A Mangue Jornalismo está completando apenas dois anos de existência. E o porquê do “apenas”? A grande maioria das pessoas que acompanham essa mídia jornalística profissional e independente em Sergipe tem a sensação de que a Mangue já tem muitos anos. Diante de tanto o que já foi feito aqui, fica mesmo essa impressão de mais tempo.
Nesse curto período, as atividades realizadas pela Mangue Jornalismo foram intensas, a começar pela publicação diária de reportagens no site. Foram mais de 700 matérias, a grande parte revelando dados e duras histórias que os veículos tradicionais locais, por suas vinculações políticas e econômicas, não divulgam e, se divulgam, blindam os atores políticos para que não sejam responsabilizados.
Para lembrar o aniversário de dois anos, que oficialmente foi dia 19 de abril, a Mangue Jornalismo vai realizar amanhã, terça, dia 29 de abril, um evento com três atividades: lançamento do livro “Borracha na cabeça”, debate crítico sobre o jornalismo no fim do mundo e escuta de sugestões de reportagens. Essa reunião será realizada a partir das 17 horas na Livraria Escariz, localizada na Avenida Jorge Amado, Jardins, em Aracaju.
“Todo muito que lê, acompanha, torce, apoia, ou seja, que participa de alguma forma da Mangue está convidado para celebrar com a gente esse marco de resistência e de teimosia importante: dois anos de um jornalismo de qualidade e verdadeiramente independente em Sergipe, dois anos de um jornalismo necessário. A equipe espera por esse abraço presencial de afeto”, disse Cristian Góes, repórter e editor na Mangue.
Lançamento em Aracaju de livro sobre ditadura em Sergipe

No finalzinho do ano passado, lembrando os 60 anos do golpe de 1964, o filme “Ainda estou aqui” e as comprovações da tentativa de golpe em 2022, a Mangue Jornalismo lançou na Universidade Federal de Sergipe (UFS), em São Cristóvão, o livro “Borracha na cabeça: o golpe e a ditadura militar em Sergipe”, um documento histórico, com quase 300 páginas de acontecimentos e personagens invisibilizados. Trata-se de um conjunto de provas que põe por terra a ideia de que não existiu ditadura em Sergipe. Existiu, foi violenta e continua impune.
Agora, o livro será lançado em Aracaju para lembrar os dois anos da Mangue Jornalismo, com disponibilização dos últimos exemplares. Grande parte da obra foi organizado pelos repórteres Cristian Góes, Ana Paula Rocha e Paulo Marques. Trata-se de um conjunto de reportagens publicadas quase semanalmente no site da Mangue, a partir do relatório final da Comissão Estadual da Verdade (CEV). O livro também conta com textos inéditos dos professores Rubens Marques (Dudu), José Vieira da Cruz, Maria Vitória e Fernando Sá. A apresentação do livro é dos professores Andréa Depieri e Gilson Reis, que organizaram o relatório final da CEV/SE.
“Importante destacar que optamos em começar a contar as histórias do golpe e da ditadura em Sergipe a partir do assassinato pela polícia do operário negro Anísio Dário, em 1947. Também revelamos que o Governo de Sergipe perseguiu, censurou e torturou jornalistas, operários e estudantes nos anos 1950. Ou seja, é um material que ajuda a perceber os antecedentes de 1964 e que vai além, revelando, por exemplo, a relação de camaradagem entre a ditadura e os empresários sergipanos na destruição de manguezais em Aracaju”, conta Ana Paula Rocha.
“O livro só foi impresso porque 150 pessoas contribuíram com a vaquinha coletiva organizada pela Mangue. “Mesmo com essa contribuição fundamental dos leitores, o projeto do livro não iria se concretizar. Foi aí que tivemos o apoio do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Básica do Estado de Sergipe (Sintese), da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe (Adufs) e do Sindicato do Fisco do Estado de Sergipe (Sindifisco)”, informa Paulo Marques.
Roda de conversa: jornalismo no fim do mundo
Além do lançamento do livro, o aniversário de dois anos da Mangue terá também uma roda de conversa com o tema: “Como é fazer jornalismo no fim do mundo?”. Trata-se de um debate público, mas para ajudar a refletir sobre as perguntas estão lá Demétrio Soster, professor de Jornalismo da UFS, e Talita Déda, professora de Jornalismo da Universidade Tiradentes. Ao final da fala dos dois, o público poderá participar apresentando contribuições ao debate.
Demétrio é doutor em jornalismo (2009) e pós-doutor (2016) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Pesquisa midiatização, narrativas, jornalismo e literatura e é professor de jornalismo do Departamento de Comunicação e dos programas de Pós-graduação em Comunicação e Ciências da Informação da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Organizou, com outros autores, 16 livros voltados à área de jornalismo, comunicação e narrativas. É autor de 13 livros literários divididos em poesia, narrativas de viagem e crônicas.
Talita é jornalista pela Universidade Tiradentes (2007) e mestra em Ciências da Comunicação com especialização em audiovisual e multimídia na Universidade do Minho (2010), Portugal. É professora e coordenadora pedagógica dos cursos de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda e Jornalismo Bacharelado da Universidade Tiradentes (Unit). Tem experiência em Comunicação Visual e Semiótica, Linguagem Cinematográfica e Produção e Direção de Imagem, Produção de Conteúdo e Novas Mídias, Jornalismo Online, Jornalismo Literário e Cultural e orienta projetos em pesquisas na área da Comunicação Social.
Reunião Pública de Pauta
A Mangue Jornalismo também vai aproveitar o evento dos dois anos de aniversário para iniciar mais uma nova ação inédita em Sergipe, a Reunião Pública de Pauta. “Geralmente os veículos de jornalismo sérios reúnem seus repórteres e realizam reuniões de pauta, discutem-se uma série de indicações de acontecimentos que podem se tornar ou não notícia ou reportagem. É uma reunião interna. Na Mangue, a gente faz isso, mas agora queremos que a audiência, o público também participe, apresentando sugestões de pauta”, disse Cristian Góes.
Durante todo evento de amanhã, o público poderá sugerir temas, trazer questões e propor investigações para a equipe da Mangue Jornalismo que estará lá. “É um momento rico de escuta, uma ação fundamental. Como diz nosso editor, na Mangue, o jornalismo começa na escuta e não na pergunta. É claro que não é uma escuta passiva, mas um diálogo, aí está o jornalismo”, esclarece Ana Paula. Vale registrar que sugerir pauta não deve gerar expectativa de publicação. “Vamos receber as sugestões, buscar outros dados e fontes, escutar os vários atores envolvidos, checar, checar e checar, ou seja, temos um processo sério de apuração antes de qualquer divulgação”, reforça Paulo Marques.
Depois da Reunião Pública de Pauta de amanhã, outras deverão ser realizadas ainda neste ano.
AGENDE-SE:
O QUÊ – Dois anos da Mangue Jornalismo: lançamento de livro, roda de conversa e reunião pública de pauta
QUANDO – Amanhã, dia 29, às 17 horas
ONDE – Livraria Escariz, Avenida Jorge Amado, Aracaju/SE