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Samba do Arnesto vai abrir vaquinha para manter vivo o Carnaval de Aracaju com o Bloco Vem Ni Mim, Arnesto

“Vem Ni Mim, Arnesto” revive os tradicionais bloquinhos de rua com muito samba e frevo. (Foto: Júlia Rodrigues)

“Uma cidade sem Carnaval, é uma cidade morta, triste, feita apenas para carros”, é o que diz um dos integrantes da banda Samba do Arnesto, Roque Sousa. O Carnaval já está batendo à porta, resta saber se Aracaju vai ficar sem folia. Se depender do Samba do Arnesto, o povo vai tomar conta das ruas, pular, rir, brincar, correr atrás do trio, ser feliz. Mas não basta ter só vontade, é preciso recursos para colocar um trio completo para rodar.

Na próxima semana, a banda Samba do Arnesto vai lançar uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro e custear o tradicional Bloco “Vem Ni Mim, Arnesto”, que está marcado para ir às ruas no dia 23 de fevereiro, domingo que antecede o feriado de Carnaval.

Para fazer suar ainda mais os foliões, o bloco terá como tema principal o álbum de estreia da banda, o “Sabedoria Generosa do Samba”, lançado em agosto de 2024. A Mangue Jornalismopublicou uma entrevista com o compositor e integrante do Samba do Arnesto, Rafael Oliva, contando todos os detalhes do disco. A Mangue também publicou “Sem corda, sem abadá e sem vergonha. Banda sergipana Samba do Arnesto lança filme-documentário histórico sobre Carnaval e resistência em Aracaju”. Leia aqui.

“Vem Ni Mim, Arnesto” é totalmente de graça, pois a banda tenta resgatar os tradicionais blocos de rua que aconteciam em Aracaju. “Apesar de ser de graça, é muito custoso fazer um bloco de Carnaval. Envolve muita coisa, trio elétrico, estrutura, banheiros químicos, músicos, ensaios, produção…”, disse Roque.

Desde 2016, a banda coloca o trio nas ruas. No início, era custeado a partir de apoios da iniciativa privada, o que limitava o bloco em espaços específicos da cidade. Mas, a partir de 2019, “Vem Ni Mim, Arnesto” começou a ir às ruas de forma independente, com a ajuda apenas de apoiadores e patrocínios.

O carnaval de Aracaju se tornou resistência e resgate

Nos últimos anos, a energia carnavalesca da cidade foi se dissipando e dando lugar à ideia de “cidade tranquila e de descanso”, colocando o Carnaval em um lugar de baderna e desorganização. O que não é verdade. Na última edição do Bloco “Vem Ni Mim, Arnesto”, cerca de 25 mil pessoas preencheram a Avenida Ivo do Prado. Foi um bloco cheio de alegria e sem confusão.

O “Vem Ni Mim, Arnesto” é um dos poucos blocos independentes existentes que tenta resgatar a folia que era vista desde o século XIX na capital sergipana. “A história do Carnaval de Aracaju é muito rica, mas por muito tempo passou por um processo histórico de apagamento e de invisibilização”, disse Roque.

“Apesar de ser de graça, é muito custoso fazer um bloco de carnaval”, Roque (Foto: Júlia Rodrigues)

Um evento privado, que chegou tomando forma no final dos anos 1990 e cresceu absurdamente até ganhar o nome de “maior prévia carnavalesca do país”, foi um dos pilares para fazer com que os blocos tradicionais da cidade sumissem. Mas o problema central não está no Pré-Caju, e sim na valorização exclusiva por parte da Prefeitura de Aracaju e do Governo de Sergipe e o descaso perante eventos públicos e independentes. 

“Uma coisa que sempre incomodava a gente era aquela máxima de que ‘Aracaju não tem Carnaval’, e a gente acaba reproduzindo isso. A nossa geração cresceu sob a égide do Pré-Caju como principal festa carnavalesca da cidade”, comentou Roque.

Desde 2016, quando o bloco da banda começou a ir às ruas, o Samba do Arnesto afirma nunca ter recebido apoio financeiro para realizar o bloco. “Essa política que acaba tirando recursos de iniciativas, como o nosso bloco, em que a Funcap e a Funcaju poderiam abraçar, financiar ou então ajudar com um trio elétrico ou outra coisa, mas ninguém chega junto, a gente tem que se virar sozinho. O máximo que o estado e a prefeitura fazem é colocar banheiros químicos e a SMTT para regular o trânsito, mas só isso”, falou Roque.

O músico ainda acrescenta que “a gente está há nove anos nas ruas. Em 2023 o bloco foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial, e a Funcaju nunca chegou para oferecer ajuda ou perguntar ‘o que vocês estão precisando?’, nunca teve”. O reconhecimento do “Vem Ni Mim, Arnesto” como Patrimônio Cultural Imaterial da cidade de Aracaju está na Lei Municipal n° 5761.

A campanha de financiamento coletivo do bloco vai além do dinheiro, é um momento em que as pessoas se mobilizam para resgatar e manter viva a tradição dos bloquinhos de rua. “O financiamento também mobiliza os foliões e as pessoas que gostam do bloco. Traz esse engajamento e cria uma relação com o bloco”, disse Roque.

Em 2024, a banda Samba do Arnesto foi contemplada pela Lei Paulo Gustavo e recebeu um incentivo para o bloco. Mas, segundo Roque, o valor ainda é baixo para colocar um trio na rua, por isso a importância do financiamento coletivo, parcerias e apoios. 

“O nosso bloco é independente e a gente faz esse discurso de resgate do Carnaval público, na rua, de graça, aberto pra todo mundo. A gente faz esse apelo para que o estado [de Sergipe] e a prefeitura [de Aracaju] possam ver o Carnaval como um direito do cidadão, que a gente possa ter o direito à folia”, reforçou o músico.

Carnaval também é sobre ocupar espaços 

Os carnavais de rua fazem com que as pessoas andem pela cidade alegres, festejem a vida e celebrem quem está à sua volta. Mas para além disso, os blocos dão a possibilidade de inserir essas pessoas em lugares da cidade que são importantes marcos históricos. O Bloco “Vem Ni Mim Arnesto” acontece no Centro da cidade, que, para Roque, é um ótimo lugar para colocar as pessoas em contato com a história de Aracaju, como também democratizar o acesso ao lazer para todos.

“Hoje o bloco acontece na Praça Fausto Cardoso, que era o principal polo carnavalesco da cidade, as pessoas chamavam de ‘Praça do Povo’. De lá nós vamos pela Rua da Frente, a Ivo do Prado, e passa por muitos lugares históricos, como o Museu da Gente Sergipana, o Largo da Gente Sergipana, a Casa de Zé Peixe… então o circuito, além de ser muito bonito, é um circuito histórico”, conta Roque.

“O nosso bloco é independente e a gente busca resgatar o Carnaval público”, Roque (Foto: Júlia Rodrigues)

O Carnaval tem esse poder de renovar a alegria e o debate sobre o lugar em que estamos vivendo. Para além de uma festa, é também um ato político. “O Carnaval, além da alegria, traz esse debate sobre a ocupação da cidade, para quem ela é feita. São cinco dias que as pessoas se permitem viver uma catarse coletiva, com muita alegria e reverência”, finaliza Roque Sousa.

O link da vaquinha será divulgado nos canais oficiais da banda Samba do Arnesto e também no Instagram da Mangue Jornalismo (@manguejornalismo). Fique atento e atenta para ajudar a colocar um bloco de Carnaval nas ruas de Aracaju.

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