CRISTIAN GÓES, da Mangue Jornalismo
Na manhã de ontem, dia 14, um ato público reuniu centenas de trabalhadoras e trabalhadores da Companhia de Saneamento de Sergipe (Deso) em frente à Câmara de Vereadores de Aracaju.
“Foi um dia histórico, muito importante na luta contra a privatização da Deso, porque saímos daqui com o apoio total dos vereadores à nossa luta”, disse Silvio Sá, presidente do Sindisan, sindicato que congrega os empregados em saneamento básico de Sergipe.
O governador Fábio Mitidieri (PSD) finaliza o processo de privatização da Deso, uma concessão à iniciativa privada de parte dos seus serviços por 35 anos. Um dos primeiros efeitos da venda da Deso é a possibilidade de demissão de cerca de 1000 trabalhadores.
O presidente da Câmara de Vereadores, Ricardo Vasconcelos (Rede), autor do requerimento para que o Sindisan ocupasse o espaço da tribuna, enfatizou que apesar de ser aliado de Fábio Mitidieri, entende que ele está equivocado quanto à privatização dos serviços da Deso.
Sobre o tema, a Mangue Jornalismo entrevistou o senador Rogério Carvalho (PT) que também esteve no ato público. Ele votou contra o Marco Legal do Saneamento Básico durante o Governo Bolsonaro, que facilitou a privatização das empresas de água e esgoto. Rogério também discutiu sobre a Deso no ano passado quando foi candidato ao Governo de Sergipe.
Segue os principais trechos da entrevista.
Mangue Jornalismo (MJ) – O Senado Federal aprovou em 2020 o Projeto de Lei 4162/2019, conhecido como Marco Legal do Saneamento Básico. O senhor votou contra. É exatamente essa legislação que vem do Governo Bolsonaro que garante a privatização da água. É isso?
Rogério Carvalho (RC) – Lembro que na época produziram muita fake news e espalharam pelo Brasil inteiro me acusando de que eu era contra levar a água para todos, que eu era contra o povo ter água potável e esgoto tratado. E o porquê disso? Porque eu votei contra esse marco regulatório que está aí e favorece à privatização. Fui um dos articuladores, junto com o Sindisan, para tentar reverter os malefício que estavam no marco regulatório, tentar que parte fosse vetada, mas isso não aconteceu, o ex-presidente não vetou e o que ficou é essa ideia de que a gente só vai ter água e esgoto tratados se houve privatização. Isso é uma grande mentira.
MJ – Até porque tem ocorrido exatamente o contrário, ou seja, existem movimentos para reverter privatizações porque elas fracassaram.
RC – Sim, o mundo inteiro está desprivatizando as empresas, principalmente as de serviços essenciais. Assim, não é possível um estado como Sergipe conceber um sistema privado de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto. Quando você separa em pequenos pedaços esse processo geral, só uma empresa pública pode dar conta disso, porque ela não vai focar em cada pequeno pedaço para dizer se está dando lucro ou se está dando prejuízo. O serviço público vai fazer o subsídio cruzado que é fundamental para levar água e esgoto para todas as sergipanas e sergipanos.
MJ – O que a privatização da água, que é um bem essencial, um direito humano fundamental, representa para Sergipe?
RC – A privatização da Deso é, acima de tudo, um atentado contra o povo sergipano. Privatização da Deso é deixar os pequenos municípios e as periferias das grandes cidades sem água e sem esgoto tratado. A privatização da Deso só interessa a quem quer fazer caixa e colocar o dinheiro na conta única do governo e receber outro cheque em branco.
MJ – A maioria dos deputados estaduais já deu o primeiro cheque em branco para o governador Fábio Mitidieri (PSD).
RC – Infelizmente. A Assembleia Legislativa deu um cheque em branco, inclusive dizendo: ‘venda a Deso e faça que quiser’. Olhe, quem quiser que assuma as suas posições, mas nós, que somos forjados na luta, que temos consciência e responsabilidade social, não podemos concordar com a privatização desta empresa.
MJ – Parece que os empregados da Deso têm um projeto completo que evita a privatização e ainda universaliza água e esgoto em todo estado. O senhor tem conhecimento?
RC – Sim, claro. Quando fui candidato, estive no Sindisan e a gente recebeu um projeto dos empregados da companhia que garante água potável e esgoto tratado para todas e todos os sergipanos. Era um plano estratégico feito pela própria companhia. Sergipe não terá água tratada e coleta e tratamento de esgoto para todos se não tiver uma empresa forte, pública e com investimento público para resolver as demandas de água e esgoto para todos.
MJ – Mas o governador de Sergipe preferiu contratar estudos para justificar a privatização.
RC – Pois é, existem dois estudos que o Governo do Estado contratou. Um dizendo que tem que privatizar e tem outro estudo técnico dizendo que se a Deso for privatizada não vai atender a demanda de levar a água potável e coleta de esgoto para todas sergipanas e sergipanos.
MJ – E como se faz para impedir que a Deso seja vendida?
RC – Só tem um jeito de barra isso, a luta, a militância, as pessoas nas ruas. E precisamos focar em quem quer vender a companhia, privatizar a água. E só tem um foco. Quem está encaminhado a privatização da Deso é o governador Fábio Mitidieri. Esse é o nosso adversário. Quem está colocando a Deso à venda é o governador de Sergipe. O adversário não é outro que não seja Fábio Mitidieri. É ele quem quer acabar com a Deso. Este é o foco. Ele é o responsável e a vontade dele vem para acabar com a Deso. O governador Fábio Mitidieri quer que o povo se submeta às suas vontades e aos seus caprichos. Isso não vai acontecer. A Deso é do povo de Sergipe.