Ontem, 1 de janeiro de 2025, a bolsonarista Emília Corrêa (PL) tomou posse como primeira prefeita da história de Aracaju. O evento público, transmitido pela TV Câmara de Vereadores da cidade, transformou-se em um ato que misturou promoção pessoal, palanque de campanha eleitoral e culto religioso, bem longe do pronunciamento de uma gestora que vai precisar lidar com todos os públicos e em um estado laico.
Nesse ato político-religioso de posse realizado no Teatro Tobias Barreto também foram empossados o vice-prefeito, Ricardo Marques (Cidadania) e os 26 vereadores da capital. O então prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) não apareceu. O governador Fábio Mitidieri (PSD) também não esteve presente.
Na ocasião, foi oficializada a eleição na nova gestão da Câmara, tendo o vereador Ricardo Vasconcelos (PSD) homologado como presidente, recebendo 24 dos 26 votos. A escolha já tinha sido acertada nos bastidores bem antes da posse e da suposta “eleição” de ontem.
A presença da bolsonarista Moana Valadares (PL) na chapa vencedora da gestão da Câmara, obrigou a abstenção dos vereadores do PSOL, Sônia Meire e Iran Barbosa. Ao registrar publicamente o voto, os dois vereadores de oposição foram vaiados por parte do público que estava na solenidade e parecia estar em um comício.
A Mangue Jornalismo mostrou em reportagem no dia 8 de outubro do ano passado que Aracaju elegeu uma Câmara de Vereadores mais conservadora, com muitos eleitos ou reeleitos alinhados à extrema-direita. Leia aqui.
“Aracaju, eis-me aqui. Toda a glória a Deus”
A prefeita bolsonarista Emília Corrêa leu um discurso de posse e poucas vezes saiu do roteiro. Ele encerrou aos gritos para um teatro lotado: “Aracaju, eis-me aqui. Aracaju, eis-me aqui. Toda a glória a Deus”. Essa invocação religiosa deu um tom de grande parte de sua fala de posse como a primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita da capital.
Ele começou afirmando que “com as bênçãos de Deus, assumo o compromisso de cuidar das pessoas que aqui moram”. Emília usou grande parte do tempo para contar a sua história, desde a saída da cidade de Lagarto para Aracaju. Ela é filha de comerciantes bem estabelecidos naquele município.
Contou que fez o curso de Direito em uma faculdade privada em Aracaju, tratou da família, do ingresso na Defensoria Pública e dos programas em emissoras de rádio e tv. “Eu enfrentei todas as dificuldades do mundo, inclusive e principalmente financeiras”, afirmou.
Emília disse que ingressou na política partidária no ano de 2012 seguindo um conselho do seu pai e o convite do ex-governador João Alves Filho. “Participando de eleições, sempre entregava o meu futuro a Deus, confiando em seus planos para minha vida”, disse.
No discurso, ela revelou que na campanha para a Prefeitura de Aracaju no ano passado, muitas vezes, deparava-se “sozinha com Deus. Nas minhas orações, eu me consagrava à missão que Ele teria para mim, que Ele tem para mim”, disse Emília.
A prefeita afirmou que “não imaginava o que estaria por vir (na campanha), o que Deus realmente queria para mim, mas tinha certeza que Ele tinha me levado naquele momento e que não abandonaria a sua filha. Com uma força inexplicável que Ele me concedia, tomamos as ruas. Foi uma campanha linda, limpa, vibrante, verdadeira, uma onda azul da esperança que invadia os lares da nossa capital”, contou.
Sinal do céu e exército de intercessores que oravam sem parar
Emília agradeceu a presença de crianças em sua campanha. “Elas vinham naturalmente em minha direção e eu olhava para o céu e dizia: é um sinal de Jesus, porque Jesus atraia as crianças… e quem sou eu? Aí eu sentia um sinal do céu… só Deus sabe o quanto esses gestos me renovavam a cada dia”, revelou a prefeita.
Além de crianças e idosos, ela também disse que contou com um “exército” de intercessores que oravam sem parar por ela. “Pessoas de oração, cristãos de oração, que oravam por mim sem cessar. Essa foi a força de tudo. Foram milhares de cristão orando, intercedendo, casas, igrejas, orando por nossa proteção contra tantos ataques e como essas orações foram importantes. Muito obrigado aos homens e mulheres de Deus, aos homens e mulheres de fé”, reforçou.
Segundo a prefeita, foi Deus quem a fez chegar onde chegou e por isso Ele irá lhe “capacitar” todos os dias, “iluminar a nossa equipe, construir uma Aracaju mais justa e acolhedora. Com a orientação do meu Deus, eu buscarei sempre o melhor para vocês”, informou ela para a plateia, alguns respondiam com Aleluia.
No discurso, Emília revelou a oração que fazia todos os dias na campanha: “Eu orava: Deus, não me deixe chegar se não for para melhorar a vida das pessoas. Eu não orava para ganhar a eleição, eu orava para isso que vocês estão ouvindo”.
A prefeita disse que espera, com sua trajetória, inspirar outras pessoas, especialmente mulheres, “a acreditar no poder da fé e do serviço ao próximo. Mais na frente, quando eu não estiver mais no plano terrestre, quando alguém falar de Emília como a primeira prefeita de Aracaju, não quero ser lembrada apenas como a melhor gestora da cidade, quero me tornar conhecida como uma mulher de fé. É desse jeito”, pediu.
Emília falou como se ainda estivesse no palanque
O discurso de posse da prefeita também mostrou que o palanque eleitoral ainda está montado e vivo. “O povo de Aracaju vinha demonstrando seu desejo pela mudança pois estava cansado de um modelo de gestão que perdurava 16 anos sem nenhuma eficiência”, disse.
Emília afirmou que enfrentou uma “eleição dura e difícil, cheia de ataques à honra, à imagem, à pessoa, à profissional da Emília. Mas foi neutralizada pelo amor do povo de Aracaju. As pessoas, dos outros grupos, não tinham o menor pudor de inventar mentiras terríveis como se verdades fossem. Foi um capítulo de abuso de poder político, econômico… foram todos contra uma, um sistemão que se uniu para derrotar Emília Corrêa”, afirmou a prefeita.
Ela fez um chamado aos vereadores: “se quiserem construir uma nova Aracaju, vamos comigo. É hora de acelerar porque a gestão deixou a cidade aí… só nos últimos tempos um lixão e que nós estamos limpando, que nós vamos limpar”, afirmou.
“Aracaju, tentaram de tudo, mas não conseguiram. Aracaju, não teve poder econômico, não teve poder político, não teve mentira que colasse. Deus e o povo reestabeleceram a ordem. É desse jeito”, festejou em oração.
Plantio de mudas e posse do secretariado
Hoje, às 7 horas, a prefeita Emília Corrêa e vice-prefeito Ricardo Marques vão fazer o plantio de mudas que, segundo eles, vai simbolizar o compromisso com os aracajuanos por uma cidade sustentável. “O objetivo é reforçar o posicionamento da nova Aracaju com o enfrentamento a mudanças climáticas, sendo a ampliação das áreas verdes urbanas uma das principais metas da nova gestão”, informou a assessoria. O ato contará com 30 mudas que serão plantadas, entre elas Cajueiros, Pau-Brasil, Canafístulas, Sibipirunas, Farinha Seca, Paineiras e Craibeiras.
Os secretários, secretárias e os gestores da administração indireta do município de Aracaju serão empossados também hoje às 10 horas no Teatro Atheneu. Ao todo, serão 16 secretários e gestores que comporão a equipe da administração direta e indireta municipal.
