Patrocínio para o Pré-Caju e iPhone 15 para o Colégio Master

Para a edição de 2023 do Pré-Caju, cujo primeiro lote do camarote para os três dias de evento foi vendido a R$ 800, o Banese destinou R$ 280 mil em patrocínio. A micareta também foi patrocinada pelo GBarbosa, Devassa, Esportes da Sorte, Smirnoff, Petrox, dentre outras empresas.

Questionada pela Mangue Jornalismo sobre o porquê de ter patrocinado o Pré-Caju, mas ter negado recursos ao FASC, a assessoria de imprensa do Banese informou por e-mail que “O banco apoia eventos que cumpram as exigências estabelecidas para o fornecimento de cota de patrocínio, incluindo retornos positivos de marca e negocial […] a exemplo do aquecimento da economia e geração de emprego e renda.”

A Prefeitura de São Cristóvão estimou em 50 mil o número de pessoas no Festival de Artes, público que consome produtos dos comerciantes e artistas locais durante os três dias de evento.

A assessoria do banco do estado complementou afirmando que “O FASC 2023 não foi patrocinado pelo Banese porque, infelizmente, quando da solicitação, o orçamento para o exercício fiscal 2023 já estava comprometido, visto que o planejamento orçamentário é feito no exercício anterior, e como o banco é uma instituição que segue os ritos e exigências legais, não foi possível atender ao pleito.”

Esta última passagem foi contestada pela deputada estadual Linda Brasil (PSOL) em novembro passado. Ela destacou a movimentação do banco para patrocinar o Arraiá do Povo, ainda que em curto espaço de tempo. “Inclusive, foi alegado que os trâmites não ocorreram seguindo as recomendações de algumas legislações no que se refere às licitações públicas, porque não se teve tempo hábil. Quando o Governo quer, ele faz”, disse a parlamentar.

Já em dezembro, a deputada chamou a atenção em suas redes sociais para o sorteio de um iPhone 15 para alunos do Colégio Master com o apoio do Banese. O modelo mais barato desse smartphone custa R$ 7.299,00. Além do celular, a instituição privada de ensino, cujo sócio majoritário é Jorge Mitidieri – tio do governador Fábio Mitidieri (PSD) – premiou um aluno com um carro novo modelo Citroën C3 avaliado em quase R$ 70 mil.

Banese: movimentações estranhas (Foto Arquivo)

A assessoria do banco afirmou que “a ação realizada na instituição foi de relacionamento comercial, uma vez que a unidade educacional citada estava em tratativas com o banco para migrar a folha de pagamento dos funcionários para o Banese.” O e-mail não confirma se o Colégio Master efetivou a migração prometida.

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