ROMERO VENÂNCIO, especial para Mangue Jornalismo
Desde 2018 venho estudando a “extrema direita católica” nas redes digitais. Paralelo a isto, vou catando o que é possível sobre a extrema direita em geral nestas redes.
Acabo de ver no Youtube o: “Pelas Barbas do Profeta | Pátria Educadora – Capítulo 2” produção do brasil paralelo. Assustador e ao mesmo tempo caricatural de toda uma concepção de educação. Essa parte II é quase toda dedicada a uma crítica infame a Paulo Freire e seu projeto educacional.
Um jogo de câmara impecável. Um som perfeito. Um trabalho de arquivo bem feito para o que interessa a eles. Trata-se de uma parafernália técnica das melhores para arrematar um conteúdo reacionário. Técnica antiga já mapeada por Th. Adorno no seu clássico “Educação após Auschwitz”. Nada de novo no fronte. Mas tudo de novo num país como o Brasil e com uma direita que procura ser profissional.
O documentário (que custou R$ 2 milhões, segundo a direção da produtora) é, de fato, um amontoado de depoimentos de “especialistas” (todos de direita e com pouca atividade educacional).
A maldade não está apenas nos depoimentos de figuras carimbadas de uma direita ressentida. Temos o jogo de imagens que tenta a todo custo montar uma narrativa que se inicia na “Revolução Francesa” e vai até ao “Maio de 68”.
Paulo Freire vem junto com escola nova, PCB, Marxismos, Maoísmo, Sartre, Marcuse, Teologia da Libertação. A obra de Paulo Freire é vista como um amálgama de teorias marxistas. Mais maldade que realidade.
O avanço sobre a educação brasileira
A direita precisa definir o projeto de Paulo Freire intimamente vinculado a uma “revolução cultural”, a um “marxismo cultural”. E tudo isto tomou conta da educação brasileira nas escolas e universidades. Aqui, se arma toda uma ideologia (em sentido althusseriano) para informar desinformando. A cereja do bolo são as falas rasteiras de Olavo de Carvalho como critério de verdade contra Paulo Freire.
Este “brasil paralelo” procura ser implacável sendo desonesto. Defendem uma “alta cultura” que tem como ápice uma “educação católico-cristã” como referência. Ou o que eles entendem por “cristianismo”. Devemos sempre desconfiar do “cristianismo” dessa gente de má-fé o tempo todo.
Como diz o ditado maldoso: “não se chuta cachorro morto”. Tentar implacavelmente desqualificar a obra de Paulo Freire passa a ser um projeto pedagógico-político da direita brasileira e uma referência para um setor juvenil perdido nestas redes digitais ou nas universidades.
Não se trata apenas de um documentário, mas de um instrumento de formação de toda uma direita com projeto de país. E acredito que a coisa ainda está no seu começo. Temos um longo passado pela frente.
Romero Venâncio é graduado em Teologia pelo Instituto de Teologia do Recife (ITER), em Filosofia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mestre em Sociologia pela mesma universidade e doutorado Interinstitucional em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É professor de Filosofia na Universidade Federal de Sergipe (UFS).