DÍJNA TORRES, da Mangue Jornalismo
Fruto do movimento afrocultural, mulher negra e de terreiro, Thiane Araújo assumiu o posto de coordenadora do Escritório do Ministério da Cultura (MinC) em Sergipe, com o anseio de se fazer reconhecer, fomentar e preservar a cultura de afoxé e a cultura popular em Sergipe. Vale destacar que o Escritório do MinC em Sergipe tem o papel de fazer articulação de políticas públicas estratégicas para a promoção do desenvolvimento cultural no estado. A Mangue Jornalismo conversou com ela sobre perspectivas e desafios para o setor cultural em Sergipe nos próximos anos. Confira:
Mangue Jornalismo (MJ) – Você está assumindo um cargo que tem uma importância crucial para os agentes culturais de Sergipe. Como foi esse processo e qual é a sua relação com a cultura sergipana?
Thiane Araújo (TA)- Acho que tem uma coisa de missão dos meus ancestrais. Sou filha de artista e minha estrutura de vida, minha e de minha família, é fruto da labuta artística e cultural do meu pai, o maestro laranjeirense Álvaro Araújo. Os primeiros contatos que tive com movimentos culturais e sociais foram segurando na barra da calça de meu pai por onde ele andava. Iniciei minha militância no movimento de esquerda em 2010, no Partido dos Trabalhadores (PT), e desde então venho atuando na produção cultural. Recebi a missão ancestral de conduzir o Bloco Afroreligioso Afoxé de Odé e junto a essa missão, várias parcerias dentro do seguimento com outros movimentos, o que me consolidou como ativista. Atualmente estou Secretária de Cultura do Partido dos Trabalhadores em Sergipe, participei ativamente da campanha para eleição do nosso Presidente Lula e do processo para retorno do Ministério da Cultura. Oficialmente, desde o dia 4 agosto, recebi, após indicação do meu líder, o Ministro Márcio Macedo, a missão de representar o Ministério da Cultura sem Sergipe.
MJ – No governo anterior, a cultura teve inúmeros cortes e um grande retrocesso, como o governo Lula e as assessorias estaduais estão lidando com a reconstrução das políticas públicas para a cultura e como você pensa esse cenário em Sergipe?
TA – Como bem disse o presidente Lula: vamos fazer uma revolução cultural nesse país! O Ministério da Cultura retorna com o maior investimento da história no setor cultural brasileiro, fortalecendo suas vinculadas e instituindo escritórios de representação em todos os estados da federação e ainda contaremos com os comitês de cultura para ajudar a democratizar ainda mais o acesso às políticas de cultura, de maneira que formaremos uma grande rede de fomento cultural para que ninguém mais ouse desmontar esse Ministério.
MJ – Sabemos que no Brasil, o acesso à cultura ainda é elitizado e que não é democratizado, esse é um desafio em Sergipe? Como buscar democratizar o acesso à cultura aqui no estado?
TA- É um desafio para todo o país e principalmente para Sergipe que é o menor estado da federação em tamanho, porém gigante em expressão cultural popular. O objetivo é formarmos uma grande rede de fomento cultural estabelecendo parcerias com o Governo do Estado, com as 75 prefeituras, com movimentos organizados e com as entidades culturais locais. Sinto muita dificuldade no que se refere à organização desses movimentos no que tange à burocracia. Vamos ajudar nesses processos com o escritório e com o comitê estadual que fará um trabalho de base contando com agentes culturais nos territórios. Outra urgência é fomentarmos o surgimento de novos pontões e pontos de cultura com certificação e reativarmos os existentes que resistiram ao desmonte dos últimos seis anos. A política de Base Comunitária do Plano Nacional Cultura Viva será uma grande aliada para o nosso Sergipe. O cenário que encontro é bem triste, porém, motivador porque estou muito disposta. Também precisamos reacender a prática de debater e propor políticas culturais em todos os territórios e fazer com que prefeituras, estado e governo federal estejam cada vez mais próximos do setor cultural.
MJ- Quais são os planos para o fomento da cultura em Sergipe? Há previsão de políticas públicas de longa duração e que abranja os municípios do interior que sentem dificuldade em se inscrever em editais e processos?
TA- Nesse momento as prioridades dos escritórios estaduais são: Realização das Conferências de Cultura; Execução da Lei Paulo Gustavo; Adesão ao Sistema Nacional de Cultura; Lei Aldir Blanc e Editais do Sistema MINC. Já existem políticas públicas de longa duração em andamento e um grande desafio é estabelecer uma metodologia de comunicação e assistência aos municípios, seja para as prefeituras, movimentos, grupos, entidades, no que tangem às políticas públicas de cultura e editais. Estamos nos organizando para isso. O comitê de cultura será um braço importante para a efetivação desse trabalho, já que teremos agentes culturais em todos os territórios para descentralização de informações.
MJ- A assessoria já fez um mapeamento sobre as questões mais urgentes da cultura sergipana? Como será esse processo e como os agentes podem solicitar auxílio e realizar denúncias?
TA – Estamos em processo de conclusão desse mapeamento. O que posso adiantar é que o cenário é desafiador. Sem dúvida alguma Sergipe é pura resistência. Foram anos sombrios. Assim como aconteceu no cenário federal, o setor cultural também perdeu força no estado. Secretarias municipais viraram pequenas diretorias dentro de outras secretarias, pontões e pontos de cultura desapareceram ou não resistiram, entidades culturais não conseguiram se manter sem aporte de recursos, o apagamento de informações a nível municipal do período onde o Ministério da Cultura ainda existia. Gritante mesmo é a não adesão ao Sistema Nacional de Cultura em suas fases, Conselho/Plano/Fundo. É um número bastante significativo de municípios, mas, estou otimista que iremos mudar isso.
O Escritório do Ministério da Cultura em Sergipe tem atendimento presencial com servidores para auxílio a gestores, entidades, artistas e fazedores de cultura. O contato pode ser feito pelo (79) 99855-8936 e pelo escritorio.se@cultura.gov.br.