CRISTIAN GÓES, da Mangue Jornalismo
“Aqui jaz um prédio e toda história da Escola Municipal de Educação Infantil Professora Áurea Melo Zamor. A gestão insensível e autoritária do prefeito de Aracaju Edvaldo Nogueira mandou demolir toda a edificação existente, sem qualquer necessidade comprovada”. O desabafo é da professora Sandra Beiju diante das cenas das máquinas destruindo a escola e tudo que encontrava pela frente. A unidade ficava no bairro São Conrado, zona Sul de Aracaju.
Sandra, outras professoras, pais e alunos tentaram até o último segundo sensibilizar o prefeito, a secretaria de Educação, o Conselho Municipal de Educação e até o Ministério Público do Estado para que, pelo menos, a importante área verde da escola fosse preservada, mas não teve jeito. “Assassinaram mais de 15 árvores nativas plantadas na escola e que eram parte de um projeto de educação ambiental desde 2010”, lamenta a professora. Entre as maiores perdas para as crianças e professoras está a de um frondoso cajueiro com mais de 13 anos de muita sombra, beleza, flores, cheiros e frutos. Também foram arrancados pés de craibeira, umbaúba, abacateiro, seriguela, pés de acerola e uma bela palmeira Buriti. “Foram destruídos os lares de pequenos seres vivos numa área verde que era chamada de quintal da escola”, diz Sandra.
Área verde ficaram somente em fotos e na memória
Em 24 de abril deste ano, a Mangue Jornalismo publicou uma reportagem sobre essa escola. O título foi (Carta de uma escola ao prefeito de Aracaju: NÃO QUERO SER DEMOLIDA. A luta de crianças e professoras contra a destruição da área verde, da história e dos sonhos) Daquela data em diante, foram vários atos tentando sensibilizar a gestão municipal para, no mínimo, preservar a área verde da escola, mas tudo em vão. Tudo foi destruído pela prefeitura.
A Escola Áurea Zamor ficava em frente a uma praça arborizada (o que é raro em Aracaju), era horizontalizada e a área verde era parte fundamental do processo de aprendizagem das crianças. Lá os alunos e professoras realizavam inúmeras atividades pedagógicas, a exemplo de pesquisas sobre insetos, folhas e frutos, além da coleta e formação de mudas de várias plantas e árvores.
Rita Silva, mãe de três crianças, disse que os pais sempre pediam a melhoria da escola, uma reforma, pintura. “Reforma sim, nunca demolição. Não havia necessidade nenhuma de demolir e levantar outro prédio. As crianças aqui tinham aulas de cultura, música, teatro, desenho e as árvores onde elas aprendiam também. Não aceitamos a demolição, mas não há o que fazer”, disse a dona de casa.
“A área verde da escola era vital para educação dessas crianças porque ali se promovia o conhecer e a conexão das crianças com a natureza – sementes, terra, água, sol – nova vida, nova plantinha. Ajudava as crianças a compreender que elas e nós somos parte integrante da Natureza e dos seus ciclos complexos e perfeitos que garantem a reprodução de várias formas de vida”, revela a professora Sandra Beiju.
Em lugar da natureza, uma caixa de cimento vertical
Com muita luta, a direção e as professoras tiveram acesso ao projeto de construção da “nova escola” e muitas ficaram horrorizadas. Será construído um prédio vertical sob a alegação de ampliação de vagas. Curioso é que a comunidade escolar sempre defendeu a criação de mais vagas, mas professoras dizem que jamais aceitaram e concordaram com um projeto que acaba com a área verde, desrespeitando a comunidade escolar e ferindo de morte o projeto pedagógico da unidade.
“Isso é inaceitável, reprovável. O prefeito e o seu secretário de Educação, sem a menor sensibilidade e sem qualquer compromisso ambiental, eliminam toda área de cobertura vegetal existente no terreno da escola para no seu lugar colocar cimento. A prefeitura suprime toda área verde e importância pedagógica e ambiental para todos nós e vai erguer uma caixa de cimento em seu lugar”, denuncia Sandra Beiju.
Antes de ser demolida, a escola Áurea Zamor possuía seis salas de aula amplas, com boa iluminação natural, salas de leitura, de recursos multifuncionais, da direção, almoxarifado, secretaria, sala dos professores, cozinha com depósito e sanitários. A escola ainda tinha três pátios, onde eram realizadas comemorações, atividades lúdicas e servia de refeitório. A escola possuía a área aberta onde foram plantadas várias árvores, muitas frutíferas.
No último dia 17 de julho, toda essa edificação foi demolida, inclusive a área verde foi aterrada. A ação do prefeito atende a um projeto arquitetônico de “reforma e ampliação” elaborado pela Empresa Municipal de Urbanização e Obras Públicas (Emurb), sob encomenda da Secretaria de Educação. “Um projeto que não dialogou com os sujeitos da escola, aí incluindo as crianças, não escutou suas necessidades e desejos”, afirma Sandra.
A prefeitura alugou uma casa no bairro 13 de Julho para instalar a escola e todos os dias três ônibus fazem o transporte das crianças. Isso deve durar dois anos até a “caixa de cimento” ser entregue.
Crianças fizeram o salvamento de um pau-brasil
Antes de ser interditada para as demolição, foram realizadas várias mobilizações para tentar sensibilizar para a reforma, mas com a preservação da área verde. A comunidade apresentou para a prefeitura um abaixo-assinado incluindo itens de sustentabilidade como: placas para uso de energia solar e sistema de captação de águas de chuva. Nada foi levado em consideração.
Dias antes das professoras e crianças serem impedidas de retornar para a escola, no turno da manhã, elas conseguiram fazer o salvamento de um pé de pau-brasil ainda jovem e que tinha sido plantado em uma atividade pedagógica em 2019, onde se celebrava a natureza e a vida. O pau-brasil foi salvo no dia 7 de junho, contando com as crianças, professoras e técnicos voluntários em ecologia. A árvore salva foi plantada com sucesso na praça em frente à antiga escola.
Sandra Beiju não aceita o argumento de destruição da área verde para ampliar vagas. “Todos nós queríamos a reforma e a ampliação de vagas, mas não desse jeito. Com toda tecnologia disponível na área de construção civil, seria possível sim, atender à necessidade de ampliação de vagas e a preservação da área verde tão importante para as crianças”, analisa. Para a professora, a ação do prefeito em destruir a área verde está na contramão de todos os debates que vêm acontecendo no Brasil e no mundo sobre educação ambiental emancipadora, emergência climática e o papel importante da educação formal. “Está totalmente na contramão do que estabelecem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), instituídos pelas Nações Unidas”, complementa.
Desprezo pelo meio ambiente e favorecimento ao cimento
Desde 1975, quando o empresário da construção civil João Alves Filho foi nomeado prefeito biônico de Aracaju pela ditadura civil-militar, a capital sofre violentos ataques ao meio ambiente. A antiga cidade de inúmeras áreas verdes viu avançar a lógica do cimento, do aterro, do concreto e do asfalto sobre esses espaços de respiros e vida.
A destruição de mangues, aterros de rios, derrubada de árvores eram parte da “marcha para o progresso”. Na semana passada, a Mangue Jornalismo fez uma reportagem mostrando a relação direta entre a ditadura civil-militar, as empreiteiras, os poderes públicos e a destruição dos manguezais (Ditadura e empreiteiras agiram juntas na destruição de manguezais em Aracaju. Camaradagem público-privada persiste na supressão do ecossistema )
Essa lógica destrutiva, que a narrativa oficial e da imprensa transformou em ações de progresso e modernidade, nunca teve recuo. Um pequeno exemplo disso é o que aconteceu com a Escola Municipal Áurea Zamor, além de várias outras escolas da prefeitura de Aracaju.
Muitas unidades que precisavam de algumas reformas foram completamente demolidas, cobrindo de concreto área verde, acabando com a condição horizontalizada de unidades de educação infantil. E tudo isso, como denunciam professoras, sem consulta à comunidade e o silêncio cúmplice de órgãos de controle e fiscalização.
Obras devem durar dois anos e o orçamento é superior a R$ 7 mi
Em nota enviada para Mangue Jornalismo, “a Secretaria Municipal da Educação de Aracaju (Semed) informa que, conforme consta no Portal da Transparência da Prefeitura de Aracaju, a obra de reforma e ampliação da Escola Municipal de Educação Infantil Áurea Melo Zamor foi iniciada no final de junho 2023 e tem prazo estimado para sua conclusão em 540 dias, com orçamento de R$ 7.226.650,15”.
Segundo a prefeitura, “a obra aconteceu com a devida licença da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Sema), que prevê a compensação após a sua finalização, entregando para a comunidade espaços nos quais serão possíveis desenvolver os projetos ambientais presentes no Projeto Político Pedagógico da Escola”. A prefeitura garante que “todo o projeto de reforma e ampliação foi apresentado aos pais dos alunos, a professores e a gestão da unidade em uma reunião realizada na própria escola entre a Semed e a comunidade escolar no dia 2 de junho. Concluída a obra, a Emei terá dois pavimentos e passará a contar com 14 salas de aula, sendo 7 destas para berçário e creche e 7 para a pré-escola. O prédio ainda contará com uma Sala de Recursos Multifuncionais, uma sala de leitura, área livre com parque infantil e um deck de madeira. Todo o local atenderá às normas de acessibilidade”.
Respostas de 4
Impressionante é o quanto o Gestão do Prefeito Edvaldo Nogueira ” enfeita” as informação inverídicas. A reunião ocorrida no dia 02 de junho ocorreu por solicitação da direção da escola e a pauta foi a logística de transporte das crianças para o prédio alugado no bairro 13 de Julho – tudo providenciado pela Secretaria Municipal de Educação, nunca foi para “apresentar o projeto à Comunidade” . Nós somente tivemos acesso ao Projeto por solicitação da direção da escola. Não fosse assim, nunca saberíamos o nível de destruição que essa obra aprovada pelos próprios órgãos municipais, ou seja, pelo Secretariado do Prefeito Edvaldo Nogueira, causaria e causou a Escola Profª Áurea Melo Zamor. É lamentável, é reprovável tudo que aconteceu e comprova o perfil autoritário do prefeito de Aracaju.
Notem que essa gestão iniciou uma obra no apagar das luzes do mandato do prefeito que aí está. A gestão chegará ao fim e nós da Escola Profª Áurea Zamor vamos continuar desalojadas, trabalhando em um prédio improvisado e o pior, as crianças se deslocando do Bairro São Conrado para o bairro 13 de Julho de transporte escolar: São crianças pequenas.
O Projeto Político Pedagógico da escola foi completamente desconsiderado. Todos os Sujeitos da escola foram desrespeitados nessa ação da Gestão EDVALDO NOGUEIRA. Ele é o prefeito cortador de árvores e demolidor de escolas.
É revoltante a insensibilidade do prefeito Edvaldo Nogueira, do secretário Ricardo Abreu, meu colega de órgão público (a UFS). Não que na UFS devesse ter somente pessoas sensíveis a essas questões, mas, custa acreditar que alguém com tamanha trajetória como o professor Ricardo se preste a esse papal. Eu conheço de perto de alguns anos a história da escola Áurea Zamor e sei o que representa(va) aquela escola para toda a comunidade que a compõe, espacialmente para a formação daquelas crianças. Que fossem construídas tantas quantas salas de aula sejam necessárias, mas em espaços que não viessem a transformar uma escola agradável, sustentável, saudável, em um “caixote”, em um confinamento. Não tem justificativa! Por outro lado, partindo de Edvaldo Nogueira, que em vários momentos demonstra não ter qualquer sentimento voltado à flora e à fauna, não poderia nos surpreender.