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Mais de 80% de árvores exclusivas da Mata Atlântica correm risco de extinção pelo desmatamento. Na lista estão pau-brasil, angico, peroba e outras

Agencia Bori

As Listas Vermelhas de Espécies Ameaçadas ajudam a tomar decisões sobre investimento em tempo e recursos de conservação da biodiversidade.

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) e instituições parceiras publicado na revista científica “Science” organizou uma lista vermelha de espécies de árvores da Mata Atlântica com risco de extinção e concluiu que 82% das quase 2500 espécies exclusivas desse bioma estão ameaçadas.

A Lista Vermelha contém quase 5000 espécies de árvores que ocorrem na Mata Atlântica e foi organizada a partir de três milhões de registros de herbários, inventários florestais e informações sobre biologia e ecologia das espécies.

Muitas árvores emblemáticas do bioma foram classificadas como espécies ameaçadas de extinção, como o pau-brasil, a araucária, o palmito-juçara, o jequitibá-rosa, o jacarandá-da-Bahia, o angico e a peroba.

A pesquisa também classificou 13 espécies de árvores que ocorrem apenas na Mata Atlântica e em nenhum outro lugar do mundo, as chamadas espécies endêmicas, como possivelmente extintas.

Por outro lado, cinco espécies que antes eram consideradas extintas na natureza foram redescobertas, caso da Campomanesia Lundiana e da Myrcia neocambessedeana.

Desmatamento é ameaça para a extinção de mais de 80% das espécies da Mata Atlântica


Quadro geral muito preocupante

Renato Lima, professor da USP e autor do artigo, explica que “o quadro geral é muito preocupante”, pois a maioria das espécies de árvores da Mata Atlântica foram classificadas em algumas das categorias de ameaça da União Internacional de Proteção da Natureza (IUCN), em decorrência da perda de suas florestas e árvores.

A construção da lista de espécies ameaçadas da Mata Atlântica se baseou em diferentes critérios da IUCN, inclusive alguns que incorporam os impactos do desmatamento.

“Se tivéssemos usado menos critérios da IUCN nas avaliações de risco de extinção das espécies, o que geralmente tem sido feito até então, nós teríamos detectado seis vezes menos espécies ameaçadas”, avalia Lima.

Segundo destaca o estudo, a maioria das avaliações de risco de extinção disponíveis na IUCN se baseia apenas na distribuição geográfica das espécies, mas o declínio no número de árvores adultas causado pelo desmatamento é a principal causa de ameaça das espécies.

“O uso desses critérios associados ao desmatamento aumenta drasticamente o nosso entendimento sobre o grau de ameaça das espécies da Mata Atlântica, que é bem maior do que pensávamos anteriormente”, finaliza o pesquisador.

Os cientistas fizeram ainda projeções sobre o impacto da perda de florestas em escala global, que incluíram as áreas de florestas tropicais. “As projeções indicam que entre 35% e 50% das espécies de árvores do planeta podem estar ameaçadas apenas devido ao desmatamento”, comenta Hans ter Steege, pesquisador co-autor do trabalho, do Naturalis Biodiversity Center, na Holanda.

Pesquisa: 35% e 50% das árvores do planeta ameaçadas pelo desmatamento


O estudo não considerou ameaças futuras

O estudo considerou apenas o desmatamento e não as ameaças futuras, como as mudanças climáticas, que podem acelerar os riscos de extinção de espécies.

Para garantir a conservação de espécies, os pesquisadores propõem como alternativas a conservação das espécies em jardins botânicos e bancos de material genético, além dos chamados Planos de Ação Nacionais (PANs), instrumentos de promoção de políticas públicas direcionadas à conservação e a recuperação de espécies ameaçadas no Brasil, em especial àquelas em risco iminente de desaparecer.

Outra saída para reverter as perdas de espécies de árvores na Mata Atlântica é a restauração florestal, explica André de Gasper, professor da Universidade Regional de Blumenau (FURB) e coautor do estudo.

“Projetos de restauração, em áreas abertas ou em fragmentos degradados, podem selecionar preferencialmente as espécies regionais mais ameaçadas da Mata Atlântica, visando estimular a produção de sementes e mudas destas espécies e a recuperação das suas populações de árvores na natureza”, diz o autor.

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