JANAÍNA CRUZ, especial para Mangue Jornalismo
(@janinha_cruz)
O governo federal, através do Ministério das Cidades, divulgou o resultado da 2ª edição do Prêmio Periferia Viva, que este ano teve como tema ‘Periferia Viva é Periferia Sem Risco’. O Dossiê das Águas, lançado em abril deste ano pela Chão Assessoria Técnica Popular, foi uma das 178 iniciativas premiadas. Essa organização reúne profissionais sergipanos de diversos ramos, principalmente arquitetos e engenheiros.
No Eixo Iniciativas de Assessorias Técnicas, dos 25 trabalhos selecionados, a Chão ficou em 1º lugar, com a maior nota, 9,83, juntamente com a Associação Kapi’Wara. Outra iniciativa de Sergipe também foi contemplada com o prêmio. No Eixo Iniciativas Populares, a Cozinha de Vó – Comida Ancestral, da comunidade quilombola Mussuca, em Laranjeiras, ficou em 17º lugar, com 9,79 de nota, entre os 150 projetos selecionados.
O Prêmio Periferia Viva tem como objetivo reconhecer, valorizar e potencializar iniciativas populares, de assessorias técnicas e de entes públicos governamentais, que estejam em andamento e que promovam o enfrentamento da desigualdade socioespacial e a potencialização e transformação dos territórios periféricos. Veja o resultado final no mapa das periferias.
“Este prêmio do governo federal presta um importante serviço de prestigiar as iniciativas populares e das assessorias técnicas, dando o devido reconhecimento e incentivo a ações que buscam fortalecer a luta e mudar a realidade das comunidades periféricas no Brasil”, disse Augusto Cruz Barreto, engenheiro ambiental e membro da Chão.
No que diz respeito à Chão, Augusto disse que a premiação possibilitará um avanço no trabalho após o lançamento do Dossiê, dando um destaque político às denúncias apresentadas e possibilitando o fortalecimento das ações da assessoria e das comunidades que constroem o projeto. Acesse aqui o dossiê completo.
Dossiê das Águas é denúncia e anúncio
No Dossiê das Águas, a Chão Assessoria Técnica Popular apresentou detalhes sobre as condições de saneamento básico em comunidades tradicionais de Aracaju e São Cristóvão. Foram estudadas, durante seis meses, as comunidades do Loteamento Senhor do Bonfim, no bairro Farolândia, em Aracaju, e do Povoado Arame I, em São Cristóvão. Os dois locais, segundo a Chão, resistem e carregam consigo saberes, histórias e tradições.
O dossiê mostrou que em São Cristóvão, apenas 32,4% das unidades residenciais têm esgoto coletado, uma cobertura muito pequena. Já em Aracaju, o cenário é melhor, com 72,7% de conexões. Mas no Loteamento Senhor do Bonfim, na Farolândia, somente em 2017 a comunidade teve acesso à água encanada e só em 2021 à rede de esgoto.
Ainda foi analisada a destinação dos resíduos sólidos. Nas áreas do Arame I e da Ilha Grande, em São Cristóvão, comunidades tradicionais de pesca artesanal, a prefeitura não disponibiliza coleta de lixo. Dessa forma, os moradores, diante da falta de destinação mais adequada, optam pela queima do lixo, o que gera impactos negativos, como poluição do ar e outros riscos à saúde. Ainda no Arame I, os moradores sofrem com a falta de acessibilidade, uma vez que o território não possui um sistema de drenagem e calçamento.
O objetivo central do dossiê foi impulsionar a atuação comunitária em rede no âmbito das pautas urbanas e ambientais, com foco na defesa dos direitos dos povos e comunidades tradicionais. Buscou-se, assim, alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) de números 3, 6, 11 e 14, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Participaram como coautores do dossiê, a Associação Comunitária dos Moradores do Loteamento Senhor do Bonfim; Rosana Silva Santana de Jesus, liderança do Arame I; e o professor doutor José Jailton Marques, do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
A Chão Assessoria Técnica Popular é uma Organização da Sociedade Civil (OSC), sem fins lucrativos, formalizada desde 2022, que atua em Sergipe em defesa do direito à cidade e à moradia através da assessoria técnica popular, em conjunto com comunidades vulneráveis socialmente e ambientalmente.
Em dezembro do ano passado, a Mangue Jornalismo publicou uma reportagem chamada de “Ninguém comprou o rio”. Empreendimento de alto padrão causa impactos ambientais na Zona de Expansão de Aracaju. Nela, a Chão Assessoria Técnica Popular participou da reportagem denunciando licenciamentos sem processos de escuta da comunidade local por parte da Prefeitura de Aracaju. Trata-se de “um projeto com um caráter nítido de racismo ambiental e tentativas de mercantilização da natureza”, afirmou Augusto Cruz, representante da Chão.
Mais informação sobre a Chão Assessoria Técnica Popular no perfil no Instagram @chao.assessoria.