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Rock Sertão vibra em música e formação cultural. Oficinas, palestras e atividades lúdicas e educativas fundem arte e conhecimento no coração do semiárido

Quando se empenharam a realizar um festival de rock em pleno semiárido sergipano no ano de 2001, os idealizadores não faziam ideia que, mais de duas décadas depois, o Rock Sertão se tornaria uma verdadeira instituição cultural da região.

Para além das apresentações ao vivo, o festival hoje se constitui em um ambiente de aprendizado e troca de experiências com oficinas de formação que integram as apresentações com um público mais amplo: a comunidade de Nossa Senhora da Glória, cidade que sedia o evento.

Neste ano, as oficinas se expandiram com a introdução do Circuito Rock Sertão de Formação. A programação promete aprofundar os conhecimentos dos participantes em várias áreas da cultura. Da instrumentação à produção musical, passando por outras artes além da música, os workshops são desenhados para inspirar tanto novatos quanto veteranos.

O circuito incluirá uma série de palestras, oficinas e atividades lúdicas e educativas, todas oferecidas gratuitamente. Nessa primeira etapa do circuito, os eventos ocorrerão entre os dias 15 a 18 de maio. (Confira no final desta reportagem a programação completa com os horários e locais de cada atividade.)

Múltiplas linguagens e diversidade de públicos

Com grandes expectativas, os organizadores do evento esperam que a edição de 2024 seja mais um marco importante na trajetória do festival, que celebra duas décadas de resistência e aprendizado. O destaque está justamente no reforço dessa etapa formativa que antecede os shows do segundo semestre.

É o que diz Kleberson Souza – mais conhecido na cena local como Binho –, coordenador geral do Circuito Rock Sertão de Formação. Ele conta que, com o apoio contínuo de comerciantes locais e do poder público municipal, que sempre ofereceu suporte logístico e estrutural, o festival conseguiu seguir e expandir suas atividades

“Além dos shows, temos oficinas, workshops e apresentações de teatro, cinema e circo que enriquecem a oferta cultural e formativa para os jovens de Glória, que antes precisavam viajar até Aracaju para acessar essas experiências”, avalia.

Audiovisual, Artes Plásticas e Teatro na escola: diversidade de linguagens é marca das oficinas (Fotos: Romário Andrade e Marcolino Joe)

Binho avalia que essas atividades dão acesso a conhecimentos que podem contribuir tanto para a cultura local, quanto para que haja o reconhecimento do sertanejo, da juventude de Glória e do sertão.

“As oficinas trazem uma organicidade que vai muito além do público que gosta das bandas ou do público curioso de ir pra uma festa. Nas oficinas você tem a galera produzindo arte, criando arte, pensando arte”, explica Danilo Santana, produtor executivo que desde a segunda edição compõe a organização do Rock Sertão.

De acordo comSantana, além da grande diversidade de oficinas, o público é bastante amplo, incluindo tanto crianças e adolescentes quanto até grupos de mães. “As oficinas fazem com que a gente consiga se espraiar pela cidade, até nas áreas mais periféricas”, reflete.

Oficina de teatro e dança contempla grupo de mães do Nossa Senhora da Glória (Foto: Romário Andrade)

23 anos de resistência em Sergipe

Até chegarem ao ponto atual de aceitação e repercussão, uma longa trajetória foi percorrida. Frustrados com a falta de oportunidades de se apresentar em sua cidade natal, os glorienses da banda Fator RH seguiram o lema punk do faça-você-mesmo e lotaram a Praça dos Três Poderes na primeira edição, em 2001.

Público dos shows vem de todas as partes de Sergipe e de outros estados (Foto: Marcolino Joe)

De lá para cá, não pararam mais. “O Festival teve como marca levar bandas de todos os cantos de Sergipe”, destaca Danilo. The Baggios (São Cristóvão), Lacertae (Lagarto), Urublues e Karranka (Itabaiana), The End (Poço Verde), MDK (Estância), só para citar algumas bandas e cidades, já ocuparam os palcos do Rock Sertão.

“Desde esse início, o principal objetivo sempre foi desafiar a visão predominante de que o interior do Sergipe só abriga os gêneros populares promovidos pela grande mídia, como pagode e forró, oferecendo uma diversidade de expressões culturais gratuitamente ao público em praças abertas”, defende Binho.

Estrutura cresce a cada ano. Em 2023, artista plástico Véio deu nome ao palco principal do evento (Foto: Patrícia Peçanha)

Ele destaca que enfrentaram vários desafios, mas que o principal foi fazer a população de Glória os reconhecer a importância do Festival. “A gente cada vez mais vai enfrentando os desafios, melhorando a produção e dialogando com a comunidade”, diz Binho, olhando para o futuro.

Artistas de fora de Sergipe marcantes: “Zeca Baleiro foi mudança de chave; Ratos de Porão foi importante para retomada do festival”, diz Danilo (Fotos: Crivo/Patrícia Peçanha)

Artistas locais se preparam para troca de experiências

Cordelista gloriense, Emilly Barreto: “espero representar toda uma gama de poetisas” (Foto: Gilmar Otávio)

Cordelista e oficineira jovem, porém experiente, Emilly Barreto atua na formação de professores que utilizam a literatura de cordel como instrumento didático e na formação de novos poetas no ensino fundamental e médio em Glória. Após declamar poesias em outra edição, Emily volta agora ao Rock Sertão para um bate-papo sobre sertão, arte e cultura.

Ao lado do poeta Jorge Henrique – uma de suas inspirações -, Emilly pretende dialogar com uma nova geração de futuros cordelistas. “Espero que o público seja de estudantes, jovens, para que essa nova geração tenha contato com nossa cultura popular nordestina, esse gênero literário que diz muito da nossa identidade”, revela a cordelista.

Na palestra ‘Sertão: verso, prosa e poesia’ ela pretende envolver o público e possibilitar contato direto com folhetos de cordel de todo o sertão. “Tudo de forma didática, leve e envolvente para mostrar para eles o quão ricas são nossas raízes e reforçar um pouco da nossa identidade regional”, encerra.

Quatro dias de intensa formação cultural

Esta edição do Circuito Rock Sertão de Formação tem uma agenda recheada de palestras, saraus, oficinas e workshops. Entre os destaques, estão os cordelistas locais Jorge Henrique e atrizes renomadas como Sâmara Gardênia, Paula Auday e Talita Calixto da Cia. Cigari.

Outras participações notáveis incluem a professora de canto Adriana Melo, o produtor audiovisual Luan Allen e as chefs Seichele Barboza e Luiza Allan. A jornalista Anne Samara e a educadora Viviane Andrade também contribuirão com seus conhecimentos.

Haverá também um espaço de formação e combate aos preconceitos na palestra sobre a luta LGBTQIAPN+, com Rogério Alves (Grupo teatral Boca de Cena), João Vítor (estudante do Colégio Cícero Bezerra) e a deputada estadual Linda Brasil.

Dentre os workshops programados, “Arte com Palavras”, liderado pelo poeta e músico Lirinha, vocalista da banda Cordel do Fogo Encantado, acontecerá na sexta-feira, 17 de maio. No sábado, o guitarrista Rafael Bittencourt, da banda Angra, ministra uma sessão sobre teoria e prática musical.

Com esse investimento em cultura e arte, os organizadores esperam multiplicar saberes e experiências para que a comunidade gloriense siga fortalecendo a arte local. “Quem sabe, a galera vai conseguir abrir novos espaços e fazer surgir novos festivais, não só em Glória, mas em várias cidades no interior de Sergipe”, defende Binho.

CONFIRA PROGRAMAÇÃO COMPLETA DO CIRCUITO ROCK SERTÃO DE FORMAÇÃO 2024:

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