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PONTO DE VISTA: Consulta pública da UFS revelou uma universidade viva que deseja e acredita na mudança

ANDRÉ MAURÍCIO e SILVANA BRETAS, especial para Mangue Jornalismo

A seção PONTO DE VISTA é um espaço que a Mangue Jornalismo abre para que as pessoas possam expressar ideias e perspectivas que estimulem o interesse e o debate público sobre uma temática. O artigo deve dialogar com os princípios da Mangue Jornalismo (que estão na parte de transparência do site), entretanto não representa necessariamente o ponto de vista da organização.

A Universidade Federal de Sergipe acaba de concluir o processo de consulta pública aos cargos de reitor e vice-reitor (2025-2028), organizado pelas entidades representativas: ADUFS (Associação dos Docentes da UFS), o SINTUFS (Sindicato dos Técnicos Administrativos em Educação da UFS), o DCE (Diretório Central dos Estudantes) e a ASAP (Associação dos Servidores Aposentados das IFS de Sergipe).

Mais de 6.400 eleitoras/es compareceram às urnas para depositar seus votos em duas chapas que concorreram ao pleito. A Chapa UFS da gente recebeu 94,80% dos votos válidos, sendo a mais votada na história da Consulta Pública realizada desde 1984. A comunidade deixou o recado inequívoco: queremos decidir quem deve conduzir a UFS a cada 4 anos através do voto!

Eu, Professor André Maurício, e a Professora Silvana Bretas, que compomos a Chapa UFS da gente, vimos a público externar os mais sinceros agradecimentos aos 6.138 eleitoras/es que demonstraram confiança em nossos nomes e em nossas propostas para uma política de gestão democrática de e para a base.

Agradecemos ao grupo de apoio que participou intensamente de cada movimento da campanha e que é responsável direto por essa estrondosa votação. Às entidades que conduziram a Consulta Pública, além dos nossos agradecimentos, também o nosso respeito e admiração pela coragem de enfrentar a desinformação, provocação e tentativa de desqualificação e descrédito frente a todas/os que compõem a UFS.

Certamente nos faltam palavras para descrever a nossa felicidade em ver a UFS retomar a sua vitalidade em torno das questões que envolvem a política institucional, pois, até então, essa Universidade andava cabisbaixa, sem energia, sem espírito de debate que é próprio da vida universitária. Para nossa chapa, a tarefa mais fundamental era recuperar esse movimento e entendíamos que a campanha seria o instrumento para agitar o entusiasmo, retomar o interesse e, acima de tudo, a organização em torno de um objetivo comum, fazer valer o direito mais básico de uma sociedade democrática: votar e ser votado.

Histórica participação democrática, apesar de movimento contrário

Foi lindo ver os locais de urnas com filas nos três turnos, militantes conversando com seus pares, distribuindo material e eleitoras/es buscando entender as questões que envolviam aquele ato. Enfim, a vida pulsou e sentimos que a mudança é desejada e é possível. Essa é a melhor e a mais importante lição que tiramos da consulta pública de 2024. Quis a história contemporânea da UFS que vivêssemos esse momento e entendêssemos que os fatos amadurecem à sombra, cedo ou tarde emergem em manifestações amplas e precisamos estar preparados para conduzi-las.

Agora, como todo movimento grandioso, ao mesmo tempo em que os avanços se apresentam, surgem também os movimentos que se esforçam para coibi-los. Não faltaram entrevistas em rádios dizendo que tal consulta não tinha validade, textos em jornais locais afirmando que estávamos buscando confusão, uso dos meios de comunicação institucional para dissuadir a comunidade a comparecer às urnas.

Existiu também muitas acusações à nossa Chapa, inclusive de que somos extremistas e propagamos o discurso de ódio. Não revidamos a essas acusações a fim de evitar desgastes desnecessários. Até que se chegou ao cúmulo de atribuir à histórica campanha que se encerrou em 28 de agosto a um “movimento racista” contra o atual Reitor, Prof. Valter Joviniano, por ser um homem negro. Há coisas que não são admissíveis e essa é uma delas. Por isso, afirmamos veementemente que NÃO aceitamos essas acusações porque elas não nos cabem, não as merecemos e, principalmente, porque são infundadas.

Desde o dia 22 de julho do corrente ano, quando nossa Chapa se inscreveu na Consulta pública com a entrega do Programa de Trabalho (2025-2028), temos focado, decididamente, em nossas propostas e dedicado parte de nosso tempo em conversar com docentes, estudantes, técnicas/os, com diferentes setores e equipes constituídas para aprendermos as verdadeiras condições de trabalho, de estudo e de convivência em todos os campi da UFS. Inclusive, e especialmente, aos problemas que vivem os diversos grupos sociais, como a comunidade LGBTQI+ e os que ingressaram na UFS por meio das Políticas de Ação Afirmativa, sejam as pessoas de cotas sociais, as negras, as indígenas e as com deficiência.

Desrespeito aos processos democráticos

No entanto, com respeito e espírito democrático, temos evitado esse tipo de embate em relação aos ataques, porque entendemos que os problemas e a função social da UFS são muito mais elevados e complexos do que o desespero daquelas/es que não se expõem ao debate público, aos questionamentos e às críticas da comunidade acadêmica. Portanto, é necessário marcar a firme posição de que o CENTRO de nossa oposição à atual Reitoria é o seu desrespeito aos processos democráticos de escolha dos cargos mais altos da Universidade e sua inoperância em resolver os reais problemas da UFS.

Para quem acompanhou os 6 debates ocorridos em todos os campi da UFS ao longo do mês de agosto, seja de forma presencial ou através dos canais digitais das entidades, não viu e nem ouviu de nossa Chapa o menor desrespeito a qualquer trajetória pessoal ou qualquer tipo de crime racial a quem quer que seja. Convidamos toda sociedade sergipana a visitar nossas redes sociais e acessar todo nosso material de campanha e conferir o que estamos afirmando.

Por fim, vale registrar que a consulta à comunidade é facultativa, ir ou não votar é um direito que cabe a cada um. Do mesmo modo, escolher o seu candidato ou a sua candidata depende, exclusivamente, do grau de consciência de sua própria escolha.

Vamos deixar aqui algumas questões para a reflexão:

1 – A consulta que se encerrou é uma liberdade das entidades representativas em fazê-la e não implica em impedimento à realização da consulta prevista na Resolução nº. 44/2022/CONSU, então por que o atual Reitor não inscreveu a sua chapa nessa consulta? Por que não expôs os seus feitos tão elogiados em vários artigos de jornais?

2 – Por que o atual Reitor não explicou que, embora, a sua inclinação recente em atender as exigências das Políticas de Ações Afirmativas, o que é louvável, não fez um único movimento em quase 4 anos a favor da educação antirracista?

3 – Por que centenas de jovens, filhos/as da classe trabalhadora, que aqui estudam, passam por verdadeiros transtornos para se alimentar dentro da UFS, a começar pelas filas imensas?

4 – Por que não há nenhum setor da reitoria aberto para estudantes e docentes dos cursos noturnos?

Se tivesse participado, teria contribuído para virar o triste capítulo antidemocrático do ano de 2020. Este é o debate, sem o qual faremos da universidade pública uma instituição secundarizada e de acesso restrito a uma parcela da população de jovens e adultos. Ainda que mantidas as Políticas de Ações Afirmativas da forma como estão, elas não são suficientes.

Não basta ter acesso sem permanência, sem acolhimento, sem educação antirracista e anti-lgbtfóbica, sem redução das desigualdades, sem critérios rígidos para a formação das bancas de heteroidentificação, sem alocação de recursos e espaços para o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas – NEABI. Somos um Estado pequeno, mas no Anuário Estatístico da Segurança Pública de 2023, figuramos tristemente como o Estado com mais crimes de racismo do Nordeste (Ano 17, 2023. ISSN 1983-7364).

O fato é que há muito que se fazer e lutar para que a Universidade Federal de Sergipe venha a cumprir o seu devir de instituição produtora e difusora do conhecimento científico, cultural e artístico a partir de um projeto intelectual com compromisso social de ajudar a sociedade sergipana e brasileira a sair de sua dependência econômica e cultural.

Em nova consulta, vamos trabalhar muito para repetir o feito da consulta pública das entidades, pois esse é o desejo da comunidade acadêmica que saberá responder assim que chamada!

André Maurício é professor na UFS. Graduado em Licenciatura e Bacharelado em Física pela UFS, mestre e doutor pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas no Rio de Janeiro e pós-doutor pela Universidade de Stuttgart na Alemanha.

Silvana Bretas é professora na UFS. Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestra em Educação pela Unicamp e doutora em Educação Escolar pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

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