ABIGAIL VIEIRA, IANA MARCELLY, VINÍCIUS ACIOLE e WENDAL CARMO, do Zona Contexto especial para Mangue Jornalismo
Com mais de 300 anos de existência, fundada em 1675, Itabaiana é uma cidade que surge ao redor da Serra de Itabaiana, no agreste sergipano, perto de poços de águas cristalinas e com bom solo para a plantação. Cidade que ganha vida aos poucos e que se destaca como grande polo agrícola ao longo dos anos, sendo conhecida como principal exportadora de diversos produtos agrícolas.
Tradicionalmente rural, o município começa a se modernizar na metade do século XX. Tendo como referência a feira, o município serrano torna-se cada vez mais atrativo, e a possibilidade de melhores condições de vida na zona urbana enche os olhos do itabaianense.
Há pouco mais de 20 anos, o fenômeno da especulação imobiliária ganhou papel de destaque nesse processo de expansão urbana, garantindo a verticalização da cidade e aprofundando as desigualdades entre a população.
Redução gradativa de áreas rurais
O crescimento social e econômico de Itabaiana leva consigo uma parte do campo, pois à medida em que a urbanização avança, registra-se uma redução gradativa das áreas rurais. Os dados mais recentes que exemplificam essas mudanças são do Censo Agro do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo ele, em 2006 a área rural tinha extensão de 19.816 hectares. Já em 2017, a extensão foi de 13.560 hectares, ou seja, uma perda de 6.256 hectares em menos de 10 anos.
Se, por um lado, as áreas rurais reduzem em detrimento da expansão urbana, por outro lado, o comércio expande para atender ao fluxo urbano. Entre 2006 e 2017, houve um crescimento de 155% no número de empresas abertas na cidade, segundo levantamento do Econodata.
Em 2022, mesmo com a pandemia de Covid-19, o comércio seguiu em expansão: foram registradas 6.631 empresas ativas no total e 503 novos empreendimentos.
Com o comércio se ampliando e um espaço urbano em expansão, cada vez mais pessoas vão se estabelecendo na cidade. Na última década, o crescimento populacional foi tão grande que Itabaiana alcançou a terceira colocação no ranking de cidades mais populosas de Sergipe, segundo o IBGE.
No ano passado, o total de habitantes atingiu a marca dos 103.439, um crescimento de 18,9% em relação a 2010 (86.9670). Por isso, entender a história de Itabaiana e quais processos transformaram uma cidade rural em urbana e como o seu desenvolvimento também traz problemas para as pessoas que lá residem é o nosso objetivo nesta reportagem.
Itabaiana de ontem
Antes mesmo do Brasil ser invadido por europeus, a Serra de Itabaiana já constava nos mapas-múndi que incluíam os novos continentes. Segundo acervo histórico da Academia Itabaianense de Letras, foi em 1501 que os portugueses nomearam a única elevação relevante avistada a até 30 km além da praia como Serra de Santa Maria da Graça.
Durante a época das capitanias (1534-1548), Itabaiana era conhecida por ter uma terra fértil e ótima para a implantação dos engenhos. Sua fertilidade agrícola era tão famosa que ela também poderia ser chamada de “cidade celeiro de Sergipe”.
Ainda de acordo com textos do acervo histórico da Academia Itabaianense de Letras, a economia da cidade até 1820, quando Sergipe conquista sua independência da Bahia, era a do pequeno sítio, ou seja, os agricultores vendiam os seus excedentes e assim se formava os comércios.
Com o desenvolvimento do estado, as feiras livres com vendedores e compradores de outras localidades começam a ser introduzidas no dia a dia dos agricultores itabaianenses.
Para além das questões da terra fértil, a cidade também é sustentada pela fé, pode-se até mesmo dizer que literalmente. A instituição religiosa Irmandade das Santas Almas de Itabaiana foi a dona do local onde hoje se encontra a sede do município, que foi vendido sob a condição de nele se erguer uma igreja.
Ao redor do que mais tarde se tornou uma paróquia, a cidade foi sendo povoada e centralizada até que, em 1698, foi nomeada como Vila do Santo Antônio e Almas de Itabaiana, tornando-se cidade em 1888.
É tomando como ponto de partida a agricultura e a religião que a cidade vai ganhando forma e chegando a uma estrutura política e econômica parecida com a de hoje. O historiador e membro da Academia Itabaianense de Letras, José de Almeida Bispo, diz que a cidade não teve um ritmo constante de evolução econômica. “Itabaiana passou 191 anos praticamente sem sair do lugar, inclusive com vários povoados evoluindo mais e virando município, como Frei Paulo e Riachuelo”, disse José Bispo.
O historiador complementa dizendo que, mesmo quando recebe o título de cidade, em 1697, ela “não reage de imediato, ela ainda fica capengando lentamente”.
As transformações que impulsionaram a cidade a experimentar um notável período de crescimento se iniciaram no século XX, influenciadas pela promoção da educação, pelo crescimento da feira livre e pela construção de novas vias de acesso que conectaram Itabaiana ao restante do país. Segundo José Bispo, é a partir do final de 1960 que o município começa a tomar formas atuais.
Ainda de acordo com o historiador, a educação desempenhou um papel fundamental ao fornecer à população os conhecimentos necessários para sustentar e ampliar seus negócios, ascendendo a condições melhores e estáveis, começando em 1936 com a criação da primeira escola formal de Itabaiana. Seu ponto alto foi em 1949 com o Colégio Murilo Braga, que começou como uma escola rural e em 1969 incorporou o curso científico.
Para Bispo, a formação básica foi fundamental para a ascensão e melhores condições de parte da população. “O colégio significou emprego para filho de pobre que não podia jamais pensar em estudar em Aracaju, Propriá, Estância e Laranjeiras”, destaca.
A partir de 1947, a feira livre passou a contar com um aliado, o Mercado do Largo do Santo Antônio, que ajudou a centralizar a feira em um só lugar. Além disso, pela forte procura dos produtos vendidos na feira aos sábados, em 1954 a prefeitura decidiu adotá-la também às quartas-feiras.
Para o historiador itabaianense Wanderlei Menezes, a criação do chamado “Mercadão”, o Mercado de Hortifrutigranjeiro Governador Antônio Carlos Valadares, marca o início do processo de aproximação da população rural com a cidade. “Muita gente vem da zona rural e trabalha na feira e passa a se estabelecer na cidade”, explica.
Junto com o mercado e a escolarização dos itabaianenses, a inauguração em 1947 da BR-235, rodovia federal que liga Aracaju ao Pará, impulsionou a construção do estereótipo de capital dos caminhoneiros na cidade. Bispo conta que a partir de 1956 já existia um grande número de caminhões fazendo viagens para os grandes centros do estado e para o sul do país.
Foi nessa época que o processo de expansão do comércio teve início, pois esse fluxo também trazia consigo uma variedade de mercadorias que nem na capital era possível encontrar. “Quando veio a BR-235, nós passamos a nos encontrar dentro de São Paulo, dentro do Rio de Janeiro, dentro de Salvador, além dos mercados locais”, conta Bispo.
Ele também conta como os caminhoneiros passaram a ser figuras de destaque na cidade. “O caminhão só evoluiu aqui por necessidade do comerciante de vender fora e por ter agora uma estrada que leve ele até os grandes centros consumidores do país. Não adianta você produzir e não ter a quem vender”, defendeu.
Como mencionado, esses fatores permitiram que Itabaiana sentisse um crescimento não só econômico, mas populacional também. A partir do aumento de pessoas e a necessidade do comércio de se expandir por conta das novas oportunidades que surgem com a chegada de novas mercadorias, que a área urbana do município começa a expandir.
Cidade que cresce
Somados à construção do “Mercadão”, Wanderlei Menezes destaca que outros diversos fatores podem ser atribuídos ao início do boom na expansão urbana e comercial da cidade de Itabaiana.
Segundo o historiador, esses fenômenos não podem ser compreendidos isoladamente, mas sim associados. Por isso, ele destaca dois acontecimentos principais que marcaram esse período de transição da Itabaiana de ontem para a que começa a crescer.
O primeiro deles está ligado à promulgação da Constituição de 1988. Essa decisão tomada em âmbito nacional reverberou nos milhares de municípios espalhados pelo país, e em Itabaiana não foi diferente. Wanderlei explica como a Constituição conferiu maior liberdade ao município, refletindo-se no impulsionamento de diversos setores públicos.
“A Constituição de 88 é muito municipalista, ela vai dar poder às prefeituras. Com o pacto federativo, os recursos serão divididos entre estados, União e municípios, e isso vai fortalecer muito as esferas administrativas da cidade, que, até então, eram muito primárias”, afirma o historiador.
De acordo com o documento, é de responsabilidade dos municípios dar maior atenção aos programas de educação infantil e de Ensino Fundamental, prestação de serviços de atendimento à saúde da população, promoção planejada do parcelamento e ocupação do solo urbano e proteção do patrimônio histórico-cultural local.
No início do período pós-constituição, mais precisamente na década de 90, sob o comando do então prefeito Luciano Bispo (1988-1992), Itabaiana intensifica sua agricultura, com a implantação de perímetros irrigados. Estes perímetros são cultivados por pequenos agricultores e neles são produzidos cereais, frutas e verduras que abastecem todo o estado. Segundo José Bispo, esse impulsionamento na produção agrícola leva cada vez mais pessoas a comercializarem na feira, que se localiza próxima ao centro da cidade. Uma consequência direta disso é a construção do já citado Mercadão, em 1991.
Ressaltando o poder comercial da cidade, Bispo também pontua que o vigor da cidade traz em 1989 outra entidade ligada ao comércio, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Itabaiana (CDL).
Além disso, o membro da Academia Itabaianense de Letras acrescenta o incentivo à comunicação como outro motivo que deu ares urbanos à cidade. Em 1992, a rádio Itabaiana FM é a primeira emissora a operar nessa frequência no município. Já em 2001, a Itnet se tornou o primeiro portal nativo da cidade e, também, o primeiro provedor de internet da região.
Após essa série de mudanças municipais que incentivaram o processo de urbanização, a cidade apresentou gradativas modificações no seu perímetro urbano, como calçamento de ruas e, consequentemente, um programa de saneamento básico mais eficiente para a população, além de uma segurança pública mais efetiva e melhores condições de trabalho.
Wanderlei ressalta que essas mudanças modificaram o modo de pensar do itabaianense, que agora se apega a uma ideia progressista de modernidade e vê na transição do campo para a cidade uma forma de desenvolvimento pessoal e familiar.
Outro aspecto importante sobre a expansão urbana da cidade se relaciona ao Açude da Marcela e ao que o historiador Wanderlei Menezes considera como “o maior desastre ambiental da história de Itabaiana”.
Localizado no bairro Marcela, esse reservatório de água possuía em 1958, ano da sua inauguração sob a gestão do então prefeito Euclides Paes Mendonça (1955-1959), uma capacidade de armazenamento de aproximadamente 2.710.000 metros cúbicos, o equivalente a ao menos 1.084 piscinas olímpicas. Inicialmente, o açude foi construído para mitigar as consequências trazidas pela seca e desenvolver a agricultura familiar na região.
Entre as décadas de 70 e 90, o Açude da Marcela se destacava pela importância para a atividade pesqueira, a piscicultura. Após um período de seca e posteriormente cheia, o sistema de esgoto da cidade passou a ser canalizado para o açude.
Em 1994, ocorre o início da perda de produtividade agrícola do reservatório, após a implantação de três cerâmicas nas margens do açude, que desencadearam no despejo diário de consideráveis volumes de dejetos sanitários e industriais produzidos pela cidade e o uso indiscriminado de agrotóxicos e fertilizantes.
Como principal consequência, houve um êxodo rural expressivo da população que vivia e sobrevivia da agricultura no entorno do local, que é situado na zona de intersecção entre o perímetro urbano e rural da cidade. Com a revisão do Plano Diretor na cidade, em 2006, a região se incorporou de vez a casas e prédios, passando à categoria de bairro, já que antes, pela sua localização, era caracterizado como povoado.
Itabaiana de hoje
Os impactos dos anos de expansão desordenada podem ser sentidos na Itabaiana de hoje: inchaço urbano, ausência de políticas de lazer e sociabilidade, além da falta de um projeto de mobilidade urbana articulado ao crescimento atestado pelo IBGE.
A violência também tem moldado o presente da “nova capital do interior” (na cidade, a taxa de mortes violentas é de 51,2 óbitos para cada 100 mil habitantes, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública), como dizem os moradores, uma espécie de contraste entre a modernidade dos grandes centros e a sensação de uma cidade em que todos se conhecem.
Na esteira deste processo de crescimento populacional, chega ao município serrano, em 2006, um campi da Universidade Federal de Sergipe, com o objetivo de promover a interiorização da educação no agreste do estado. Localizado no bairro Porto, na periferia da cidade, a unidade possui atualmente pouco mais de dois mil estudantes ativos em cursos voltados à dinâmica econômica e social de Itabaiana, a exemplo de Administração, Sistemas da Informação e Bacharelado em Geografia.
O crescimento horizontal de Itabaiana proporcionou a criação de novos bairros em áreas mais afastadas do centro. O Bairro Porto, onde o campus da UFS está localizado, é um exemplo das implicações geradas a partir do processo de expansão desordenada no município.
Com a construção de um centro urbano voltado ao grande comércio atacadista e varejista, a população foi consequentemente obrigada a migrar para as extremidades onde, muitas vezes, o Poder Público se faz ausente. No bairro Porto, assim como em outras áreas mais afastadas da parte central do município, famílias lamentam a falta de espaços de lazer e sociabilidade.
Outro alvo de reclamação é a falta de transporte coletivo. No início dos anos 1980, com o crescimento de alguns bairros localizado às margens da região central de Itabaiana, surgia também uma rede que parecia promissora: a empresa Vale da Serra firmara um contrato com a prefeitura de Itabaiana e passará a transportar a população com uma frota de pouco mais de cinco ônibus.
Em 1989, a Câmara de Vereadores chegou a autorizar que o então prefeito Luciano Bispo (MDB) publicasse edital de contratação de companhias privadas para gerir o sistema municipal de transporte urbano. Mais de 20 anos depois, nada avançou. Sem alternativas, os moradores recorrem aos mototaxistas que, ainda assim, não conseguem atender às demandas de locomoção de idosos e pessoas com deficiência, por exemplo.
Procurado pela reportagem, o prefeito Adailton Sousa (PL) afirmou que a gestão municipal “não tomou nenhuma atitude sobre o transporte coletivo” nos últimos anos. Mas, em contrapartida, aprovou a Lei de Mobilidade Urbana de Itabaiana na Câmara de Vereadores em 18 de abril deste ano.
O projeto de lei nº 44/2023 prevê algumas medidas para promover a qualidade de vida e a mobilidade dos itabaianenses, a exemplo da criação de ruas compartilhadas, a ampliação de 12 km em ciclofaixas, além da construção de estacionamento público e rotativo e a implementação do programa Bike Social. O objetivo do plano, conforme registra o texto aprovado na Câmara, é evitar o crescimento desordenado da cidade e tem o prazo de 10 anos para ser colocado em prática.
Mais de 20 condomínios foram construídos na área de expansão da cidade
Na esteira do crescimento urbano em Itabaiana, mais de 20 condomínios foram construídos na área de expansão da cidade (próximo ao Shopping Peixoto) nos últimos dez anos, segundo levantamento feito pela Ethos Incorporadora, ao qual a reportagem teve acesso.
A empresa do ramo de incorporação imobiliária foi fundada pelo arquiteto Edson Passos em 2008 e tem se destacado no setor. Um dos mais conhecidos empreendimentos da Ethos é o Chiara Lubich, bairro de classe média construído na zona de intersecção entre a parte alta e a parte baixa da cidade. Antes de ser concebido, o local possuía uma área densa de mata e, de lá, era possível ter uma visão privilegiada do Parque Nacional Serra de Itabaiana, de acordo com o livro “Passos de um Visionário”. Em compensação, as avenidas que surgiram a partir da criação do bairro ganharam mudas de palmeiras imperiais.
A criação desses conjuntos habitacionais também implicou na migração dos serviços básicos para regiões mais afastadas do centro da cidade, como escolas e instituições públicas (o prédio da Justiça Federal, por exemplo, está localizado na região central do Chiara).
Se, por um lado, esses novos arranjos imobiliários conferem mais conforto às famílias com maior poder aquisitivo, por outro tendem a deslocar moradores de baixa renda para zonas periféricas em que há pouca ou quase nenhuma atuação do Poder Público.
De acordo com Ana Rocha, professora do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFS, essas questões passam despercebidas pelas autoridades. Enquanto isso, avança o projeto de expansão que, segundo ela, não contempla os moradores.
“É um [projeto de] cidade que cresce atendendo aos interesses da especulação imobiliária e a valorização dos grandes centros sem se preocupar com aquela que deveria ser a maior preocupação: as pessoas”, argumenta a professora.
Na esteira deste processo, acrescenta a pesquisadora, as relações sociais e afetivas tendem a se fragilizar. “A própria dinâmica de crescimento do espaço urbano vai distanciando as pessoas. A Praça Matriz, por exemplo, é um exemplo disso. Há alguns anos, você encontrava pessoas conversando e socializando no local. Hoje, nem tanto”.
Uma das 50 cidades mais violentas do Brasil
Um dos fatores responsáveis por afastar as pessoas das praças, segundo Ana, seriam os índices de violência urbana, que têm assustado moradores. “Você não pode ir numa praça e voltar às dez da noite que é capaz de ser assaltado”, destaca o mototaxista Nalderino Santana, que vive em Itabaiana há mais de trinta anos. “A coisa que eu sinto falta é sentar na calçada e ter o prazer de conversar com os amigos, e hoje nós não temos porque é perigoso”.
A cidade é uma das 50 mais violentas do Brasil, segundo levantamento feito pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública e divulgado no início deste ano. Na 28ª posição, Itabaiana possui taxa de 51,2 mortos por cada 100 mil habitantes – os números, compilados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública estão relacionados apenas à taxa de mortes violentas intencionais em 2022.
Para a Polícia Militar de Sergipe, contudo, a violência em Itabaiana tem diminuído nos últimos anos. O último balanço feito pelo 3º Batalhão da PM aponta que a cidade registrou apenas 5 mortes violentas nos primeiros seis meses deste ano – em comparação com 2016, ano em que o município registrou 52 assassinatos, a queda é de 86%.
De acordo com o tenente-coronel Anselmo Pereira, comandante do 3º BPM, os resultados indicam o sucesso do planejamento integrado entre as instâncias municipal e estadual de segurança. “Os policiais estão sendo valorizados com equipamentos, coletes e viaturas novas, além da capacitação do policial. Tudo isso repercute em um serviço de qualidade sendo ofertado à população, já que o homicídio impacta na sociedade”, afirma.
Itabaiana viveu os últimos anos celebrando títulos que fazem referência à potência no comércio, uma atividade responsável por girar a economia local, e à especial simpatia pelos caminhões. Os moradores também costumam enxergar os itabaianenses como uma população especial, dotada de “sangue empreendedor”.
Como toda cidade do interior, as disputas em torno de grupos políticos também foram significativas para o crescimento de Itabaiana, conforme descreve o historiador José Antônio Leal em artigo sobre o tema.
No município, as décadas de 1940 a 1960 tiveram como pano de fundo o acirramento da rixa entre a família Paes Mendonça (liderada pelo então prefeito Euclides Paes Mendonça, do antigo partido da União Democrática Nacional) e a família Teles (que teve à sua frente o líder político Manoel Francisco, à época filiado ao PSD), as mais proeminentes no cenário político da época.
Neste contexto, o município passa a receber investimentos importantes como forma de impulsionar o capital político desses personagens, a exemplo da reforma da Praça Matriz, a criação do Serviço Especial de Saúde Pública, o SESP (hoje transformado em uma clínica de saúde), e da Maternidade São José.
Todo esse histórico de ações desempenhadas pelas gestões municipais ao longo dos anos desembocam na Itabaiana do presente e, certamente, terá impactos na cidade que se molda dia após dia. O fato é que, apesar dos dilemas impostos ao longo do tempo, a população ressalta sempre o sentimento de pertencimento com Itabaiana, seja ela qual for: a capital do caminhão, do interior, do comércio ou a do ouro.
Jornalista formado pela UFS, Silas Brito é mais um filho da terra que não hesita em enaltecer a sua cidade. Sempre que pode, ressalta como o município serrano é o melhor lugar do mundo para se viver e destaca a importância de valorizar a história da cidade.
“Quanto mais a cidade cresce, mais o nosso orgulho aumenta. Aqui [em Itabaiana] nós estamos atentos a todas as mudanças pelas quais passamos, justamente porque isso diz respeito ao nosso sentimento de pertencimento. Você pode ir a qualquer lugar do Brasil, se encontrar um itabaianense lá, com certeza ele vai dizer que Itabaiana é o melhor lugar do mundo. Isso é ter orgulho”, pontua o jornalista.
E assim, acrescenta Silas, a cidade vai ganhando novos contornos e segue moldando o amanhã apesar dos muitos obstáculos. “Aqui, talvez o futuro já tenha chegado ao presente”.
Sobre o Zona Contexto
O Zona Contexto é uma produção feita por alunos de Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe através da disciplina Laboratório Integrado em Jornalismo I. Os alunos que assinam essa reportagem tiveram orientação e supervisão dos professores Michele Tavares, Demétrio Soster e Liliane Feitoza. Na Mangue Jornalismo, a supervisão foi do jornalista Cristian Góes e a revisão de Ana Paula Rocha. No Zona Contexto, a proposta é falar, da forma mais igualitária possível sobre as histórias que fazem as cidades sergipanas. Os alunos assumem uma postura jornalística insurgente, questionadora, que conta histórias cativantes baseadas nas vivências, nos afetos, na relação com o território, mas sem perder de vista o olhar crítico. Para conhecer mais sobre as produções do Zona Contexto acesse: bit.ly/zonacont02.