Entre arcos, flechas e pistolas: Diocese de Propriá, ditadura militar e a luta do povo Xocó

OSNAR GOMES DOS SANTOS, especial para Mangue Jornalismo
(osnar.gomes@hotmail.com)

Dom José Brandão de Castro, bispo de Propriá (Crédito: Revista Manchete, 02 de dezembro de 1978)

Em setembro de 1978, os assim chamados caboclos da Caiçara compraram arame para cercar as terras que reivindicavam da Ilha de São Pedro, município sergipano de Porto da Folha. As terras foram prometidas para os indígenas ainda no século XIX.[1]

Desde o século XVII, os capuchinhos de frei Doroteu por lá trabalharam com os indígenas em missões. Os caboclos da Caiçara não diziam, nem podiam dizer – os mais novos nem sabiam -, mas eram remanescentes desses indígenas.[2]

Eles cercaram as terras da Ilha de São Pedro. O problema é que, no meio delas, estava a fazenda Belém, de propriedade da tradicional família Britto, uma das maiores oligarquias do Estado de Sergipe.

A história da família Britto com aquelas terras começou ainda no século XIX. Com os aforamentos das terras pertencentes às missões, o coronel João Fernandes de Britto – conhecido como coronel Porfírio -, no ano de 1897, assenhora-se, gradativamente, de cinco dos oito lotes das terras divididas.

Décadas depois, após várias tentativas de recuperar as terras e diante da situação de abandono, os caboclos da Caiçara resolveram cercar a área. Concluíam que aquelas terras pertenciam a eles, e não aos descendentes do coronel João Fernandes de Britto.

A Diocese de Propriá entrou no conflito a favor dos caboclos. Mais do que isso, o clero iniciou uma operação que envolvia não apenas a luta pela terra, mas também pelo reconhecimento dos caboclos da Caiçara enquanto remanescentes dos Xocó.

A entrada da Igreja Católica na disputa de terras atiçou a fúria das oligarquias locais e de políticos tradicionais. A diocese ganhou novos inimigos, dentre eles o ex-governador Lourival Baptista, que se tornou adversário direto da instituição. A polícia política, como de costume, alimentou suas suspeitas e ataques contra os religiosos do baixo São Francisco.

No contato com os Xocó, a equipe missionária utilizou novos métodos de atuação. O seu engajamento na luta dos indígenas enfureceu membros da família Britto, dentre eles o advogado Carlos Ayres Britto. Reações violentas contra o clero marcaram a história da luta Xocó.

A luta pelo reconhecimento dos Xocó  

Os mais velhos diziam saber que eram índios, mas também sabiam que não podiam dizer. Numa entrevista, nos anos 1980, disse um velho Xocó: “[…] a gente tinha vontade de brincar nossas cerimônias, mas se dissesse naquela época que era índio eles matavam”. Enquanto isso, Apolônio, mais jovem, comentou:

Para você ter uma ideia, não é que eu não sabia que eu pertencia ao índio, eu nunca ouvi ninguém falar que ali tinha índio ou muito menos que o Brasil sempre foi habitado pelos índios. Eu não sabia quem era esse povo. E anos depois descobri que sou um remanescente. Então, ninguém falava por isso, se você começasse a falar que era índio, você ia sofrer, apanhar, ser assassinado, ser expulso […].[3]

Foi nesse contexto de descoberta e radicalização que os caboclos da Caiçara resolveram tomar a posição de cercar 800 tarefas daquelas terras, em setembro de 1978. Contudo, o sistema de informações da ditadura tinha uma versão diferente do ocorrido.

O IV Exército difundiu informe para outros serviços da inteligência acerca da participação da equipe missionária na história do cerco. O comunicado defendeu que foi decisiva a participação dos frades da paróquia de Porto da Folha, Enoque e Roberto Eufrásio, “que com um profícuo trabalho de massa e doutrinação levaram as famílias dos índios Xocó a invadirem a Ilha de São Pedro”.[4] Foi dito ainda que os frades agiam sob a orientação do bispo.

De fato, o auxílio da diocese teve a sua importância para a tomada de decisão dos caboclos da Caiçara. Especialmente, para o reconhecimento de que eles eram remanescentes Xocó. Frei Enoque chegou a pesquisar em arquivos de Salvador, onde descobriu importantes documentações sobre a presença histórica dos capuchinhos e dos Xocó na região.

O trabalho do frade foi mais um dos muitos trabalhos de pesquisa que fizeram a Fundação Nacional do Índio (Funai) admitir que nunca teve em mãos um caso tão documentado quanto aquele.[5] Porém, a decisão de cercar as terras veio dos próprios caboclos.[6]

O bispo dom Brandão na ilha de São Pedro (Crédito: CDJBC)

O boletim diocesano, matérias na imprensa e até documentos confidenciais da comunidade de informações detalharam o ocorrido. Foi noticiado que os caboclos tinham mil cruzeiros que guardavam de suas danças de reisado, além do dinheiro que receberam com a venda de uma vaca.[7]

Apoiando a causa, a diocese celebrou o cercamento em notas oficiais.[8] Ademais, através dos seus boletins, deixava recados de encorajamento aos caboclos Xocó que estavam em Porto Real do Colégio, município de Alagoas, e espalhados em outros lugares.

Os caboclos da Caiçara foram se reconhecendo enquanto remanescentes indígenas e, assim, procuraram escapar da marginalização de modo dramático. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) chegou a enviar o aparelho policial para reprimi-los. Circularam em Aracaju informações de que havia uma invasão de terras protagonizada por trabalhadores rurais que ofereciam resistência.[9]

Crédito: Comissão Estadual da Verdade Paulo Araújo Barbosa (CEV)

Os policiais enviados pela SSP chegaram impetuosos, numa Chevrolet veraneio azul, prontos para dar fim à “invasão” de terras. Porém, acharam por lá outra realidade. Saíram espantados com a miséria local, chegando a fazer “vaquinhas” a fim de arrecadar alguns trocados para os sitiados comprar alimentos.[10]

Viram que não houve invasão. Os caboclos da Caiçara já residiam naquelas terras. O que fizeram foi cercá-las. Além disso, respeitaram o cerco dos proprietários, levantado pelo gerente da fazenda, João Britto.[11]

Os remanescentes Xocó na beira do São Francisco. (Créditos: Jornal de Sergipe, setembro de 1978.)

Agentes espiões monitoraram atividades da diocese de Propriá

Enquanto isso, a polícia política levantava dados sobre o que chamavam de “possíveis irregularidades” na atuação de padres e de outros elementos. No mês de setembro de 1978, dois agentes policiais, José Carlos Nunes e Amilton Nonato Borges, defenderam a necessidade de a Polícia Federal estar atenta ao caso da ilha de São Pedro, dado que ali poderia surgir, no futuro próximo, um “Canudos”.[12]

Em novembro, os dois agentes receberam a missão de se deslocar ao município de Propriá “a fim de proceder diligências” de caráter reservado. Os custos operacionais da missão foram relativos às quatro diárias com alimentação e à pousada para cada componente da equipe.

O informante José Carlos Nunes conversa e olha para o local onde foi erguida a cerca. Créditos: Comissão Estadual da Verdade Paulo Araújo Barbosa (CEV)

O relatório da missão dos agentes é datado de 07 de novembro de 1978, alguns dias depois do ocorrido na ilha de São Pedro. Segundo consta no texto, a ação dos cariris de Alagoas os lembrou do cercamento dos caboclos Xocó de Sergipe.

Notaram a presença de elementos da diocese de Propriá nos dois casos. Comentaram que dom Brandão, juntamente com uma caravana de pessoas, esteve em Porto Real do Colégio dias antes de uma ação dos cariris.

No dia 02 de novembro de 1978, os dois agentes da Polícia Federal estiveram em Propriá para colher mais informações.[13] As andanças dos agentes pela cidade de Propriá oferecem uma verdadeira explanação do que era a visão da espionagem durante a ditadura. Foi dessa forma que eles detalharam o início do monitoramento na cidade:

No dia 02.11.78, quando da nossa chegada à Propriá, sentimos que estava havendo qualquer coisa estranha na cidade. Junto ao Colégio de Nossa Senhora das Graças, cognominado, “Colégio das Freiras”, pois, ali residem freiras, como também, há uma escola, onde elas lecionam, se encontravam diversos carros, e alguns deles, estavam expostos cartazes, contendo legendas do MDB/SE, e também havia diversos elementos […] alguns deles, estavam do lado de fora, isto é, na calçada, e outras se encontravam dentro do Colégio (Convento). Nas blusas de algumas dessas pessoas, estavam escritos nomes de candidatos do MDB/SE, candidato esses que estão tendo todo o apoio do clero local.

No local, também, estavam alguns políticos, políticos esses que tem os seus nomes no rol dos subversivos, tais como o Jackson Barreto, candidato a Deputado Federal e o Pe. Enoque. O Pe. Enoque, por um momento, estava acompanhado de outros dois padres, um deles, se chama Pe. Josafá, do Prelado de Alagoas, e o outro, infelizmente, não há nenhum dado a respeito de sua pessoa. Ambos, em Propriá, são novatos, estando ali provisoriamente, até o encerramento do Seminário.[14]

Os agentes continuaram expondo detalhes da estadia na cidade. No dia seguinte, estiveram na missa celebrada pelo padre Etienne Lemaire. Eles comunicaram que este padre era considerado, em razão dos seus procedimentos, um grande agitador.

Os agentes policiais esperavam que caravanas chegassem até o dia 05 de novembro na cidade. Informaram que elas não chegaram. Em seguida, eles disseram ter recebido informações sobre a rivalidade entre o bispo e a família Britto, e que souberam da ameaça de morte ao bispo feita por um irmão do prefeito que trabalhava na Capitania dos Portos em Aracaju.[15]

Ainda comunicaram que houve reuniões no Seminário São Geraldo, entre os dias 01 e 05 daquele mês. Disseram ter descoberto que, nos primeiros dias de reuniões, os padres abordaram assuntos pertinentes à política atual, como também, a respeito do que os agentes chamaram de “invasões de terras” nas fazendas Escola e Caiçara.

Por fim, comentaram que no terceiro dia nada mais foi tratado. Os dois agentes concluíram que nada foi tratado por causa da tentativa frustrada de um cabo da polícia militar de Sergipe – a serviço do 28º BC – e de um sargento do Exército em penetrar no Seminário. Tanto o cabo quanto o sargento acompanhavam os dois agentes policiais que narravam o episódio.

O cabo foi barrado dentro do Seminário. Porém, junto do sargento, procurou novamente se infiltrar no lugar, acreditando que nem ele e nem o sargento tinham sido “queimados”. Os agentes comunicaram no informe que os dois, cabo e sargento, continuaram a ficar de “campana” no local, à vista das pessoas que circulavam por ali.

Em razão do vacilo do cabo e do sargento, os agentes policiais acreditavam que os padres tinham percebido o monitoramento e, por isso, desistiram de “administrar aulas subversivas, como também realizar a concentração tão badalada em Propriá e a distribuição de panfletos”.

No que tange os panfletos, os agentes concluíram que o irmão marista Fábio Alves dos Santos imprimia e relatava o boletim Encontro com as comunidades. Sobre Fábio, comentaram: “dizem que o mesmo é grande agitador”.[16]

Também identificaram o jovem Martins como outro responsável pela circulação dos panfletos.[xvii] Os agentes chegaram a informar até o número de placas de carros que estavam próximas ao Seminário. A missão encaminhada pelo superintendente regional da Polícia Federal, Carlos Augusto Machado Lima, estava encerrada.  Porém, outras foram montadas.

Na verdade, a missão dos dois agentes policiais tinha relação com a instauração de uma Investigação Policial Preliminar (IPP). Esta tinha por objetivo apurar as disputas entre o clero da diocese e a família Britto.  A IPP refletiu a reação da família Britto e de aparelhos policiais contra o envolvimento da diocese no conflito. Naquele cenário, entre paus, arcos, flechas e pistolas, a diocese encampou a sua opção preferencial pelos, agora assumidamente, xocós.

Reações nervosas: o confronto da família Britto contra o clero

O prefeito de Propriá, Antônio Guimarães Britto, e o bispo dom Brandão. (Créditos: Estado de São Paulo, 10 de dezembro de 1978)

Disse Antônio Guimarães Britto, prefeito de Propriá, sobre o bispo dom José Brandão de Castro: “Eu acho que ele é o cão (diabo) em figura de gente”.[18]

Evidente que os membros da família Britto reagiram; afinal, tinham o domínio daquelas terras há quase um século. Elizabeth Britto era a viúva do filho do coronel João Fernandes de Britto, portanto, tinha a posse legal das terras. Ela era mãe do prefeito da cidade, Antônio Guimarães de Britto (ARENA-SE), que também se viu envolvido no conflito.

As reações da família foram múltiplas. Elizabeth Britto enviou carta ao bispo e aos frades Enoque e Roberto Eufrásio. Comunicou aos religiosos que estava, terminantemente, proibida a realização de encontros, festas e reuniões nos lotes da fazenda Caiçara, vizinha da fazenda Belém. Também dizia estar proibida a presença dos religiosos por lá.

Elizabeth lembrou que aquelas eram propriedades privadas. Ademais, responsabilizava o bispo e os franciscanos por qualquer consequência que, porventura, acontecesse na área.

Por último, uma mensagem mais direta: “[…] ficam aqui consignados os nossos protestos e apelo, no sentido de que os fatos que vêm sucedendo não mais ocorram em nossa propriedade, evitando-se, por conseguinte, consequências futuras e desagradáveis”.[19] Segundo consta num ofício da Polícia Federal, foi Elizabeth quem solicitou a abertura do inquérito policial contra o bispo e os frades.

Inclusive, em outro ofício policial, foi dito que casos como aquele ocorrem em todo interior do país, e cuja apuração é da alçada da justiça local. Porém, o delegado de Polícia Federal, Carlos Augusto Machado Lima, determinou a instauração de IPP por haver sido procurado pelo prefeito Antônio Britto, que estava acompanhado de um assessor direto do governador do Estado.

E também, comentou o delegado, porque, ao fazer um exame preliminar, percebeu o envolvimento do clero por meio de frades, segundo ele, “bastante conhecidos dos Órgãos de Segurança e Informações, e, como vítima, a já citada genitora de um Prefeito Municipal pertencente à ARENA […]”.[20]

As ofensivas iniciais da família Britto não pareceram intimidar o clero diocesano. Sobre as cartas de Elizabeth Britto, o bispo as tornou públicas, ao compartilhá-las na imprensa. A diocese pareceu se esforçar para criar uma projeção pública do seu envolvimento na luta dos xocós.

De acordo com o antropólogo Maurício Arruti, essa projeção pública significava um poder político à parte, “capaz de alterar profundamente o tradicional equilíbrio de forças manipulado pelas elites locais”.[21]

Além disso, antes mesmo do cercamento na ilha de São Pedro, a diocese tomava medidas que batiam de frente com os tradicionais pactos de poder entre a Igreja e as classes ricas. Medidas antes impensáveis foram tomadas contra o proselitismo político dentro da Igreja.

Elas contrariavam o poder simbólico tão disputado pelas elites que procuravam manter o seu prestígio na sociedade. No dia 06 de setembro de 1978, uma carta pastoral delineava quatro deliberações a respeito da celebração de missas e atos religiosos integrados a comemorações de acontecimentos políticos. Dos cinco pontos traçados, quatro se referiam diretamente a estas questões:

  1. Não pode ser celebrada MISSA DE POSSE DE POLÍTICOS
  2. Não pode ser celebrada MISSA POR OCASIÃO DE ANIVERSÁRIOS DE POLÍTICOS
  3. Não pode ser celebrada MISSA PARA COMEMORAR ACONTECIMENTOS POLÍTICOS (exs. 7 de setembro, aniversário da Revolução [de 1964], inaugurações, etc.)
  4. Não pode ser celebrada MISSA DE CONCLUSÃO DE Ginásio, Pedagógico ou outro qualquer curso. É o que se chama formalmente de MISSA DE FORMATURA.[22] 

As medidas logo causaram novos choques entre o clero e a família Britto. Em outubro de 1978, na paróquia do povoado Poção, município de Canhoba, o padre Nestor Mathieu comunicou ao senhor Alvorindo Melo e a sua esposa que o prefeito de Propriá, Antônio Guimarães Britto, por enquanto, não poderia ser aceito como padrinho do seu filho.

Segundo relato no boletim diocesano, o padre argumentou que ser padrinho exigia um comportamento cristão no dia a dia. Disse ainda que o prefeito não estava em comunhão com a linha de trabalho da diocese e que a família Britto queria desmoralizar o bispo e matar frei Enoque, devido ao problema na ilha de São Pedro.[23]

No dia 14 de outubro, conforme apontou aquele relato, o prefeito, contra a orientação do padre Nestor, se apresentou como padrinho para registrar oficialmente o seu afilhado no Livro de Batizados da paróquia do povoado Poção. Em seguida, subiu num banco da capela e falou para os presentes.

Além disso, comunicou o informe do boletim: “Ele apontou o padre Nestor como ‘corrupto’ e se apresentou como ‘católico e pai da pobreza’”. Por fim, o irmão do prefeito, Élcio Britto, gritou do lado de fora da paróquia contra o padre Nestor: “Não vá a Propriá, filho… eu queimo você. Não atiro agora por respeito à capela”.[24]

A ameaça de Élcio logo ganhou matérias nos jornais. O clero diocesano interpretou as intimidações como sinal de que estavam no caminho certo em sua opção pelos pobres. Numa missa em Propriá, alguns dias após os ocorridos em Canhoba, o padre belga Léon Gregório argumentou que as pressões contra o clero eram produtos da defesa dos pobres. Falando aos fiéis, pontuou:

[…] não são os poderosos que estão aqui. São vocês, os pobres, os perseguidos que estão aqui unidos ao nosso Bispo […]. Nós amamos vocês. Quem oprime vocês, quem persegue vocês, são também contra o Bispo e os padres. Rezemos pelos nossos inimigos. Não temos ódio no coração, embora seja muito difícil não ter ódio a quem persegue os pobres.[25]

Reações violentas da família Britto contribuíam ainda mais para a diocese interpretar as oposições sofridas enquanto provações cristãs. Atitudes desencontradas serviram para que as críticas à família Britto se ampliassem nos principais jornais do Estado.

Puxões de cabelo, insultos e ameaças: violência dos Britto interrompe missa na catedral

A reação mais marcante da família Britto contra a atuação do clero ocorreu numa missa dominical, realizada na catedral de Propriá, no dia 26 de novembro de 1978. Nessa missa, o irmão marista Fábio Alves dos Santos foi designado para pregar o Evangelho.

O tema escolhido versaria sobre a predileção de Deus pelos pobres e fatos concretos em que Deus mostrou essa predileção. Os casos escolhidos como exemplo pela diocese foram os de Betume, da Caiçara e de Porto Real do Colégio.

Ademais, na ocasião também se faria uma coleta em benefício das famílias que cercaram os lotes na ilha de São Pedro e aguardavam a decisão da justiça sobre a posse daquelas terras.

À noite, enquanto Fábio ensaiava os cantos com os fiéis, o prefeito de Propriá, acompanhado de João Britto, se aproximou de Paulo Rezende – gerente do Centro Social Urbano de Propriá e diretor do Colégio Santo Antônio – e sentou ao seu lado.

Num dos relatos do clero, foi dito que atrás do harmônio da catedral havia um grande número de senhores cujas fisionomias não eram conhecidas. O padre Etinenne Lemaire, um dos religiosos que estava na missa, logo foi advertido pelos fiéis. A celebração foi iniciada em meio a um clima de tensão.

O celebrante Fábio começou a pregação. Leu o Evangelho de Mateus e sinalizou o amor de Cristo Rei pelos pobres e que ele está ao lado dos que sofrem. Citou as vitórias judiciais dos trabalhadores de Betume como exemplo de que Deus estava do lado deles. Foi então que começou a narrar os episódios na ilha de São Pedro, sem parecer se intimidar com a presença dos Britto na catedral. Disse ele:

No dia treze de setembro passado um outro fato abalou a opinião pública do Estado, principalmente da nossa cidade de Propriá. É que algumas famílias da Caiçara retomaram parte da ilha de São Pedro. O povo estava sofrendo muito, o povo passava fome por não ter mais trabalho […].[26]

Em meio à narração, ouviu o forte grito de João Britto: “É mentira, cabra safado!” Celebração interrompida. Um senhor, ao lado do Britto, segurou-o para que ele não subisse no altar. Porém, João não estava sozinho.

Outras pessoas não identificadas subiram no altar e esbravejaram: “Preguem o Evangelho, vocês são uns comunistas!” A confusão estava feita. Na catedral lotada de fiéis, algumas pessoas, tomadas pelo pânico, saíram correndo. Aproximadamente dez minutos de tensão, com senhoras gritando, chorando e correndo. 

Ivan Britto, outro irmão do prefeito, aproximou-se do celebrante e, aplicando-lhe solavancos com os cotovelos, tomou o seu microfone. Em cima do altar, exclamou: “A família Britto é religiosa, o povo quer vir para a Igreja ouvir o Evangelho e não comunismo e subversão”.

Antes, Ivan convidou o celebrante da missa para “acertar as contas fora da Igreja”. Paulo Resende fez o mesmo convite: “Quero ver sua coragem lá fora […]. Você não vai dormir aí na Igreja, seu comunista”.[xxvii] Pouco depois, um funcionário de Ivan, puxando os cabelos do celebrante, proferiu contra ele insultos e ameaças.

Dois senhores subiram no altar em defesa de Fábio. Disseram: “Somos soldados de Cristo. Nos padres ninguém bate”. Com esforço, o padre Etienne recuperou o microfone e prosseguiu com a missa, pedindo calma e que todos se sentassem.

Após a confusão, Fábio convocou os ainda presentes a pedirem a luz e a força do Espírito Santo. A situação foi parcialmente controlada.

O clima de constrangimento não cessou. Receosos, alguns fiéis foram até o padre Etienne alertá-lo sobre o perigo de sair da Igreja ao término da missa. Relataram: “Elementos da família Britto e outros não identificados se encontravam nas proximidades do templo com ameaças inclusive de morte”.[28]

Charge do Jornal de Sergipe, na edição de 30 de agosto de 1980.

Com um esquema de segurança bem organizado, previamente preparado, os religiosos escaparam de possíveis novas hostilidades, provavelmente mais nervosas, pois viriam do lado de fora da catedral. Dirigiram-se para Japoatã, onde se encontrava o bispo.

A ofensiva da família Britto, em plena missa dominical, acentuou as críticas a ela na imprensa sergipana. Títulos, muitos em caixa-alta, sinalizavam o tom alarmante dos textos.

Alguns exemplos: “O TERRORISMO DOS BRITOS”, “CRISE EM PROPRIÁ”, “FAMÍLIA BRITO PRATICA TERRORISMO NA IGREJA”, “BRITTOS RESPONDERÃO INQUÉRITO POLICIAL”, “FIÉIS AMEAÇADOS E MISSA INTERROMPIDA”.[29]

Subir no altar, tomar o microfone da mão do celebrante e causar pânico entre os fiéis não pareciam ser boas estratégias em tempos de abertura política. Embora a acusação de comunista ainda tivesse a sua gravidade, não tinha mais o mesmo efeito em tempos de distensão gradual da ditadura.

De todo modo, a diocese procurou se defender. O agente de pastoral que celebrou aquela missa chegou a relatar: “Por um bom tempo, eu só saía na cidade acompanhado […]. Eu ia dar aula sempre acompanhado, um carro me pegava, me deixava na porta do colégio”.[30]

O bispo falou ao secretário de Segurança Pública, Eraldo Aragão, sobre o clima de ameaças aos membros da sua Diocese por parte da família Britto.[31]

Dom Brandão disse ao secretário que a intenção dos Britto estava explicitada na carta que Elizabeth lhe enviou: responsabilizá-lo por qualquer ato que venha a ocorrer. Ainda pontuou que, de acordo com informações, a família contratou 30 homens para invadir o povoado da Caiçara e surrar os posseiros, com o propósito de responsabilizá-lo pelo violência.[32]

Para finalizar, a diocese convocou os fiéis para uma missa de reparação e solidariedade à Igreja de Propriá. Além da presença de alguns bispos do campo mais progressista do catolicismo no Nordeste, a diocese recebeu mensagem de solidariedade num telegrama enviado pelo secretário-geral da CNBB, dom Ivo Lorsheider.[33]

 A diocese se mostrava unida e apresentava força diante das ofensivas. As próprias instâncias policiais que cobriam o caso não viam com bons olhos as reações nervosas dos Britto.

O delegado Carlos Augusto Machado Lima chegou a comunicar ao diretor-geral da Polícia Federal em Brasília, o coronel Moacyr Coelho, que o prefeito esteve em seu gabinete, no dia 21 de novembro de 1978, para informar a decisão que tomou com outros membros da sua família de se dirigirem, no dia 25 de novembro, ao local onde estavam as famílias que invadiram as suas terras, com o objetivo de expulsá-las a qualquer custo.

O delegado informou que a sua equipe ficou apreensiva e, por isso, entrou em contato com o comandante do 28º BC “que, por sua vez, estava com o Senhor governador [José Rollemberg Leite]”. Sabendo da informação, o governador enviou um emissário especial, também da família Britto, com o objetivo de acalmar os ânimos. Era o consultor-geral do Estado, o advogado Carlos Ayres Britto. Este conseguiu dissuadir o prefeito de praticar aquele ato, segundo informou o delegado de polícia.[34]

Carlos Ayres Britto publicou artigo contra atuação do bispo de Propriá

Carlos Ayres Britto estava do lado da sua família, mas isso não o pareceu levá-lo a contemporizar com reações mais explosivas. Por outro lado, Ayres Britto se opôs frontalmente à linha adotada pela diocese. Incomodava-o profundamente as críticas do bispo à conquista das terras Xocó por parte do coronel Porfírio, o patriarca da sua família.

O advogado, que um ano antes felicitava o bispo por sua nomeação na Academia Sergipana de Letras, confrontou a diocese com mais inteligência. Ao invés de ameaças, Ayres Britto escreveu um artigo chamado “O coronel e o bispo”. Este artigo foi publicado no mês de novembro de 1978, distribuído à imprensa sergipana e por toda a cidade de Propriá.

Créditos: Jornal da Cidade, 17 de novembro de 1978.

No artigo, uma espécie de manifesto, Ayres Britto não poupou críticas a quem tratou como amigo um ano antes. Defendeu, logo nas primeiras linhas, que o bispo era inimigo pessoal do prefeito de Propriá e levava essa inimizade às últimas consequências, a ponto de:

(1) incentivar e justificar a invasão de terras da família do prefeito; (2) proibir o sacramento de batismo sempre que o prefeito se apresentar como padrinho; e (3) investir contra a memória do coronel João Fernandes de Britto – o coronel Porfírio -, avô do prefeito, falecido há 62 anos.[35]

Sobre as acusações feitas pelo bispo ao coronel Porfirio, Ayres Britto as classificou enquanto:

(1) impiedosamente anticristãs, na medida em que desrespeita memória de pessoa já falecida e que mantinha as melhores relações com o clero; (2) incompreensivelmente levianas, pois baseadas excessivamente em depoimentos testemunhal de uma anciã analfabeta com idade superior a 90 anos, sem a menor qualificação subjetiva para legitimar tão graves acusações; e (3) flagrantemente difamatórias, dado que atentatórias do excelente conceito social do ofendido.[36]

O advogado criticou publicações da diocese sobre o coronel. Falou em publicações carregadas de ódio e exacerbadoras de ânimos. Diante das publicações, que acusava de ser uma “expressão formal dos últimos acontecimentos em que D. Brandão se tem envolvido”, Ayres Britto pontuou que elas deixavam a impressão de um bispo passando por uma fase difícil.

Disse ele: “Uma fase de perturbação emocional, carência prudencial e seríssima crise de assessoramento”. No texto, voltou a criticar a carta pastoral em que o bispo proibia a realização de missas em datas cívicas, como o 7 de setembro. Assim concluiu o panfleto:

Como remate, pedimos a Deus que abençoe o Senhor Bispo de Propriá, devolvendo-lhe equilíbrio emocional, espírito de tolerância e bom senso, para que ele possa bem conduzir-se em sua nobilitante missão de Pastor de Almas. E que ele, o Bispo, continue em sua válida e necessária luta em favor dos sem-terra, mas sem recorrer a métodos contrários ao direito e à moral.[37]

A diocese teve de lidar com a ampla repercussão do artigo de Carlos Ayres Britto. Porém, é preciso dizer que o texto de Ayres Britto foi rebatido pela instituição.

Como visto anteriormente, a proibição de missas em datas cívicas não era uma atitude direcionada ao prefeito. A proibição era também aplicada em outras dioceses, tendo por objetivo não deixar que atos religiosos fossem instrumentalizados politicamente, sobretudo em tempos de eleições.

Os religiosos falavam em não usar “repiques de sinos” para fins políticos. A atitude diocesana estava em conformidade com os setores do clero brasileiro identificados com a opção pelos pobres e a Teologia da Libertação.

Essa identificação pressionava a instituição a ser ainda mais rígida com cristãos que tomassem posições consideradas desarmônicas com a sua linha político-eclesial.

Também pode ser questionado no panfleto o apontamento de que os testemunhos colhidos pela diocese a respeito do coronel Porfírio se limitaram ao depoimento de uma anciã com mais de 90 anos.

Através dos seus frades franciscanos, a instituição fez um trabalho verdadeiramente amplo no levantamento de testemunhos, haja vista a coleção de fitas cassetes com dezenas de áudios de entrevistas concedidas por antigos moradores da Caiçara, alguns deles contemporâneos do coronel.[38]

Dom Brandão celebra missa com indígenas (Crédito: CDJBC)

Conselho de Prefeitos do Vale do São Francisco foi mobilizado para expulsar bispo dom Brandão da região

Algum tempo depois de divulgado o artigo, segundo informou o jornal Estado de Minas, Carlos Ayres Britto confirmou à imprensa que o prefeito da cidade prestou queixa-crime contra dom Brandão, acusando-o de infringir a Lei de Segurança Nacional, através de atos de subversão.[39]

A mais ousada reação do prefeito ainda estava por vir. Antônio Guimarães Britto mobilizou o Conselho de Prefeitos do Vale do São Francisco para solicitar formalmente à nunciatura apostólica a expulsão do bispo da região.[40] A versão dos prefeitos acusava o bispo de “incentivar a revolta entre os camponeses”.

Antes da solicitação, o conselho lançou nota assinada por 20 prefeitos se solidarizando com Antônio Britto e repudiando o que chamaram de campanha de difamação do bispo de Propriá contra a família Britto. Jornais e revistas cobriram a mobilização dos prefeitos em torno do pedido de expulsão do bispo da região.

Créditos: Revista Manchete, 02 de dezembro de 1978.

Por sua vez, a diocese defendeu que estava apenas fazendo o trabalho de conscientização dos trabalhadores rurais. De todo modo, a atitude dos prefeitos não causou o resultado esperado. Explicou o padre Miguel Derideau que o abaixo assinado dos prefeitos não teriam nenhum efeito, pois “a transferência de um bispo para outra diocese depende exclusivamente dele e não de qualquer outro superior”.[41] Nada aconteceu com dom Brandão.

Diocese denunciou membro da família Britto por tentativa de sequestro contra duas freiras

O conflito entre os Xocó e os Brittos continuou no ano de 1979. A diocese fez uma grave denúncia contra Élcio Britto. Entre os dias 10 e 13 de julho de 1979, ocorreu um retiro espiritual em Penedo, no convento de Nossa Senhora dos Anjos, sob a orientação do bispo dom Pedro Casaldáliga.

Ao sair do convento, alguns religiosos notaram que dois homens não identificados a tudo fotografavam. Eles estavam num carro da Capitania dos Portos. No último dia do retiro, duas freiras, as irmãs Liege e Salvadora, foram puxadas pelos braços por um homem que se dizia da Marinha.

Em seus testemunhos, as irmãs comentaram que o homem pediu para que as duas entrassem num volks vermelho.[42] Logo perceberam que era, segundo elas, uma tentativa de sequestro.

Participantes do retiro captaram o movimento suspeito e foram interceder pelas freiras. Um desses participantes era frei Juvenal, que interveio dizendo para o estranho homem: “Eu sei quem é o Sr. O Sr. está a serviço dos Brittos”.

O homem, então, afastou-se do local. Em seguida, o grupo de participantes do retiro, numa balsa, partiu para Neópolis, “onde, momentos depois, a camioneta C-10 da prefeitura de Propriá circulava com o Sr. Élcio Britto, capataz da Capitania dos Portos”.

Antes, o bispo dom Brandão já tinha notado a presença de Élcio num Passat vermelho de olho no retiro e “tomando notas”. Para a diocese, o que se passou com as irmãs foi uma tentativa de sequestro e que Élcio Britto estava por trás da tramoia.[43]

Dom Brandão não comunicou o ocorrido à polícia. Disse que não adiantava. O bispo lembrou a queixa que prestou em razão da invasão da catedral, mas que até aquele momento mal tinham aberto um inquérito. Por isso, comunicou diretamente o episódio ao governador Augusto Franco, à CNBB e ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi).[44]

As estratégias dos Brittos para conter a diocese nem sempre foram consensuais

Evidentemente que nem todos os membros da família Britto contemporizavam com as reações mais violentas. A título de exemplo, numa matéria do Jornal de Sergipe, datada de dezembro de 1978, foi relatada uma suposta briga entre os irmãos João e Antônio Britto, na casa do prefeito.

Na matéria, comentou-se que houve um desentendimento quanto às providências que deveriam ser tomadas em relação aos Xocó e ao clero de Porto da Folha.

A matéria afirmou que João agrediu moralmente Antônio, pois estava inconformado com a negativa do irmão em solucionar os conflitos através do uso da violência física contra padres da diocese.

Segundo a matéria, a agressão moral fez o prefeito dar-lhe “um violento murro”.[45] Foi dito que João se dirigiu para o quarto, se armando com um revólver, e chegando a fazer um disparo que por pouco não atingiu a sua mãe Elizabeth Britto.

O mesmo Jornal de Sergipe acusou, na matéria seguinte, o jornal Correio de Propriá de atuar como porta-voz da família Britto na região. Ao longo dos anos, o Correio de Propriá apresentou matérias marcantemente críticas à atuação da diocese.

Num artigo compartilhado no Correio de Propriá, os religiosos foram atacados com os seguintes termos: “parasitas”, “anarquistas” e “agentes da miséria”. Nesse mesmo artigo, os religiosos foram chamados de “Miracapillos de Propriá” e descritos como “padres cabeludos, sem batina, usando óculos ray-ban e calças Lee”.[46]

Como se vê, havia também uma disputa de narrativas com projeção pública entre os contendores. A diocese buscou reforçar a imagem da família Britto enquanto violenta. Por outro lado, a família Britto tentou desmoralizar o quadro clerical diocesano. O governador Augusto Franco procurou uma saída conciliatória para o fim dos conflitos.

Governador Augusto Franco e Dom Brandão (Crédito: Jornal de Sergipe, agosto de 1980)

Nada de Canudos: o decreto do governador Augusto Franco

No dia 16 de março de 1979, foi encerrado o inquérito que apurava os conflitos entre diocese e família Britto. Nas conclusões do relatório apresentado pelo delegado de polícia Hugo de Moraes Sarmento, o bispo foi responsabilizado pelas tensões na região.

Sobre o clero diocesano, pontuou-se que este prosseguia no seu trabalho de incitação junto aos moradores da Caiçara.

Comentou-se que o inquérito ouviu os principais personagens envolvidos no caso: o bispo, o prefeito, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porto da Folha e mais quatro líderes do grupo que ocupou os lotes da ilha de São Pedro. Elizabeth Britto deixou de ser ouvida em razão da sua idade avançada e por estar acamada.

Típico do autoritarismo vigente, as conclusões do relatório condenaram o envolvimento da imprensa no caso. Defendeu que ela, “como sempre ávida de sensacionalismo”, de forma capciosa, agia com o objetivo de atingir o governo constituído. Por esse motivo ela explorava o caso.

O relatório concluiu que o bispo, ao publicar o boletim Encontro com as Comunidades, desobedecia a vários artigos da Lei de Imprensa. Foi defendido que a liderança de dom Brandão nunca corria risco, pois: vencendo um caso em que se envolve, sai como herói; perdendo, sai como mártir.

Por fim, o relatório advogou que o bispo, seus auxiliares e o presidente do sindicato rural de Porto da Folha incitavam a população local à subversão política social, à rebelião coletiva, à desobediência das leis e ao ódio com discriminação social.[47]

Diante disso, deveriam ser enquadrados na Lei de Segurança Nacional, a fim de que “a paz e a tranquilidade volvam à tão conturbada área de Propriá/SE”.[48]

De Brasília, o departamento de Polícia Federal concluiu que seria temerária a adoção das medidas preconizadas pelo delegado Hugo de Moraes. Foi entendido que a IPP não atendeu objetivamente à sua finalidade.

Além disso, era “vaga e imprecisa”, nada aclarando quanto à infração às Leis da Imprensa e à Lei de Segurança Nacional. Ademais, apontou-se também para levantamento de depoimento impertinente que nada tinha a ver com os fatos objeto do apuratório.

O novo governador de Sergipe, Augusto do Prado Franco (ARENA-SE), que assumiu a gestão quando o conflito já tinha estourado, procurou dar fim ao caso. Para ele, a saída conciliatória pareceu ser a mais segura. Em dezembro de 1979, Augusto Franco declarou a ilha de São Pedro de utilidade pública.

Os Xocó, que por muitos anos tiveram que silenciar as suas origens, partiram com os seus trajes típicos comemorar a vitória. Nas terras por eles consideradas reconquistadas, o Toré – nunca abandonado – foi dançado diante da imagem da Padroeira.

Créditos: Centro dom José Brandão de Castro (CDBJC).

A diocese festejou com uma procissão pela cidade. Índios e fiéis diocesanos caminhavam pelas ruas celebrando um importante passo na luta dos Xocó.

Créditos: Centro dom José Brandão de Castro (CDBJC).

A decisão do governador, entretanto, motivou críticas de defensores dos Xocó. Eles argumentaram que a família Britto não tinha direito sobre as terras, não cabendo ao Estado indenizá-la. A presidente da Comissão Pró-Índio de São Paulo, Manuela da Cunha, salientou que o governo estadual ignorou a Constituição, ratificou a violência e comprou “direitos de grilagem”.[49]

Por sua vez, frei Enoque disparou denúncias contra o que chamou de “máquina publicitária”, segundo ele, montada para que o Governo e os seus auxiliares apareçam como “amigos dos índios, amigos da paz social e resolvedores [sic] pacíficos dos graves problemas sociais”. No meio disso, continuava o frade, mantinha-se a impunidade aos atos de perseguição da família Britto contra os caboclos.[50]  

De todo modo, ninguém negou que os Xocó tinham dado um passo adiante em sua luta. No fim, a decisão do governo vingou. Por ora, estava encerrada a avaliação exagerada dos dois agentes da Polícia Federal que temiam a conversão do caso Xocó em um novo Canudos. Na imprensa, as imagens apocalípticas sobre a situação de miséria dos caboclos da Caiçara deram lugar a textos que destacavam a retomada das terras.[51]

Por sua vez, a diocese de Propriá avançou mais uma peça no tabuleiro das lutas sociais no Estado de Sergipe. Ganhou novos aliados, mas também fez novas inimizades. Foi assim que adentrou nos anos 1980, radicalmente alinhada à opção preferencial pelos pobres, alterando, cada vez mais, as relações de poder na região. 

Sobre a família Britto, é interessante pontuar que, alguns anos depois, membros da família mudaram as suas posições no campo político. Chegando alguns deles a ingressar em partidos de esquerda. Um deles, Carlos Ayres Britto, se tornou ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), no ano de 2003, indicado pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva. Defendeu, dentre outras medidas, a demarcação de terras indígenas. 

Cerco fechado: oposições à opção pelos pobres da diocese de Propriá

Fique longe dos seus inimigos, e atento com os seus amigos.

Livro de Eclesiástico 6, 13.

No meio do seu envolvimento na luta dos Xocó, a diocese teve de contar com a perda de aliados políticos importantes. Um deles foi Lourival Baptista. Um velho conhecido que, nos tempos de instalação da diocese, chegou a receber das mãos de dom Brandão o Diploma de “Honra ao Mérito” pelos serviços prestados à instituição.

Mas os tempos eram outros. Com a opção preferencial pelos pobres, a diocese deixava cada vez mais em segundo plano o caráter amistoso que estabeleceu com as elites políticas ao longo dos seus primeiros anos de fundação.

Lourival Baptista (PDS-SE) se opôs ao envolvimento da diocese no caso dos Xocó. Numa entrevista, que causou grande repercussão, o então senador biônico defendeu posições que batiam de frente com as dos defensores da causa Xocó. Segundo ele:

pessoas que deveriam ter sempre a preocupação fundamental de assegurar a paz e a concórdia, e que deviam evitar a ocorrência de conflitos e violências, começaram a instigar e insuflar os remanescentes dos índios e transformá-los em inocentes objetos de propósitos políticos e, com isso, conseguiram, artificialmente, criar um sério problema, e sob o pretexto de defendê-los, evidentemente ganharam notoriedade para a causa que passou a ter repercussão nacional, através da imprensa.[52] 

Na polêmica entrevista, Lourival ainda defendeu que um pequeno grupo de remanescentes Xocó não possuía mais nenhuma característica indígena. Ademais, disse que o grupo remanescente foi trazido, ao que lhe constava, do interior de Alagoas.

Quando perguntado sobre quais as medidas deveriam ser tomadas para lidar com os casos de pobreza na região, o senador respondeu: “Necessário é que os ânimos não sejam artificialmente acirrados com pretexto para a criação de explorações sociais, como o caso propositadamente superdimensionado dos Xocó”. Lourival encerrou a sua entrevista com essas palavras:

Não estamos mais na época de se perder tempo com falsos defensores e descobridores de descendentes de índios que passaram por uma região há mais de cem anos, e que, agora, foram retirados de onde se encontravam alojados, em outro estado, com o fim exclusivo de criar problema numa área onde existia paz e trabalho.[53]

A resposta de dom Brandão veio numa carta enviada diretamente para o senador. Nela, o bispo disse: “estou estarrecido com as suas declarações, baseadas algumas em informações inteiramente falsas, outras em informações inteiramente distorcidas”.

O bispo frisou que dispunha de uma farta documentação provando que os Xocó eram verdadeiramente índios e que sempre moraram na região de Porto da Folha. Defendeu que a Caiçara e a ilha de São Pedro sempre lhes pertenceram, além de afirmar que, legalmente, os Xocó nunca perderam suas terras e que a Funai não estava equivocada quando os considerou índios. O bispo ainda pontuou que se tratava de uma injúria histórica a acusação do senador de existir “falsos defensores e descobridores de índios”.[54]

Em agosto de 1980, voltando de uma viagem à Nova York, Lourival disse ter tomado conhecimento de que dom Brandão o colocou numa lista de persona non grata, com a intenção de que o senador não fosse à ilha de São Pedro por não ser bem-vindo. 

Com sarcasmo, o senador perguntou: “e o que é que eu vou fazer na ilha de São Pedro?”[55] Ao longo do seu mandato como senador, Lourival foi uma voz corrente contra as posições mais progressistas da diocese de Propriá. Junto ao senador José Passos Porto (PDS-SE), teceu severas críticas às proibições de missas em datas cívicas e advogou que a diocese, ao invés de pregar à concórdia, provocava a desordem.

O seu correligionário, José Passos Porto, era ainda mais radical nas acusações. Em um discurso no Senado, acusou o bispo de “chefiar um processo revolucionário, com mais 16 padres da diocese”. Ainda disse que tais padres eram cabeludos, sem batina e que pregavam a Teologia da Libertação.[56]

Assim como esses dois políticos, alguns padres diocesanos, que nunca abandonaram o apoio à “Revolução de 64”, também declararam a sua oposição ao clero progressista. Dentre eles, o padre de Cedro de São João, Manoel Guimarães, o conhecido padre “Maneca”.

Num documento confidencial, o ex-prefeito de Propriá, Francisco Guimarães, disse ao agente da Polícia Federal, Amilton Nonato Borges – que apurava o caso dos Xocó -, ter recebido informações do padre Maneca sobre os franciscanos Enoque Salvador e Roberto Eufrásio.[57]

Disse o ex-prefeito que, segundo a informação obtida, os dois franciscanos foram expulsos do Convento de Salvador e exerciam atividades eclesiásticas e outras na região por orientação do bispo.[58]

O padre Evêncio Guimarães, vigário de Japoatã, também se opôs à linha adotada pela diocese. Tanto ele quanto o padre Maneca exerciam suas atividades na região antes mesmo da fundação da diocese e da chegada de dom Brandão. Isso quer dizer que eram padres muito conhecidos.

Ademais, gozavam de prestígio perante as elites políticas e as classes ricas. Tinham um perfil mais tradicionalista e avesso ao horizontalismo defendido pela opção pelos pobres.  Porém, esses religiosos eram minoria.

A equipe missionária tinha o apoio do bispo e a linha progressista foi promovida pela diocese. Sendo assim, a instituição contrariou posições mais conservadoras, tanto dentro quanto fora da Igreja. É o que veremos com mais detalhes no próximo capítulo. Até lá!

Osnar Gomes dos Santos é doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Defendeu a tese: “Os sinais da conversão: o movimento do cristianismo da libertação na diocese de Propriá-SE (1960-1991)”. O texto na íntegra pode ser baixado aqui. Osnar possui Mestrado em História pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde integrou o Laboratório Interdisciplinar de Estudo das Religiões (LIER/UFAL). Possui Graduação em História pela Universidade Tiradentes (2012) e Pós-Graduação em História do Brasil pela Faculdade Pio Décimo (2014). Atualmente, é professor efetivo da Rede Pública do Estado da Bahia.


[i] O boletim Encontro com as Comunidades comentou que, em 1859, o imperador dom Pedro II visitou a cachoeira de Paulo Afonso e a ilha de São Pedro. Nessa ocasião, o imperador doou aos índios uma légua de frente com uma légua de fundo, nas margens do São Francisco. Cf. “Para a gente pensar”. In: Encontro com as Comunidades, outubro de 1978, p. 3.

[ii] Cf. DANTAS, Beatriz; DALLARI, Dalmo. Terra dos Índios Xocó: estudos e documentos. Comissão Pró-Índio: São Paulo, 1980, 186f.  Ver também: MELATTI, Delvair (org.). A outra vida dos Xocó. Boletim – Comissão Pró-Índio/SP. n°. 14, São Paulo, 1983. 

[iii] Ibidem.

[iv] Documento confidencial datado de 16 de maio de 1979, difundido primeiro para o Centro de Informações do Exército (CIE) e, depois, para a Agência Salvador (ASV/SNI). Ver: ARQUIVO NACIONAL. Doc. nº br_dfanbsb_v8_mic_gnc_ppp_80000880_d0001de0001. Problemas de terra em Sergipe – atuação do clero – 1979; 16 de maio de 1979, 18f.

[v] Cf. “Vitória dos índios”. In: A Defesa, 21 de dezembro de 1979, p. 4.

[vi] Disse o bispo: “Espalhou-se [que] o Bispo e frei Enoque é que incentivaram os lavradores […]. Na verdade, nós não incentivamos, mas sabedores do que eles pretendiam fazer e analisando seus pontos de vista […] não seríamos nós que iríamos discordar deles. Até os visitei pessoalmente, aconselhando-os a confiarem na justiça […]”. Ver: CASTRO, dom José Brandão de. Alocução para o dia 15 de outubro de 1978. 1978, 3f.

[vii] Cf. “Ameaças contra o bispo”. In: Estado de Minas, 12 de outubro de 1978; “Para a gente pensar”. In: Encontro com as Comunidades, outubro de 1978, p. 3; “Colonos cercam terras e PM reprime”. In: Jornal de Sergipe, 10 de setembro de 1978; “Descendentes dos índios xocós tentam reaver terras […]”. In: O Globo, 07 de janeiro de 1979. Ver também: COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE – PAULO BARBOSA DE ARAÚJO. Doc. n° BR_RJANRIO_TT_0_QUF_PRO_164_d0001de0001. Investigação Policial Preliminar – 1979; 1979, 336f. 

[viii] Estampado no boletim uma mensagem do bispo saudando o cercamento. No texto, lê-se: “O povo da Caiçara procurou se informar bem da situação da Ilha. Chegou à conclusão de que a Ilha não pertencia aos que diziam que eram donos dela. E por isso cercou aproximadamente 800 tarefas […]. No dia 31 de outubro, foi aquela festa. Festa de penitência e de apoio ao pessoal da Caiçara […]”. Ver: CASTRO, dom José Brandão de. “O caso da Ilha de São Pedro”. In: Encontro com as Comunidades, novembro de 1978, p. 2-3.

[ix] Cf. “Colonos cercam terras e PM reprime”. In: Jornal de Sergipe, 10 de setembro de 1978.

[x] Ibidem. Ver também: “Ameaças contra o bispo”. In: Estado de Minas, 12 de outubro de 1978; “Para a gente pensar”. In: Encontro com as Comunidades, outubro de 1978, p. 3.

[xi] Cf. “Colonos cercam terras e PM reprime”. In: Jornal de Sergipe, 10 de setembro de 1978.

[xii] Disseram eles: “Devido ao Estado de miséria dessas 22 famílias [que cercaram a ilha], ali poderá surgir em futuro próximo um ‘Canudos’ e por isto há necessidade de estarmos atentos”. Ibidem.

[xiii] Ibidem.

[xiv] Ibidem.

[xv] Os agentes não conseguiram identificar qual era o irmão do prefeito. Baseado em outras informações, pode-se afirmar que os agentes se referiam a Élcio Britto.

[xvi] Em conversas informais, o agente de pastoral Raimundo Eliete me confirmou que editava os boletins. Hildebrando Maia, irmão marista que chegou à diocese nos anos 1980, foi o segundo editor dos boletins. Embora Fábio Alves dos Santos tenha publicado artigos, o mesmo não estava à frente das edições, segundo as informações que obtive.

[xvii] Os agentes estavam falando de Martinho José da Silva, o jovem Martins, então presidente da Casa da Juventude (CA-JU), uma entidade de jovens leigos. Formada majoritariamente por estudantes que organizavam debates e atividades pastorais na região. A CA-JU estava sintonizada com a linha diocesana. Sobre a CA-JU, ver a edição de agosto de 1978 do boletim Encontro com as Comunidades, p. 5-8.

[xviii] Cf. [Entrevista] Antônio Guimarães Britto, prefeito de Propriá, Jornal do Brasil, 17 de agosto de 1980, p. 24-25. Entrevista concedida a Divane Carvalho.

[xix] Cf. BRITTO, Elizabeth. [Carta] 18 de novembro de 1978, Porto da Folha [para] dom José Brandão de Castro, Propriá, 1f. Cópia da carta endereçada pode ser encontrada na edição de 28 de novembro de 1978 do Jornal de Sergipe. Na edição seguinte, cópia da carta endereçada aos frades.

[xx] Visto em: COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE – PAULO BARBOSA DE ARAÚJO. Doc. n° BR_RJANRIO_TT_0_QUF_PRO_164_d0001de0001. Investigação Policial Preliminar – 1979; 1979, 336f.

[xxi] Ibidem.

[xxii] Visto em: “D. Brandão explica”. In: Jornal de Sergipe, 13 de outubro de 1978; Encontro com as Comunidades, setembro de 1978, p. 6-7.

[xxiii] Cf. “Missa e Batizados no Poção da paróquia de Canhoba”. In: Encontro com as Comunidades, outubro de 1978, p. 6.

[xxiv] Ibidem. Ver também a edição datada de 13 de outubro de 1978 do Jornal de Sergipe.

[xxv] Cf. “Missa de agradecimento em Propriá”. In: Encontro com as Comunidades, outubro de 1978, p. 8.

[xxvi] Conferir os relatos do padre Etienne e do celebrante Fábio em: “Relatório dos acontecimentos ocorridos na cadetral de Propriá-SE”. In: Encontro com as Comunidades, dezembro de 1978/janeiro de 1979, p. 5. Ver também: “O TERRORISMO DOS BRITOS”. In: Jornal de Sergipe, 28 de novembro de 1978; “CRISE EM PROPRIÁ”. In: Jornal da Cidade, 28 de novembro de 1978; “FAMÍLIA BRITO PRATICA TERRORISMO NA IGREJA”. In: Jornal de Sergipe, 28 de novembro de 1978; “FIÉIS AMEAÇADOS E MISSA INTERROMPIDA”. In: Jornal de Sergipe, 28 de novembro de 1978. 

[xxvii] Ibidem.

[xxviii] Ibidem

[xxix] Cf. “O TERRORISMO DOS BRITOS”. In: Jornal de Sergipe, 28 de novembro de 1978; “CRISE EM PROPRIÁ”. In: Jornal da Cidade, 28 de novembro de 1978; “FAMÍLIA BRITO PRATICA TERRORISMO NA IGREJA”. In: Jornal de Sergipe, 28 de novembro de 1978; “FIÉIS AMEAÇADOS E MISSA INTERROMPIDA”. In: Jornal de Sergipe, 28 de novembro de 1978; “Fazendeiro em Sergipe agride agente pastoral”. In: O Globo, 28 de novembro de 1978; “BIRTTOS RESPONDERÃO INQUÉRITO POLICIAL”. In: Jornal de Sergipe, 29 de dezembro de 1978; “Bispo presta queixas sobre as ameaças”. In: Jornal de Sergipe, 29 de novembro de 1978; “Polícia Civil vai apurar ameaças”. In: Jornal de Sergipe, 29 de novembro de 1978. Os títulos mais explosivos vinham do Jornal de Sergipe. Porém, jornais de outros estados já vinham apontando a tensão na região. A título de exemplo, ver: “Bispo ameaçados pelos prefeitos de sua região”. In: A Tarde, 10 de novembro de 1978; “Prefeitos sergipanos vão pedir a saída de bispo”. In: O Globo, 08 de novembro de 1978.   

[xxx] Cf. Prof. Fábio Alves dos Santos, um lutador na defesa dos direitos humanos dos pobres […]. 1 vídeo (1hora, 23min24seg). Publicado pelo canal Frei Gilvander Luta pela Terra e por Direitos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=YRy7lLUVreE>. Acesso em 22 de dezembro de 2021. A entrevista foi realizada no dia 06 de setembro de 2013. Publicada no canal no dia 21 de outubro de 2013.

[xxxi] Cf. “Bispo presta queixas sobre as ameaças”. In: Jornal de Sergipe, 29 de novembro de 1978.

[xxxii] Ibidem.

[xxxiii] Cf. “Solidariedade”. In: Encontro com as Comunidades, dezembro de 1978/janeiro de 1979, p. 10.

[xxxiv] Visto em: COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE – PAULO BARBOSA DE ARAÚJO. Doc. n° BR_RJANRIO_TT_0_QUF_PRO_164_d0001de0001. Investigação Policial Preliminar – 1979; 1979, 336f.

[xxxv] Cf. BRITTO, Carlos Ayres. “O Coronel e o Bispo”. Visto em: Jornal da Cidade, 17 de novembro de 1978.

[xxxvi] Ibidem.

[xxxvii] Ibidem.

[xxxviii] A título de exemplo, ver a entrevista transcrita dos caboclos Manoel Francisco Rosa e José Gonçalves para frei Enoque: [Entrevista] Manoel Francisco Rosa e José Gonçalves, Dados sobre os Xocós, 02 de outubro de 1978. Entrevista concedida a frei Enoque Salvador, 10f. Em 2018, 50 fitas em formato VHS foram convertidas para mp3. Encontram-se disponíveis no “Fundo Frei Enoque”, que traz um conjunto documental organizado por pesquisadores da Universidade Tiradentes, em Sergipe. Encontram-se por lá dezenas de áudios de entrevistas realizadas entre os anos de 1978 e 1980. Vale lembrar que, alguns anos depois, a Comissão Pró-Índio publicou o boletim A outra vida dos xocós, já citado neste capítulo, que trouxe outros depoimentos.

[xxxix] Cf. “Prefeito quer enquadrar o bispo na Lei de Segurança”. In: Estado de Minas, 06 de dezembro de 1978.

[xl] Cf. “Prefeitos voltam a acusar bispo”. In: O Globo, 06 de dezembro de 1978; “Prefeitos sergipanos vão pedir a saída de bispo”. In: O Globo, 08 de novembro de 1978; “Prefeitos pedem ao papa saída de bispo por subversão”. In: Manchete, 02 de dezembro de 1978; “Bispo ameaçado pelos prefeitos de sua região”. In: A Tarde, 10 de novembro de 1978.

[xli] Cf. “Arenistas manobram para tirar bispo”. In: Jornal de Sergipe, 07 de novembro de 1978.

[xlii] Cf. “Comunicado ao Povo de Deus da Diocese de Propriá”. In: Encontro com as Comunidades, julho de 1979, p. 8. Ver também: “Família persegue a Igreja por defender índios”. In: Centro Informativo Católico, 31 de julho de 1979; “Irmãs ameaçadas de sequestro”. In: Diário de Pernambuco, 15 de julho de 1979.

[xliii] “Comunicado ao Povo de Deus da Diocese de Propriá” […], p. 7-8.

[xliv] Cf. “Bispo denuncia tentativa de sequestro de duas freiras em Sergipe e acusa família”. In: Jornal do Brasil, 15 de julho de 1979, p. 21.

[xlv] Ver as matérias: “Família Britto briga entre si”. In: Jornal de Sergipe, 13 de dezembro de 1978; “Os Britos brigam entre si: Propriá”. In: Jornal de Sergipe, 13 de dezembro de 1978. 

[xlvi] Ver matéria de Nertan Macedo publicada no Estado de Minas e, posteriormente, divulgada no Correio de Propriá: MACEDO, Nertan. “Os Miracapillos de Propriá”. In: Correio de Propriá, 05 de novembro de 1980. Tal matéria comparava pejorativamente os religiosos mais avançados do clero diocesano ao padre italiano Vito Miracapillo, expulso do Brasil por ter se recusado a celebrar missa no dia da Independência.

[xlvii] À época, Manoel Rodrigues de Oliveira era o presidente do sindicato rural de Porto da Folha. 

[xlviii] Cf. […] Doc. n° BR_RJANRIO_TT_0_QUF_PRO_164_d0001de0001. Investigação Policial Preliminar – 1979; 1979, 336f.

[xlix] Cf. CUNHA apud DANTAS, Beatriz; DALLARI, Dalmo. Ob. Cit., p. 7-8.

[l] Cf. MELO, frei Enoque. Os índios xocós e sua situação atual. 14 de março de 1980, 2f.

[li] Para citar exemplo, em matéria do Jornal de Sergipe, aparece uma imagem dos caboclos xocós, à beira do rio, com o título: “Na margem do São Francisco, uma cena apocalíptica: os últimos descendentes dos xocós”. Ver: “Soldados penalizados”. In: Jornal de Sergipe, 1978. Ver também: ”Xocós: Fome e a Morte”. In: Jornal de Sergipe, setembro de 1978.

[lii] Cf. [Entrevista] Lourival Baptista, senador por Sergipe, Jornal da Cidade, 20 de dezembro de 1979, p. 3.

[liii] Ibidem.      

[liv] Cf. CASTRO, dom José Brandão de. [Carta] 21 de dezembro de 1979, Propriá [para] senador Lourival Baptista, Aracaju, 1f.

[lv] Cf. “Lourival”. In: Jornal da Cidade, 16 de agosto de 1980, p. 5.

[lvi] Cf. “Senador acha bispo culpado”. In: Jornal do Brasil, 22 de agosto de 1980. No primeiro capítulo desta tese, notou-se a relação amistosa entre Lourival e Passos Porto com a diocese de Propriá. Porém, esse caráter amistoso deu lugar, como se vê, a animosidade.                         

[lvii] Cf. COMISSÃO ESTADUAL DA VERDADE – PAULO BARBOSA DE ARAÚJO. Doc. n° BR_RJANRIO_TT_0_QUF_PRO_164_d0001de0001. Investigação Policial Preliminar – 1979; 1979, 336f.

[lviii] A informação repassada para o ex-prefeito não procede. Os dois frades nunca foram expulsos do Convento de Salvador na Bahia.

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