O descarte irregular de lixo nas praias é um problema mundial, que impacta os ambientes marinhos e terrestres, bem como a fauna e a flora. Pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) analisaram e quantificaram os resíduos depositados nas praias do litoral sul de Aracaju durante as medidas restritivas e seis meses após a liberação do acesso à praia na pandemia de Covid-19.
Os resultados apontam para um aumento de 230% no volume de lixo, quando comparado ao período sem restrições de acesso à praia. Eles estão descritos em artigo publicado na sexta (6) na revista “Arquivos de Ciências do Mar”.
Os pesquisadores observaram a disposição de resíduos na faixa de restinga das praias e coletaram amostras em dois momentos específicos: em agosto de 2020, quando havia restrições de acesso ao local, e em março de 2021, seis meses após a liberação da área.
“Na faixa de restinga, acumula-se tanto o lixo proveniente de descarte incorreto na faixa de areia, quanto o resíduo que vem do próprio oceano após a subida da maré”, comenta Elaine Knupp de Brito, uma das autoras do artigo. No período de restrição de acesso à praia, foram coletadas 104 amostras de macrolixos, ou seja, aqueles maiores que 20 milímetros, sendo que 89% eram resíduos plásticos. Desses, 31% já se encontravam fragmentados.
Volume de resíduos mais do que triplicou
Seis meses após a liberação do acesso de pessoas à faixa de areia, foram coletadas 343 amostras, ou seja, o volume de resíduos mais do que triplicou. Quase metade deste lixo já estava fragmentado no meio ambiente, um dos processos que gera microplásticos. “É interessante observar que esse plástico não some do ambiente, ele apenas se transforma neste contaminante ‘quase invisível’”, afirma Brito.
De acordo com a pesquisadora, foi possível observar que, em 2020, havia um maior número de resíduos domésticos na coleta. Já em 2021, após a liberação das praias, houve um aumento considerável do chamado “lixo recreativo”, proveniente de pessoas que visitam as praias, como pacotes de salgadinhos e garrafas de bebidas. Em volume absoluto, 44% mais resíduos deste tipo foram coletados em março de 2021 quando comparado ao mês com interdição de banhistas na praia.
Outro ponto importante da pesquisa foi identificar os prejuízos provocados pelo trânsito de veículos na faixa de areia. “O tráfego de veículos nas praias é proibido por lei, porém acontece com frequência e traz impactos como o atropelamento da fauna, a compactação de ninhos de tartaruga e a destruição da vegetação de restinga.”, explica Brito.
A atuação dos serviços públicos na limpeza de praia também chamou a atenção dos pesquisadores. Após a limpeza, as equipes reuniam os resíduos em amontoados, sem retirar todo o material do local. “Foram contabilizados 12 amontoados a cada quilômetro, reforçando a ideia de área degradada e, de certa forma, desestimulando o descarte adequado em lixeiras, as quais praticamente inexistem, outro dado preocupante”, acrescenta a pesquisadora.
A pesquisa traz a reflexão do problema ambiental do descarte irregular de lixo nas praias e outros espaços como rios, lagos e mares, que são habitats naturais e berçários de muitas espécies. Brito conclui: “Precisamos urgentemente de políticas públicas para coibir o descarte incorreto de resíduos, ações punitivas contra motoristas que trafegam nas praias, além de medidas educativas para a proteção das espécies”.
Fonte: Agência Bori