ROBSON ANSELMO SANTOS, especial para Mangue Jornalismo (@prof.robsonanselmo)
A seção PONTO DE VISTA é um espaço que a Mangue Jornalismo abre para que pessoas convidadas possam expressar ideias e perspectivas que estimulem o interesse e o debate público sobre uma temática. O artigo deve dialogar com os princípios da Mangue (que estão na parte de transparência do site), entretanto ele não precisa representar necessariamente o ponto de vista da organização.
A diplomação dos eleitos nas eleições municipais de Aracaju aconteceu no último dia 17/12. Eu não estive no evento. Mas, vendo os vídeos que circulam nas redes sociais, assisti o deputado federal, Rodrigo Valadares (União), que acompanhou a sua esposa, eleita vereadora, Moana Valadares (PL), esbravejar acusações contra o presidente Lula, as quais ele não é capaz de provar, visto que o STF já anulou as acusações, e com isso, certifica que o presidente é inocente, até que se prove o contrário.
Isso por si mesmo seria motivo para que os dirigentes, parlamentares e ministro do PT, atuassem para denunciá-lo, considerando que qualquer pessoa que acusa, tem o ônus da prova. E os companheiros do PT não devem ficar passivos diante dessas bravatas. Nessas e em situações assemelhadas os militantes e dirigentes do PT e dos partidos de esquerda devem prestar solidariedade ao presidente Lula.
Nós fomos silenciados durante seis anos. E quem acusa a quem a Suprema Corte anulou as acusações, deve ser representado judicialmente. Com destaque de que a Suprema Corte é a guardiã da Constituição Federal e uma instituição de magnânima importância em qualquer democracia moderna.
O deputado federal, ao esbravejar que Aracaju é de direita e o Nordeste é de direita, tem a intenção de pontuar as diferenças marcantes entre direita e esquerda. E não é preciso uma graduação em política para que essas diferenças sejam visíveis.
E uma delas começa pela invisibilidade que a grande mídia impõe ao papel da esquerda no Brasil e no mundo, entre a nossa perspectiva civilizatória e a barbárie que a direita evoca e patrocina.
O vídeo que assisti da diplomação foi à tarde, quando estávamos no Hospital do Amor, em Lagarto, fazendo a entrega de próteses capilares para mulheres em tratamento de câncer. Esta é uma ação do Instituto Braços juntamente com o Instituto O Semeador e a Semente.
A reflexão sobre o vídeo ocorreu durante o banho, ampliando o diagnóstico das diferenças entre o nosso campo ideológico e o do deputado. Algumas dessas diferenças é o foco desse despretensioso texto.
Ao fechar o chuveiro me dei conta que, nós, de esquerda, temos a postura ética de que não é porque se pode pagar a conta da água no final do mês, que podemos abusar no gasto dela. Pois, a água é um recurso finito e pertence a toda humanidade. Da mesma forma, não é porque eu, adulto, bem de saúde, paguei a passagem do ônibus devo ir sentado enquanto que uma criança de cinco anos, sem estrutura física requerida para tal viagem, que tem o direito de viajar gratuitamente, deve ficar em pé, porque eu paguei e ela, não.
Defendemos que os trabalhadores domésticos em geral devem ter todos os direitos assegurados, desde o registro na carteira, carga horária regulamentada, dormir em casa, salário em dia, férias, FGTS. O campo do deputado e sua esposa diplomada historicamente pegou meninas no interior do estado e trouxe para a capital para serem serviçais, tendo que dormir depois que todos da “Casa Grande” dormiam e acordar primeiro que eles. E tendo que dormir num quartinho nos fundos da casa, muitas vezes, tendo como retorno um prato de comida e uma visita à família uma vez por mês.
Nas últimas décadas os fiscais do Ministério do Trabalho têm resgatado centenas de trabalhadores e trabalhadoras em condições de trabalho análogo à escravidão. E isso para a direita é normalíssimo. Aliás, o grande líder dessa direita já disse que a escravidão não existiu e que, quilombolas se mede por arroba.
Nós vivenciamos em 2016 o golpe que essa direita, representante da elite econômica nacional e internacional impôs ao Brasil ao apear do poder a presidenta Dilma, que por misoginia e machismo construiu na sociedade uma narrativa que levou as pessoas acreditarem que ela havia cometido atos de corrupção. Assistimos os congressistas falsos moralistas com discursos em defesa do Brasil e a retirou do poder. Nos demos por vencidos naquela batalha e aceitamos a derrota. Essa direita golpista, ao não aceitar a derrota nas eleições presidenciais, mobilizou um fragmento da sociedade para ocupar os quartéis do exército, evocando até seres extraterrenos para impedir a posse de Lula. E oito dias após a posse, o mundo assistiu o que golpistas fizeram em Brasília. Com a investigação da PF, a situação ficou mais tenebrosa quando foi revelado o plano de matar o presidente Lula, o vice, Geraldo Alkmin e o ministro do STF, Alexandre de Morais.
As diferenças entre nós e vocês golpistas são imensas. Para nós, menina não é mãe e estuprador não é pai. Mas, vocês, que esvoaçam palavras em defesa da família, aprovaram a legislação em que a menina/mulher que praticar aborto originado de estupro é mais criminalizada do que o estuprador.
Nós lutamos por uma nação livre, soberana, dona do seu destino, que se auto governe e escolha livremente com quais nações e povos estabelece relações comerciais, de fraternidade e de luta contra as desigualdades. Vocês, da direita golpista, dobram os joelhos do Brasil para o mercado financeiro, para as grandes potências mundiais, especialmente, para os Estados Unidos, país do grande líder dos direitos civis, o reverendo Martin Luther King, que diante da barbárie do racismo disse “o que me assusta não é o grito dos maus. Mas, o silêncio dos bons”.
Robson Anselmo é homem negro, nordestino de Sergipe, mestre e doutorando em Educação/UFS. É fundador do Instituto Braços (Centro de Defesa dos Direitos Humanos em Sergipe). Atua como professor da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino, como técnico pedagógico da Diretoria de Educação de Aracaju, responsável pela Educação de Jovens e Adultos e pela Educação de Diversidade. Também é da Rede Municipal de Ensino de Nossa Senhora do Socorro. É militante antirracista, socialista, filiado do Partido do Trabalhadores (PT).