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Emília deixa Funcaju sem titular, não realiza Projeto Verão e não anuncia nada para Cultura

Nada foi anunciado sobre a Cultura em Aracaju até agora (Crédito Ronald Almeida/Secom/PMA)

Depois de 21 dias da nova gestão da Prefeitura de Aracaju, a prefeita Emília Corrêa (PL) anunciou várias ações importantes. Ela esteve envolvida com as questões do transporte, do IPTU, da saúde, do lixo, da logomarca, das exonerações de cargos em comissão, do monitoramento das chuvas, entre outras.

Curiosamente, nenhuma ação foi registrada no campo da cultura. Até hoje a Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) continua sem titular. Lá, responde de forma interina e cumulativa Fábio Uchôa, secretário da Articulação Política, um técnico que veio do Ministério Público e sem qualquer vínculo com a cultura.

Na última semana, a prefeita tomou uma ação que confirma o “nada” na cultura. Ela cancelou o Projeto Verão, que não representa o todo cultural da cidade, mas já era alguma coisa no mar do “nada”. Apesar dos recursos apontados na Lei Orçamentária Anual 2025 (LOA), Emília alegou falta de dinheiro e informou que transferiu as ações do projeto para as comemorações do aniversário da cidade em março.

Durante campanha eleitoral, em entrevista para a Mangue Jornalismo, a então candidata Emília disse que “a cultura em Aracaju tem sido negligenciada nos últimos anos, com uma gestão marcada por falta de transparência, baixa participação dos artistas locais e cachês desrespeitosos. Esse cenário é inaceitável e precisa ser transformado urgentemente”. Entre outras ações, a então candidata indicou que quer instalar a Funcaju no Centro da cidade. Leia aqui a entrevista da Mangue com Emília em 26 de agosto do ano passado.

Para a vereadora Sônia Meire (PSOL), “Emília falta com a verdade em afirmar que não tem recurso. Nós aprovamos recurso para o Projeto Verão 2025, está na LOA. Além disso, ela pode utilizar até 30% do orçamento geral para priorizar ações diversas. No entanto, cultura parece não ser importante em seu projeto de governo. Nada de novo até porque seu ídolo Bozo acabou com o Ministério da Cultura em sua gestão e ela, até agora, está deixando a Funcaju adormecida”, disse Sônia.

A deputada estadual Linda Brasil (PSOL) considera o cancelamento do Projeto Verão 2025 pela prefeita um escândalo. “Alegar falta de recursos quando havia R$ 3,2 milhões destinados no orçamento para o evento é um insulto à inteligência da população de Aracaju. O dinheiro estava lá, pronto para ser usado. Então, o problema não é financeiro, é político. É a escolha deliberada de uma gestão que não valoriza a cultura e prefere apagar um evento que representa a pluralidade e a força da nossa cidade”, disse.

Ações do “Projeto Verão” só devem ocorrer em março (Crédito André Moreira/Secom/PMA)

Assim como a vereadora, Linda avalia que a decisão de Emília Corrêa “reflete o projeto bolsonarista que vê cultura como ameaça, não como investimento. O Projeto Verão é mais que uma festa. Mas nada disso importa para quem prefere sufocar iniciativas que trazem vida à cidade em nome de uma agenda retrógrada que rejeita tudo que é diverso, coletivo e popular”, avalia a deputada.

Zezito Oliveira, professor de História, realizador e militante cultural, disse esperar da parte da prefeita uma sinalização que aponte para muito diálogo, respeito e ações efetivas de apoio à Cultura, inclusive por meio das leis de fomento, como vem fazendo o Governo Federal. “Ela deveria aproveitar o fato das administrações anteriores não terem tido esse alcance de visão e surpreender. Infelizmente, não houve nenhuma sinalização. Não é desse jeito, da forma como a cultura está sendo tratada, sem um nome definitivo que tenha experiência no campo da cultura e um plano de trabalho consistente. Precisa agir, caso contrário fica igual ao mais do mesmo nas terras dos cajueiros e dos papagaios”.

Thiago Paulino, jornalista, professor e pesquisador na área da Cultura, lembrou que na campanha eleitoral, Emília e o candidato a vice-prefeito Ricardo Marques chegaram a conversar com alguns coletivos para abrir um diálogo em torno de propostas para a Cultura.

“Tenho expectativa de que esse diálogo não seja restrito ao período eleitoral. Espero que continue e se reverta em ações concretas, como a formulação de um Fundo Municipal de Cultura que dê sustentação a um Plano de Cultura. Outra demanda reprimida é a criação e manutenção de equipamentos culturais que ajudem a formar técnicos, artistas e outros espaços que auxiliem na formação de público”, aponta Paulino.

Historicamente, prefeitura sempre “confundiu” cultura com evento (Crédito: Sílvio Rocha/Arquivo/PMA)

Prefeitura não pode continuar com o vício de tratar a cultura como eventos

Paulino lamenta a existência de um “vício de várias gestões da Prefeitura de Aracaju de tratar a pasta da Cultura pela ótica dos eventos, deixando somente a parte da formação para a Escola Valdice Teles, que é insuficiente para toda a potencialidade criativa do cenário aracajuano”.

Ele acredita que ainda é cedo para fazer julgamento com uma equipe que ainda está se familiarizando com a máquina do poder público, “mas o início de diálogo com os diversos coletivos, arte-educadores, artistas e técnicos é urgente. A cultura, além de movimentar muito a economia, é importantíssima para uma cidadania mais ativa diante da vida na cidade”, defendeu.

Roque Sousa, músico e produtor cultural, afirma que a falta de qualquer ação da nova gestão da Prefeitura de Aracaju nesses 15 dias já era prevista. “Infelizmente, não é de se esperar muito de uma gestão de extrema-direita, abertamente bolsonarista, no que diz respeito à cultura de Aracaju”, avalia.

Para o músico, “desde o início da campanha eleitoral, não apresentaram um projeto sério para o setor cultural, que incluísse políticas públicas voltadas ao fomento da produção, à circulação e à formação de público. Não houve iniciativas para revitalizar os equipamentos culturais da cidade ou reformular a Funcaju, com a realização de concursos públicos para atrair técnicos e especialistas em gestão e políticas culturais. Isso já ficou claro durante a campanha de Emília e agora se confirma, passados 15 dias da nova gestão, com a nomeação improvisada do secretário de Articulação Política para a pasta da Cultura”, afirma Roque.

Coletivo de Música Sergipana diz que até agora prefeita não faz diferente dos demais

Integrantes do Coletivo de Música Sergipana (Comus) também externaram, por nota, a contrariedade com a falta de ação da prefeita de Aracaju com a cultura. “A pasta continua subordinada à secretaria municipal de Articulação Política, sem que nenhum diálogo tenha sido aberto com setores da cultura e seus representantes. É importante destacar desde já que dialogar com uma categoria, em sua diversidade, não é a mesma coisa que dialogar com indivíduos que têm determinados acessos e interesses políticos particulares. Para nós, essa situação apenas reforça o descaso que sofremos há muitas gestões”, afirmam.

Para o Comus, desde o início do mandato, a prefeita Emília Corrêa não tem demonstrado fazer diferença alguma. “Ela segue bem na contramão do discurso que deu o tom de toda a sua campanha. Ela não parece estar tão ‘fora do sistemão’ assim, muito pelo contrário, e basta considerar as figuras nomeadas por ela para chegar a essa conclusão”, declarou o coletivo.

Os músicos contam que é notório que a relação entre a gestão municipal de Aracaju e eles, que são parte de uma diversa comunidade de trabalhadoras e trabalhadores da cultura, já vinha desgastada há muitos anos. “Esse desgaste histórico atingiu um novo clímax no ano passado diante da má condução da Lei Paulo Gustavo (LPG). E se já nos sentíamos no escuro na gestão anterior, agora mais ainda, sem qualquer tipo de representação indicada ou estimativa de que isso vá acontecer”, reforçaram os músicos.

O coletivo de música lamenta que não haja qualquer informação sobre o orçamento para a cultura, pauta que é basilar para qualquer tipo de projeto e política pública. “Observando nossa história, não temos boas expectativas, pois, mais uma vez, nos encontramos diante de uma gestão que não dialoga, não se coloca como servidora pública, não percebe a cultura como uma área ‘tão digna de atenção assim’. E não é por falta de participação política da comunidade, pois sindicatos, coletivos, fóruns e outras organizações populares representativas dos setores da cultura atuam politicamente em Aracaju”, avalia.

“Será que é por falta de nomes, de “gente qualificada”? Com certeza não é o caso. Agora, se a gestora não conhece de fato quem faz a cultura de sua cidade, não é de se surpreender que os próximos quatro anos perpetuem o descaso para com os/as/es fazedores de cultura, a ausência e/ou má condução de políticas públicas para a cultura na capital sergipana”, encerra a nota do Comus.

Prefeita vai criar a Secretaria Municipal de Cultura

Em nota, a gestão municipal liderada pela prefeita Emília Corrêa informou que fará uma reforma administrativa e dentro dela está a criação da Secretaria Municipal de Cultura. “Atualmente, a Funcaju tem o secretário Fábio Uchôa como interino e está dialogando com o setor cultural”, informa.

A prefeita Emília Corrêa, segundo a nota, instituiu ontem uma comissão para os 170 anos de Aracaju, que será comemorado em março, e uma das metas é levar a cultura para diversas regiões da cidade. “A gestão tem priorizado o diálogo com os que fazem a cultura aracajuana”, insiste a nota. “Um dos compromissos do programa de governo da prefeita Emília Corrêa é fortalecer a cultura e os artistas de Aracaju e ela vai persistir nesse caminho”, garante a prefeitura.

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