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Sergipe registra mais de 2 mil casos prováveis de dengue e chikungunya este ano. Aumento de ocorrências têm relação direta com mudanças climáticas

CRISTIAN GÓES, da Mangue Jornalismo
(@josecristiangoes)

Mais de 2 mil casos suspeitos neste ano (Foto Pixabay)

Não é “mi mi mi” e nem discurso vazio de ambientalista. A crise climática é realidade e não há como negar sua existência. Quem vive em Aracaju, por exemplo, sente na pele e no corpo os efeitos das altas temperaturas, a cada ano maiores.

As causas desse quadro são globais, mas também locais, como uma política de Estado e municípios que favorece ao cimento e atende a ganância imobiliária, produzindo destruição do meio ambiente, derrubando árvores, mangues, dunas, lagoas e rios.

Antes as consequências ficassem apenas no calor. As mudanças climáticas, o aumento das temperaturas e da umidade, resultados dessas políticas têm favorecido a reprodução do mosquito Aedes aegypti e, por consequência, produzido o aumento de arboviroses, como dengue e chikungunya.

Segundo o Painel de Atualização de Casos de Arboviroses do Ministério da Saúde, o Estado de Sergipe registrava até ontem, dia 18, mais de 2 mil ocorrências suspeitas de dengue e chikungunya.

Segundo os dados, são 1.892 casos de dengue, com duas mortes confirmadas e uma em investigação. Mais da metade dessas ocorrências de dengue, 986, está em Aracaju. Sobre a chikungunya, este ano já registrou 261 eventos suspeitos de, sendo um morte confirmada. Em Aracaju, já são 69 casos.

Painel de Atualização de Casos de Arboviroses do Ministério da Saúde (18/03/24 às 23 horas)
Painel de Atualização de Casos de Arboviroses do Ministério da Saúde (18/03/24 às 23 horas)

Mudanças no período das chuvas de verão

“O transmissor da dengue é um mosquito e ele precisa de características climáticas que sejam favoráveis à reprodução. O que é favorável à reprodução do mosquito é a umidade, o acúmulo de poças e a água parada”, explica Aniele Silveira, agroecóloga e assessora da Cáritas Brasileira, uma entidade ligada à Igreja Católica e que promove a Campanha “A ancestralidade nos une em defesa da Casa Comum”.

Ela explica que “as mudanças climáticas, muito por conta do aquecimento global, provocam a mudança dos períodos de chuva, aumento da temperatura e consequentemente da umidade”.

Segundo levantamento da Cáritas, neste ano, a mudança nos períodos de chuva do verão foi perceptível e por isso, houve a antecipação da época de maior incidência dos casos de dengue, que eram nos meses de março e abril.

“Por conta do aquecimento global, estamos sofrendo com a mudança do calendário das épocas de chuva de verão. Antes, as chuvas eram condensadas em uma época. Elas não eram durante todo o verão. Elas tinham um período específico, constante. Por isso, existia a reprodução dos mosquitos nessa época de março e abril, que era a época certa das chuvas”, diz a agroecóloga.

A especialista complementa: “Mas não há mais essa época certa. Durante todo o verão teve período chuvoso, entre chuva e sol, chuva e sol. E isso foi pontual para que o mosquito viesse antes, proliferasse antes e causasse esse desastre, que não é apenas ambiental, é um desastre que afeta a sociedade, principalmente o povo empobrecido, vulnerável”.

A Campanha “A ancestralidade nos une em defesa da Casa Comum” é uma ação de sensibilização da sociedade sobre os impactos das mudanças climáticas e como os Povos e Comunidades Tradicionais (PCT’s) são fundamentais no processo de preservação do meio ambiente.

Aumento de 20% em Aracaju e medidas de prevenção e controle

Números do chamado Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) da Secretaria Municipal de Aracaju revelaram que a capital registrou no segundo levantamento do ano um aumento de 20% de infestação do mosquito transmissor de dengue, chikungunya e zika.

A secretaria disse que o aumento de 1,0 para 1,2 no LIRAa já era esperado em razão de chuvas mais constantes e períodos de forte calor. Por isso, a secretaria informa que vai intensificar a visita de agentes públicos em domicílios, especialmente no Bairro 13 de Julho, local de maior número de registros. Naquela região, o índice saltou de zero no mês de janeiro para 3.2 em março.

Além da 13 de Julho, são alvos de preocupações os bairros 17 de Março, Atalaia, Olaria e Pereira Lobo.

Na lista de medidas de prevenção e controle para o problema, Aniele Silveira reforça a necessidade de ações individuais, mas chama a atenção para a urgência de medidas públicas. Para ela, é importante a limpeza do quintal, evitar o acúmulo de água parada em pratos de plantas, vasos e pneus.

“Quanto mais ações isoladas a gente tiver, maior a área de repercussão para evitar a reprodução do mosquito. Mas em escala global, são necessárias ações pensadas e articuladas no âmbito da sociedade. É mais fácil sanar a causa do que aparar o efeito”, defende agroecóloga.

Para reverter o cenário, Silveira diz que é também preciso envolver Governos e empresas. “A causa principal das mudanças climáticas está entre o desmatamento e as grandes indústrias emissoras de grandes quantidades de carbono. Eles afetam diretamente o aquecimento global e a diminuição da camada de ozônio”.

As políticas para o meio ambiente dos Governos Federal e do Estado de Sergipe, além da Prefeitura de Aracaju, não apenas de agora, são desastrosas na medida de produzem grande desmatamento para atender interesses predatórios do mercado imobiliário e do agronegócio.

 “A delimitação do crescimento do agro e as formas como se estabelece e se mantém devem ser revistas, porque a lei dos agrotóxicos, por exemplo, incentiva os agrotóxicos, incentiva a morte em massa de vários insetos, vários animais que mantém a cadeia alimentar, mantém o equilíbrio ecológico”, analisa Silveira

Para a especialista, “se a gente tem uma quantidade maior de sapos ou de moscas da fauna que é predadora do Aedes aegypti, a gente tem uma incidência menor desse vetor. Também existem medidas de saneamento básico que podem ser implementadas nos bairros onde tem uma incidência maior e aumento desses casos de dengue”, defende.


Comunidades tradicionais cuidam do meio ambiente

Uma das soluções para combater as causas e os efeitos da crise climática é apoiar quem já naturalmente cuida do meio ambiente e contribui no enfrentamento às mudanças climáticas: as comunidades tradicionais.

Território Quilombola de Brejão dos Negros/SE é espaço de resistência contra crise climática (Foco Filmes)

“As comunidades tradicionais pelo modo como vivem asseguram que as florestas, a caatinga, a mata atlântica ainda estejam de pé. Temos que fazer com que essas pessoas, que inclusive estão em situação de vulnerabilidade socioambiental, sejam reconhecidas pelo papel de importância que tem dentro do movimento de frear o aquecimento global”, conclui Silveira.

É nesse sentido que foi criada a Campanha “A ancestralidade nos une em defesa da Casa Comum”. Ela objetiva envolver toda a população na conscientização de que o modo ancestral de lidar com a natureza usado pelos pescadores, marisqueiras(os), ribeirinhos(as), quilombolas, indígenas e geraizeiros(as) preserva o meio ambiente e favorece o enfrentamento às mudanças climáticas e ao aquecimento global. Daí a importância de mantê-los nas suas terras, conservando seus modos de vida e a luta pela defesa dos seus territórios.

A campanha integra o Programa Global das Comunidades da Nossa América Latina no Brasil, Projeto desenvolvido pela Cáritas Brasileira (Regionais Nordeste 3 – Bahia e Sergipe e Norte 2 – Pará e Amapá), Cáritas Honduras e Colômbia, com o apoio da Cáritas Alemanha e Ministério Alemão para Cooperação e Desenvolvimento (BMZ). Mais informações em https://ne3.caritas.org.br/.

ATENÇÃO

Dengue é uma doença febril grave, causada por um arbovírus – vírus transmitido por picada de insetos, especialmente os mosquitos. O transmissor (vetor) da dengue é o mosquito Aedes aegypti.

Transmissão:

Após picar uma pessoa infectada com um dos quatro sorotipos do vírus, a fêmea do mosquito pode transmitir o vírus para outras pessoas. Há registro de transmissão por transfusão sanguínea.

Não há transmissão da mulher grávida para o feto, mas a infecção por dengue pode levar a mãe a abortar ou ter um parto prematuro, além do fato de que a gestante está mais suscetível a desenvolver o quadro grave da doença, que pode levar à morte.

Todas as faixas etárias são igualmente suscetíveis à doença, porém, em populações vulneráveis como crianças ou idosos com mais de 65 anos, o vírus da dengue pode interagir com doenças pré-existentes e levar ao quadro grave ou gerar maiores complicações nas condições clínicas de saúde da pessoa. O risco de gravidade e morte aumentam quando a pessoa tem alguma doença crônica, como diabetes e hipertensão, mesmo que tratadas.

A dengue é uma doença cujo período de maior transmissão coincide com o verão, devido aos fatores climáticos favoráveis à proliferação do mosquito Aedes aegypti em ambientes quentes e úmidos.

Sintomas:

A infecção por dengue pode ser assintomática, ter sintomas leves ou graves, podendo levar à morte. Normalmente, a primeira manifestação é a febre alta (39° a 40°C), de início abrupto, que geralmente dura de 2 a 7 dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, além de prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. Perda de peso, náuseas e vômitos são comuns. Em alguns casos também apresenta manchas vermelhas na pele.

– febre alta, maior que 38.5ºC;
– dores musculares intensas;
– dor ao movimentar os olhos;
– mal estar;
– falta de apetite;
– dor de cabeça;
– manchas vermelhas no corpo.

Na fase febril inicial da dengue, pode ser difícil diferenciá-la. A forma grave da doença inclui dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes e sangramento de mucosas. Ao apresentar os sintomas, é importante procurar um serviço de saúde para diagnóstico e tratamento adequados, todos oferecidos de forma integral e gratuita por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Sinais de alarme da dengue:

– dor abdominal intensa e contínua, ou dor à palpação do abdome;
– vômitos persistentes;
– acumulação de líquidos (ascites, derrame pleural, derrame pericárdico);
– sangramento de mucosa ou outra hemorragia;
– aumento progressivo do hematócrito;
– queda abrupta das plaquetas.

Tratamento:

Não existe tratamento específico para a dengue. Em caso de suspeita é fundamental procurar um profissional de saúde para o correto diagnóstico. O tratamento é feito de acordo com a avaliação do profissional de saúde, conforme cada caso, a fim de aliviar os sintomas. A assistência em saúde ao paciente inclui:

– fazer repouso;
– ingerir bastante líquido (água);
– não tomar medicamentos por conta própria;
– hidratação por via oral (ingestação de líquidos pela boca) ou por via intravenosa (com uso de soro, por exemplo);

No momento, só existe uma vacina contra dengue registrada no Brasil e ela está disponível apenas na rede privada. É usada em 3 doses no intervalo de 1 ano e, segundo instruções do fabricante, da OMS e da Anvisa, somente deve ser aplicada em pessoas que já tiveram pelo menos uma infecção por dengue.

Prevenção:

A melhor forma de prevenir a dengue é evitar a proliferação do mosquito Aedes Aegypti, eliminando água armazenada que pode se tornar possível criadouro, como em vasos de plantas, lagões de água, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafas.

Medidas simples podem ser adotadas, como substituir a água dos pratos dos vasos de planta por areia; deixar a caixa d´água tampada; cobrir os grandes reservatórios de água, como as piscinas, e remover do ambiente todo material que possa acumular água.

Roupas que minimizem a exposição da pele durante o dia – quando os mosquitos são mais ativos – proporcionam alguma proteção às picadas e podem ser uma das medidas adotadas, principalmente durante surtos. Repelentes e inseticidas também podem ser usados, seguindo as instruções do rótulo. Mosquiteiros proporcionam boa proteção para aqueles que dormem durante o dia, como bebês, pessoas acamadas e trabalhadores noturnos.

Fonte:
Ministério da Saúde

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