Toda nova gestão do Governo Estadual sempre inicia com o discurso de impulsionar o desenvolvimento industrial no estado de Sergipe e todos recorrem à mesma estratégia de tentar atrair indústrias existentes para aqui se instalar. Na propaganda oficial e midiática é enfatizado número de empregos diretos que gerará, bem como aqueles que existirão durante a fase de implantação. Para atraí-las, utiliza-se do mesmo modelo de oferecer infraestrutura e redução tributária.
“O lucro gerado através do trabalho do nosso povo e de nossos recursos naturais não fica em nosso Estado, sendo remetido aos sócios e acionistas de outros estados”
Promover a industrialização do Estado deveria ser realmente uma prioridade a fim de melhorar o nível da massa salarial de nosso povo e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida. Entretanto, o modelo aplicado traz em si um grave equívoco, uma vez que a maior riqueza gerada, que é o lucro gerado através do trabalho do nosso povo e de nossos recursos naturais, não fica em nosso Estado, sendo remetido aos sócios e acionistas de outros estados.
É absolutamente incompreensível que o Governo do Estado ainda se apegue à repetição de um modelo que não deu certo, deixando de trabalhar no sentido de estimular a criação de indústrias genuinamente sergipanas, que não só gerem empregos diretos e indiretos, mas também cujo resultado final da força de trabalho do nosso povo e dos nossos recursos naturais fique por aqui.
Estímulo estatal das cooperativas
A industrialização de Sergipe deveria ser feita através do estímulo estatal das cooperativas, em que o resultado da produção é partilhado diretamente pelos trabalhadores, gerando um aumento da renda e injetando mais dinheiro na economia local, gerando um ciclo virtuoso. Isso poderia ser feito através da coordenação das agências governamentais e com apoio financeiro e institucional do Banese, envolvendo as universidades e a sociedade civil organizada. O Estado seria um vetor desse crescimento através do modelo de cooperativas, gerando emprego, renda e uma cadeia produtiva genuinamente sergipana.
Ainda que se alegue contra o modelo cooperativista, afirmando se tratar de uma utopia de comunista, essa insurgência não faz qualquer sentido. Mas, ainda que houvesse, poderia se pensar no esforço de impulsionar uma classe industrial sergipana.
O modelo de importação das indústrias simplesmente não deu certo, tanto que até hoje todos repetem a mesma fórmula e o Estado continua sem possuir uma classe industrial forte. Além de exportar os lucros, que vão para os acionistas de fora, a falta de ligação social, histórica e afetiva com nosso estado faz com que exista uma fragilidade na manutenção dessas indústrias. Na primeira dificuldade as unidades aqui são as primeiras a sofrer cortes ou até mesmo são descontinuadas.
Exigências de um novo tempo
“Existem diversos exemplos de Indústrias Cooperativas que estão prosperando e, normalmente, onde isso acontece, há uma melhora sensível na qualidade de vida da população”
A cena de nossos governantes reunidos com empresários de outros Estados e visitando suas plantas industriais são movimentos repetidos há muito tempo e a situação efetivamente não se altera. Estado que se preocupa realmente e coloca a industrialização como objetivo deveria estabelecer um projeto para dar condições para o surgimento dessas indústrias, investir no nosso capital humano, custeando viagens de estudos, intercâmbios e treinamentos, por exemplo.
Mas não só isso, o Estado poderia utilizar o poder das compras governamentais para estimular a industrialização local, explorando diversas potencialidades. Existem, no país, diversos exemplos de Indústrias Cooperativas que estão prosperando e, normalmente, onde isso acontece, há uma melhora sensível na qualidade de vida da população de toda a região, pois o impacto ultrapassa em muito os postos diretos gerados, retornando em muito mais benefício para todos.
Uma coisa é certa: o que não dá é para repetir as mesmas práticas e acreditar que virão resultados diferentes. É necessário substituir o modelo simplista de atração de indústrias para nosso estado pelo fomento do surgimento de novas indústrias locais. O cooperativismo deveria ser o modelo implantado, coletivizando o fruto do trabalho e melhorando consideravelmente a condição de vida dos seus cooperados. A utilização de cooperativas aliada à utilização da priorização das compras governamentais pode ser o caminho para um novo momento em nosso Estado. Uma pena que olhando o horizonte só se vê mais do mesmo.
Vitor Lisboa é advogado, diretor- administrativo do instituto da advocacia de Sergipe e integrante da associação brasileira de juristas pela democracia
Respostas de 2
Parabéns Vitor, o cooperativismo é a solução, já dizia nosso pai LUIZ ALVES.
Parabéns, Vitor, artigo muito pertinente e esclarecedor para incentivar os governantes a trabalhar em pro do povo e não dar lucro a empresários de fora! Muito orgulho de você ????