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Sergipe registrou 77 casos do vírus mpox: veja os sintomas, diagnósticos, transmissão e prevenção

Governo informa que casos da mpox estão sendo monitorados. Foto: Reprodução Ministério da Saúde.

A mpox é um vírus e, segundo o Ministério da Saúde, sua transmissão para humanos pode ocorrer por pessoa, animal silvestre ou material contaminado. De janeiro de 2022 a agosto de 2024, os dados oficiais da Secretaria Estadual de Saúde de Sergipe revelam que o estado já confirmou 77 casos da mpox, sendo a grande maioria em Aracaju, com 47 pessoas infectadas, sendo grande parte dos casos registrada em 2022.

Também foram registrados casos nos municípios de São Cristóvão (10), Lagarto (5), Nossa Senhora do Socorro (2), Barra dos Coqueiros (2), Nossa Senhora das Dores (2), Estância (1), Pacatuba (1), Nossa Senhora da Glória (1), Poço Verde (1), Salgado (1), Santa Luzia do Itanhy (1) e Simão Dias (1).

No Brasil, de 2022 até a presente data já foram registrados 12.446 casos. Somente neste ano as confirmações chegam a 945, sem nenhum óbito. Em Sergipe, são apenas seis casos identificados em 2024 com o mais recente em Aracaju em 02 de abril deste ano.

No dia 14 de agosto passado, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, determinou que o aumento de casos da mpox na República Democrática do Congo e em um número crescente de países em África, constitui uma emergência de saúde pública de importância internacional. 

A Secretaria Estadual de Saúde já orientou que pessoas com sintomas compatíveis da mpox procurem uma unidade de saúde imediatamente e adotem uma série de medidas de saúde. No estado, ainda não há vacina e nem medicamentos disponíveis para a doença.

Mesmo que o Brasil apresente certa estabilidade no controle da doença, o Ministério da Saúde instalou, no dia 15 de agosto, um Centro de Operações de Emergência em Saúde para coordenar ações de resposta especificamente sobre a mpox.

“Existem evidências de que o aumento de casos zoonóticos e transmissão de humano para humano esteja associado ao declínio da imunidade populacional após a erradicação da varíola em 1980 e o fim da vacinação contra a varíola — que também protege contra a mpox”, pontua o professor Paulo Ricardo Martins-Filho, da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e chefe do Laboratório de Patologia Investigativa (LPI/UFS)

Além disso, ele destaca que o crescimento populacional, a urbanização e o aumento da mobilidade podem ter aumentado as oportunidades do vírus de se transmitir entre as pessoas. “É interessante destacar que o aumento abrupto no número de casos em todo o mundo a partir de 2022 ocorreu exatamente quando a imensa maioria dos países aboliram completamente as medidas restritivas em relação à Covid-19, inclusive em relação às viagens”, avalia.

Diante disso, a Mangue Jornalismo entrevistou especialistas para esclarecer sobre o vírus e apresentar uma série de informações importantes para evitar desinformação.

Professor Paulo Ricardo: “é preciso fortalecer os sistemas de vigilância epidemiológica”. (Foto: Reprodução)

Sintomas e características da mpox

O professor Paulo Ricardo explicou que “muitas pessoas ainda confundem a mpox, antes denominada “varíola dos macacos”, com varíola humana. Embora os vírus causadores dessas duas doenças pertençam ao mesmo gênero, as infecções apresentam comportamentos bastante distintos.

A médica dermatologista e doutoranda em Ciências da Saúde na UFS Martha Débora Lira Tenório explicou que a mpox é uma doença que pode ser transmitida de animais para humanos e de humanos para humanos, especialmente em situações de contato próximo ou através do contato com fluidos corporais.

“A doença se caracteriza por lesões na pele que começam como manchas (máculas) e evoluem para elevações (pápulas), bolhas (vesículas), lesões com pus (pústulas), e, finalmente, crostas. Esses sintomas são frequentemente acompanhados por aumento dos gânglios linfáticos, febre, dor de cabeça, dor muscular, dor de garganta e fraqueza”, explica a médica.

Como alguns desses sintomas são também de outras doenças, a mpox pode ser confundido com a varicela (catapora), o herpes-zóster (cobreiro) e o molusco contagioso. Entretanto, a médica aponta que existem algumas características que contribuem para distinguir a mpox de outras doenças.

“Na mpox, as lesões cutâneas geralmente aparecem em estágios sincrônicos, ou seja, elas estão na mesma fase de desenvolvimento ao mesmo tempo. As pústulas (bolhas) frequentemente apresentam um centro umbilicado. Além disso, as lesões podem surgir em qualquer parte do corpo, incluindo face, palmas das mãos, plantas dos pés, mas são mais comuns nos genitais e mucosas”, esclarece. Isso, por exemplo, vai se diferenciar da varicela, em que as lesões têm fases diferentes no corpo.

No caso do herpes-zóster, Martha Tenório explica que a doença provoca lesões vesiculares que geralmente ficam confinadas a uma área específica do corpo, seguindo o trajeto de um nervo, o que não se registra na mpox. “Já no molusco contagioso, as lesões são pápulas umbilicadas, mas não evoluem para vesículas ou pústulas e não formam crostas”, destaca a médica.

Segundo o Ministério da Saúde, o intervalo de tempo entre o primeiro contato com o vírus até o início dos sinais e sintomas (período de incubação) é tipicamente de três a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias. As erupções na pele geralmente começam dentro de um a três dias após o início da febre, mas às vezes podem aparecer antes da febre. Após a manifestação de sintomas como erupções na pele, o período em que as crostas desaparecem, a pessoa doente deixa de transmitir o vírus.

As lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas que secam e caem. O número de lesões em uma pessoa pode variar de algumas a milhares de lesões. As erupções tendem a se concentrar no rosto, na palma das mãos e planta dos pés, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive na boca, olhos, órgãos genitais e no ânus.

Médica Martha Tenório: mpox pode ser confundido com catapora, herpes-zóster e molusco contagioso. (Foto: Arquivo pessoal)

Como é feito o diagnóstico?

A médica dermatologista Martha Tenório explicou que o diagnóstico da doença ocorre a partir de uma avaliação clínica detalhada e a confirmação laboratorial através da detecção do DNA do vírus por PCR. “O reconhecimento das lesões cutâneas típicas, dos sinais sistêmicos, do aumento dos gânglios linfáticos e considerar o histórico de contato com pessoas infectadas são aspectos fundamentais para diferenciar a mpox de outras condições dermatológicas”, aponta.

Além disso, detectar a doença precocemente é fundamental para evitar complicações. “A identificação precoce dos casos permite isolar os pacientes, diminuindo o risco de surtos e epidemias, especialmente em comunidades vulneráveis”, disse Martha.

Em relação à notificação dos dados, a Secretaria Estadual de Saúde de Sergipe informou que essa é uma doença de notificação imediata, de até 24 horas. “Os exames devem ser colhidos pelas secretarias municipais de saúde e encaminhadas para o Laboratório Central de Saúde Pública de Sergipe (Lacen), onde são realizados os testes”, aponta a secretaria.

Também existe o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) estadual que compõem a Rede Nacional de Alerta e Resposta às Emergências em Saúde Pública, com o objetivo de detectar potenciais emergências em saúde pública. O CIEVS Sergipe funciona 24 horas por dia nos sete dias da semana para que os profissionais de saúde notifiquem os agravos de notificação imediata, como por exemplo da mpox. No site do CIEVS estão os formulários para notificação, seja pelos profissionais de saúde, serviços de saúde, laboratórios, instituições e população.

Mpox: uma doença de notificação imediata, de até 24 horas. Foto: Reprodução Ministério da Saúde.

Como é feita a prevenção e tratamento da doença

A médica Martha Tenório explica que o tratamento para mpox é voltado para o alívio de sintomas. “Para casos graves ou complicados, pode-se usar medicação antiviral. Além disso, é importante manter o paciente isolado, tratar as lesões da pele e monitorar possíveis complicações”, destaca.

No caso dos aspectos de prevenção, Martha aponta que uma boa higiene, com a lavagem frequente das mãos e uso de desinfetantes; utilizar equipamentos de proteção pessoal, como máscaras e luvas, principalmente ao lidar com pacientes. “Além disso, a vacinação é recomendada para grupos em risco, especialmente em áreas endêmicas”, recomenda.

Em relação à vacinação, o professor Paulo Ricardo explicou que existem duas vacinas liberadas para uso no Brasil: Jynneos (Estados Unidos) e Imvanex (União Europeia). Sua aplicação ocorre em um esquema de duas doses, com intervalo de quatro semanas entre elas.

Como o número de doses ainda é limitado, o público-alvo da campanha compreende: “profissionais entre 18 e 49 anos de idade que trabalham diretamente com o vírus em laboratório; indivíduos vivendo com HIV e com contagem de linfócitos T CD4 inferior a 200 células nos últimos seis meses ou mesmo para aqueles que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas com a infecção”, explica.

O professor ressaltou também que a doença não deve ser associada exclusivamente a qualquer grupo demográfico ou orientação sexual, levando à discriminação e ao estigma. “Em algumas regiões, como em Sergipe, casos de mpox foram registrados em crianças e mulheres durante o surto de 2022-2023, o que demonstra sua transmissão além de quaisquer barreiras sociais ou demográficas”, reforça.

Paulo Ricardo também defende que ocorra uma expansão da política de vacinação, incluindo profissionais do sexo, pessoas que possuam vários parceiros sexuais ou participem de sexo em grupo, ou que tiveram alguma infecção sexualmente transmissível (IST) nos últimos 12 meses.

O professor Paulo é favorável ao fortalecimento dos sistemas de vigilância epidemiológica e do processo de diagnóstico, introduzindo aprimoramentos no rastreamento de casos e no mapeamento de transmissões comunitárias.

“Essas ações devem incluir o isolamento de casos, a busca ativa por novas infecções e o monitoramento rigoroso dos contactantes. Neste contexto, a colaboração entre o Lacen/SE e o Laboratório de Patologia Investigativa da UFS desempenha um papel crucial. Essa parceria tem sido fundamental para a análise de diversas doenças infectocontagiosas que circulam em nosso estado, contribuindo não apenas para o avanço do conhecimento científico, mas também para a ampliação da nossa capacidade de resposta a surtos”, destacou.

A mpox pode ocorrer por meio do contato com

Fonte: Ministério da Saúde

Em geral, os sinais e sintomas incluem

Fonte: Ministério da Saúde

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