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Prefeitura de Aracaju não tem plano de enfrentamento às mudanças climáticas. A cidade sofre cada vez mais por ocorrência de eventos extremos

PRISCILA VIANA, da Mangue Jornalismo

Foi-se o tempo em que o aviso de chuvas intensas em Aracaju era inspiração para piadas e memes. As previsões do meteorologista Overland Amaral hoje acendem o alerta para a ocorrência de uma série de transtornos e acontecimentos trágicos, como deslizamentos, desabamentos e alagamentos, comumente destacados pela imprensa tradicional apenas como causados “pelas fortes chuvas”. 

No entanto, longe de serem a raiz dos problemas, as fortes chuvas que caem sobre Aracaju e que caíram mais fortemente no mês de maio e início de junho, são o sintoma de uma intensificação das mudanças climáticas sem precedentes históricos no mundo e, como não poderia deixar de ser, no Brasil.

Segundo um levantamento criterioso da Agência Pública, a cidade de Aracaju, em especial, é uma das 17 capitais brasileiras que não possuem planos municipais de mudanças climáticas. Ou seja, não completaram os estudos para minimizar e enfrentar tragédias causadas pelos extremos climáticos. Na capital de Sergipe, quase 8 mil pessoas vivem em áreas de risco.

Nesse sentido, as fortes chuvas descortinam o que a população aracajuana já sente na pele há muitos anos: o despreparo do governo municipal, sob a gestão do prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), para responder aos desafios postos pela emergência climática e reduzir a vulnerabilidade da própria população, principalmente a mais pobre e com menos acesso a ações de saneamento básico, aos eventos extremos.

Tudo isso é mostrado na reportagem “Maioria das capitais brasileiras não tem plano de enfrentamento às mudanças climáticas”, da Agência Pública, veiculada no último dia 13 de junho. A reportagem também revela que cerca de 7,6 mil pessoas vivem em áreas de risco na capital sergipana, de acordo com estimativas do Serviço Geológico Brasileiro. Ou seja, vulneráveis aos eventos climáticos extremos e, consequentemente, a riscos de deslizamento, inundação, enxurrada, erosão de margem fluvial, dentre outros.

O pico de maio: mais de 433 milímetros de chuva

Somente no mês de maio deste ano, a capital sergipana registrou 433,6 milímetros (mm) de chuva, o que representa um aumento de 91% sobre a média climatológica historicamente registrada em Aracaju, que é de 226,9 mm. As informações são do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a partir de levantamento publicado no dia 5 de junho.

Dos 31 dias que compõem o mês de maio, 19 dias foram de chuva intensa, com destaque para o dia 19 em que foi registrado o maior volume de chuvas em 24h, com 87,8 mm de precipitação. Foi justamente nesse pico pluviométrico – entre os dias 21 e 24 de maio – que a Defesa Civil de Aracaju atendeu a 107 ocorrências, das quais 50 foram para avaliação de risco estrutural e 13 relacionadas a deslizamentos de terra. Além disso, foram registradas 14 atendimentos referentes a risco de queda de árvore. Quatro desabamentos também foram registrados na capital. Nesse mesmo período, foram realizadas seis interdições totais de imóveis e três interdições parciais.

Somente no dia 20, foram atendidas 13 ocorrências através do serviço emergencial 199, sendo quatro delas referentes a alagamentos, sete para avaliação de risco estrutural, uma para avaliação de risco de deslizamento de terra e uma para risco de queda de árvore. O risco de transbordamento do rio Poxim acendeu o alerta para a comunidade que mora no Largo da Aparecida, no bairro Jabotiana, e 14 famílias foram retiradas de suas casas.

As regiões mais afetadas pelas fortes chuvas de maio foram Jabotiana, Robalo, Aruana, loteamento Copacabana, Atalaia, São Conrado, Jardins, Jardim Centenário, Salgado Filho e Santa Maria. Não à toa, os mesmos locais historicamente afetados pela falta de planejamento governamental, aliado à oferta precária de saneamento básico e infraestrutura.

Ao invés de fazer o dever de casa, a administração municipal joga a responsabilidade dos devidos cuidados sobre a população já impactada e vulnerabilizada pela ocorrência de eventos extremos aliada à falta de planejamento governamental.

Em matéria da assessoria, divulgada no dia 25 de maio no portal da Prefeitura Municipal de Aracaju, destacou-se as orientações de uma médica a respeito de cuidados que a própria população atingida deve ter para evitar “doenças como micoses, leptospirose, hepatite, tétano, além de doenças virais”. “O ideal é evitar o contato com essa zona de contaminação”, explica a infectologista da Prefeitura Municipal, como se a população exposta aos alagamentos tivesse a opção de evitar.

A Mangue Jornalismo contactou a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema) para saber se há um Plano de Enfrentamento às Mudanças Climáticas sendo elaborado, mas até o fechamento desta reportagem, não houve retorno. A Mangue Jornalismo segue aberta à resposta do órgão municipal.


Com informações da Agência Pública, do G1 Sergipe e da Agência Aracaju de Notícias (PMA). Imagens: PMA

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Uma resposta

  1. Cabe destacar que a proposta de Plano Diretor também não mencionava as mudanças climáticas em nenhum momento!

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