THIAGO LEÃO, da Mangue Jornalismo
(@oxepunk)
Os subterrâneos do rock brasileiro representam um caldeirão fervilhante de criatividade e expressão artística, onde diversas subculturas se encontram e se reinventam constantemente. É desse turbilhão criativo que duas bandas que estão em ascensão se encontram em terras aracajuanas nessa quinta, dia 28. Os mineiros do Black Pantera e os cariocas do NDR, ambos em turnê pelo nordeste, chegam prontos para destilar uma sequência nervosa de músicas rápidas, pesadas e antirracistas no Che Music Bar a partir das 21h, somando ainda com a banda local Black Smoke.
Em comum, as duas bandas trazem influências de uma cena diversificada e pulsante, abrangendo uma ampla gama de manifestações culturais, incluindo música, arte, moda, literatura e muito mais. O Black Pantera é um exemplo brilhante dessa tendência. Originária de Uberaba, essa banda de thrash crossover tem conquistado o público com o som intenso aliado a abordagens carregadas da mensagem política que embasa a banda.
Formada por Charles Gama (voz e guitarra), Chaene Gama (baixo e vocais) e Rodrigo Pancho (bateria), a Black Pantera é conhecida por novos hinos fundamentais do crossover nacional como “Fogo nos rascistas”, “Padrão é o caralho” e “Mosha” – todas faixas do disco Ascensão, que completa dois anos de lançamento é o maior sucesso da banda até o momento.
Contanto ainda com os álbuns de estúdio “Project Black Pantera” (2015) e “Agressão” (2018), além de diversos singles e discos ao vivo, o Black Pantera e sua mistura de thrash metal, hardcore e punk – compondo o gênero musical conhecido como crossover – faz com que o som agressivo e visceral seja o pano de fundo para que a banda possa o desferir os golpes sonoros em suas letras contra o racismo no Brasil e no mundo.
Com o nome inspirado no movimento dos Panteras Negras, dos EUA, o Black Pantera brazuca evoca o espírito do inconformismo com as injustiças sociais e raciais enquanto tem se apresentado em diversos festivais e shows ao redor do Brasil, deixando sua marca por onde passa. O show em Aracaju marca a passagem no meio de uma longa turnê que passa pelas regiões Sul, Sudeste e Nordeste, incluindo o show de 10 anos da banda em sua cidade natal, Uberaba, em maio. Tudo isso enquanto se preparam para lançar um novo disco, já gravado e passando por últimos ajustes.
O nascer de um novo dia
O punk rock sempre foi um grito de rebeldia e autenticidade e o New Day Rising – abreviado como NDR –, banda originária do Rio de Janeiro, personifica esses ideais de forma visceral. Com sua energia contagiante e suas letras provocativas, a banda tem suas raízes em 2009 no subúrbio carioca e, após mais de uma década de estrada, seguem na ativa apresentando o que eles próprios definem como um som maduro, rápido, pesado e com letras conscientes assertivas, críticas somadas as melodias e harmonias complexas de um arranjo poderoso.
Formado por Thiago Vieira (guitarra), Caíque Xavier (baixo), Felipe Vieira (bateria) e Renato “Raxta (vocais), a NDR também desembarca em Aracaju na terceira parada de uma turnê que passará por sete cidades nordestinas. O discurso político, antirracista e antifascista também está presente nas letras e diálogos com o público. Como eles próprios fazem questão de frisar, o NDR é mais que banda, é mais que música, é um modo de fazer resistência cultural e política no Rio de Janeiro em diálogo com as cenas, bandas, coletivos e públicos das cidades por onde passam.
Se firmando como uma banda 100% independente há tanto tempo, os integrantes agregam suas experiências musicais, políticas e culturais e as sintetizaram no mais recente álbum, “Da virtualidade da ignorância à presentificação do bruto real” (2023), com 10 faixas produzidas totalmente por eles. Esse trabalho se soma à discografia da banda como uma peça que simboliza o amadurecimento musical e político do NDR.
Riffs rápidos, batidas frenéticas e letras que abordam questões sociais, políticas e existenciais, as performances explosivas e presença de palco magnética, o NDR é uma das bandas mais empolgantes e autênticas do excelente e pulsante cenário musical carioca atual. Com seu som enérgico e suas letras incisivas, eles estão prontos para conquistar corações e mentes em terras aracajuanas.
Em suma, ambas as bandas, em suas semelhanças e diferenças, se valem desse que é um espaço de liberdade e experimentação, onde artistas e criadores têm a oportunidade de explorar novos territórios e desafiar convenções. Black Pantera e NDR vêm a Aracaju dialogar com público local, trocar experiências com outros músicos que fazem “o corre” no underground sergipano e partilhar desse momento em que a criatividade floresce e onde o espírito de resistência e autenticidade é celebrado.
Será mais uma noite em que, embora muitas vezes permaneça à margem da cultura mainstream – aquela cultuada pela grande mídia e grandes produtores –, haverá uma grande demonstração do quanto o underground brasileiro continua a exercer uma influência significativa e inspiradora sobre a cena cultural das cidades por onde passa. Que o Che Music Bar fique pequeno para esta celebração.
A MARCHA
(NDR)
A marcha segue aos prantos
Soluços discretos de um trabalhador a chorar
Num canto qualquer
Vagões, bacurau
Tormenta que torna sua vida uma merda
De história repleta de um mesmo final
Salário não dá, dinheiro não tem
A pedra rolando na eterna sentença aeon sem final
Deve haver uma maneira de me organizar
A rotina é um sofrimento que não quero mais
Será que coletivo irá nos libertar?
Farto de acordar e encarar a exploração da vida
Penso: “não tentei de mais”
E a cada passo cuspo pregos nessa alcatraz
Em cada esquina um animal que irá me vigiar
Em cada bairro de quebrada que cabe você
Preso por ser preto e só
Sendo esmagado pelo “tira” viradão no pó
Cães assassinos farejando um pretinho qualquer
Sangue nos olhos doidarasso pra matar você
A marcha segue enfartando entupida de merda
Na mente no ouvido no corpo e no prato
Que come o que der, que bebe o que tem
Fumando sem parar, sorrindo ao que vem
No lixo da história com o mesmo final
Repete palavras e nem sabe o que diz
Amando o algoz que irá te devorar
Pensando que isso um dia te fará feliz
Maquina de aniquilar
Matar crianças fuziladas é sua profissão
Servindo ao estado facho com muita dedicação
Sangue nos olhos doidarasso esmagará você
Preso por ser preto e só
Sendo esmagado pelo tira viradão no pó
Cães assassinos farejando o pretinho qualquer
Sangue nos olhos doidarasso pra matar você
A marcha que segue é humana, servindo de massa para
Alimentar privilégios da classe
Entregando o país na mão dos estrangeiros
Fazendo daqui um lugar infernal
Regido por merdas de farda e fuzil
Que se acham melhor explorando o brasil
Chupando o saco murcho do velho tio sam
Comendo cabeças das nossas crianças mortas de inanição
FOGO NOS RACISTAS
(BLACK PANTERA)
Eu sei, nossa simples existência já é uma afronta
Os demônios em você não aguentam ver
Outro preto que desponta
No estilo Django Livre
Ou no estilo Luis Gama
Representando os ancestrais
Afro-samurais
Os filhos de Wakanda
Um grito vem da alma
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Não precisamos tomar nada de ninguém
Só nos deixe ir reconquistar o nosso espaço
De Janeiro à Janeiro
Todo dia o ano inteiro
De Março à Março
A ascensão do império preto
O império contra ataca
O lado negro da força aqui
Só fode com reaça
E eu digo
Na sua cara
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Expõe pra queimar)
Fogo nos racistas!
Eu disse, ‘fogo nos racistas!’
(Deixa queimar)
Fogo nos racistas!